Autofagia virtual

Há dez anos atrás quando a Internet começou a fazer mais sucesso e quando naqueles idos as telas dos computadores eram de quatorze polegadas, nos divertíamos pesquisando, vendo sites que piscavam luzinhas divertidas, e tudo parecia novinho em folha. Não existiam celulares com câmeras, nem redes sociais. Banda larga então? Só para os super riquinhos. Nós os super pobrinhos nos deliciávamos com as migalhas da Internet discada. Mas isso não alterava o nosso humor, pelo menos não para pior. Naquele tempo, marcar um encontro pela Internet era dar um tiro no escuro, afinal, a maneira de conhecermos outras pessoas na rede era pelas geriátricas salas de bate papo, e nossos encontros eram às cegas, já que ninguém tinha câmera digital, webcam ou nenhuma dessas geringonças que hoje não sabemos viver sem. Relatávamos nossos perfis (idade, altura, peso, cor dos olhos, profissão) sempre fazendo um superfaturamento das nossas imagens e empurrando para baixo do tapete nossos defeitos congênitos. E assim íamos aos encontros, paladinos destemidos, armados com a cara e a coragem, torcendo para aparecer uma coisinha mais ou menos que valesse a pena o sacrifício. E em meio a beldades e trambolhos fazíamos nossos esquemas. Só que a Internet mudou, e muitas das intenções também. Golpes ficaram mais freqüentes, fakes parecem brotar do chão nas redes sociais e a canalhice de alguns colocam muito a perder. Há alguns anos atrás, o medo maior que se tinha ao utilizar a Internet eram os crimes cibernéticos. Hoje continua sendo, só que junto com o cracker veio outro algoz. O phisher. Este que utiliza da engenharia social para promover a balbúrdia, os infortúnios alheios e a dor. É o mesmo subtipo de marginal que aliciou a moça de Lorena no interior de São Paulo, obrigando-a a subir na moto e levando-a para um lugar ermo onde ali mesmo consumou seu ato libidinoso, estuprando a mulher. Versão século vinte um de Francisco de Assis Pereira. O que mudou não foi a Internet, e sim o que ela causou na mente de uma corja desenfreada, que se acham acima do bem e do mal. A liberdade de expressão veio acompanhada com uma liberdade de punição, algo indecente, imoral e bossal. Ah, bons tempos aqueles quando nos víamos de frente com os dragões travestidos de pele de ovelha, tudo que tínhamos que fazer, era sair à francesa, fazendo de conta que nem estávamos ali. E partir para o próximo chat. Bons tempos.

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