O Funk e a decadência brasileira

Uma crônica sobre o estilo musical que tomou conta do país.

A certeza imaginária

Uma reflexão sobre os comportamentos de quem encontrou a pessoa certa.

Magnólia

Três histórias surpreendentes em que todas acontecem no Edifício Magnólia no Rio de Janeiro.

Pais e Filhos

Um retrato de quem passou para a fase adulta sem esquecer dos valores de infância.

Dormindo com o inimigo

A violência contra a mulher é o tema principal deste artigo.

Someday

Algum dia, antes do final eu ainda volto. E quando voltar, eu vou de novo andar pela Avenida Afonso Pena em Belo Horizonte e dar uma volta no Shopping Eldorado. Vou de novo de ônibus de Goiânia a Brasília só para ver as luzes do Conjunto Nacional e depois andar pelo Eixo Monumental para ver a decoração de natal, comprar de novo um DVD no Alameda Shopping e jantar no Xique-Xique, aquele restaurante ótimo da Asa Norte e em seguida dormir no Olimpus Hotel. Quando eu voltar, eu vou ver dar meia noite na rua AR-1 no bairro do Aruanã II em Goiânia, ouvindo Alanis Morissette cantar "Ironic" enquanto uma estrela cadente risca o céu. E depois vou jogar bilhar com meu tio para em seguida cortarmos a cidade naquela moto azul dele. Eu vou sair numa segunda-feira de manhã fria e chuvosa e vou entrar num ônibus lotado que vai do Socorro ao Largo São Francisco em São Paulo e vou ficar bem no centro da articulação, lendo o livro Mente Assassina (P. D. James) e ouvindo ao mesmo tempo a britânica Dido cantar "Slide" num aparelho de MP3 e depois me molhar na chuva quando eu descer na Vinte e Três de Maio, no bairro da Liberdade. Quando eu voltar, eu vou de novo dormir no Hotel Filadélfia no quarto trezentos e treze com alguém que eu ame e depois vou ver os aviões aterrisarem no Aeroporto de Congonhas, lá em cima, da garagem do Shopping Ibirapuera. Eu vou comprar uma pipa em Taguatinga, vou ver o dia amanhecer em Frutal e vou jantar uma tábua de frios com vinho no restaurante Mezalluna em Goiânia. Vou ver a festa de final de ano na Bahia outra vez. Vou ouvir uma rádio AM em Uberlândia porque meu walk-man caiu e não pega mais FM. Antes que acabe eu vou de novo ver todos os meus amigos, os que já se foram e os que ainda são. Eu vou dar um abraço na minha amiga Marie Burke, quando ela estiver usando aquela camiseta vermelha horrível do Vila Nova. E vou comer os bolinhos de chuva com chá mate da minha mãe num domingo chuvoso às quatro da tarde, para depois dormir no colo da minha avó ouvindo as histórias dela. Eu vou dormir tarde gravando músicas que só passam de madrugada na rádio. Vou tomar um porre com o Ricardo numa virada de ano na casa dele. Vou caminhar pela pista de cooper perto do estádio Serra Dourada e depois vou ficar sentado, só olhando o sol se pôr enquanto eu empino um avião de isopor que minha mãe comprou pra mim na feirinha de sábado. E depois, eu vou esquecer que eu cresci, e vou voltar a ser criança e tomar Pepsi naquelas garrafinhas com tampa de metal, comendo bolacha waffle que meu pai comprou pra mim. Vou ler uma história do meu livro de português da segunda série e depois vou dormir das três às cinco da tarde porque minha mãe está mandando. Eu não quero dormir agora, mas se o sonho estiver bom, por favor não me faça acordar, me deixe sonhar.

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