O Funk e a decadência brasileira

Uma crônica sobre o estilo musical que tomou conta do país.

A certeza imaginária

Uma reflexão sobre os comportamentos de quem encontrou a pessoa certa.

Magnólia

Três histórias surpreendentes em que todas acontecem no Edifício Magnólia no Rio de Janeiro.

Pais e Filhos

Um retrato de quem passou para a fase adulta sem esquecer dos valores de infância.

Dormindo com o inimigo

A violência contra a mulher é o tema principal deste artigo.

A mensagem

Avenida Interlagos. São Paulo. Domingo. Sete horas da noite. Alexandre está nervoso. Acabou de brigar com Ana, a mulher que ama. Ela vê um recado no Facebook do homem com quem pretende se casar e não consegue segurar a emoção. Diz coisas que jamais diria em outra situação e sabe que vai se arrepender disso. Algumas coisas devem ser faladas no calor da emoção. Alexandre não entende: como aquela mulher que está com ele há três anos pode duvidar de um recado assim tão infantil, que nada representa para ele, uma vez que apenas Ana existe na sua vida? Será que ela não o conhece tempo o bastante para saber que nada daquilo é real? Que nada daquilo tem a ver com ele? Os vizinhos reclamam do barulho, Ana fala alto, incomoda os que estão por perto, acha que Alexandre, seu noivo está tendo um caso, e ela não sabe direito o que diz. Diz coisas que em juízo perfeito não diria, sabe que deve agir com a razão neste momento, mas às vezes a emoção solapa a razão. Então ela diz que não quer mais, que não acredita nele, e que não quer mais nada com o homem que há três anos é fiel e não consegue ver nenhuma outra mulher que não seja ela. A Ana, a mulher da sua vida. E num rompante, ela o manda sair de seu apartamento, e: “vá ficar com a sua linda Bia, que está com saudades de você”. Bate a porta com força e chora. Um choro doído, de quem se sente traída e abandonada, por causa de uma simples mensagem. Alexandre sai sem entender direito o que aconteceu. Como uma ironia do destino seu celular toca. O número é desconhecido e ele não sabe com quem irá falar. Atende. Para sua surpresa é Beatrix, que liga, fazendo as perguntas de praxe de quem não fala com outra pessoa há tempos. Alexandre conversa normal, tentando não demonstrar a raiva que está sentindo por ser tratado assim pela namorada. Tenta ser gentil, e pede para conversar outra hora, “este não é um bom momento”, e ela pergunta se pode fazer alguma coisa para ajudar. Não, ela não pode fazer nada. Alexandre chega em casa, sai do carro, e abre o portão, ao mesmo tempo que vê outro carro chegar. É Beatrix, que salta, num vestido curto, disposta a tentar de tudo para ter seu antigo namorado de volta. E num movimento rápido parte para cima do homem que amou um dia e que irá fazer de tudo para reconquistá-lo, mas para sua surpresa, ele declina, Alexandre ama outra pessoa e não será uma briga que o irá fazer mudar de ideia. Então, quando percebe que está perdendo, utiliza a arma mais poderosa de uma mulher: a sedução. Se insinua, se joga, puxa ainda mais seu vestido curto e morde o pescoço de Alexandre. Mas ele não quer, não vai se deixar levar por aquela mulher barata e leviana que está em sua frente. Tem motivos para fazer isso, afinal, Ana não percebe o homem que tem. O homem que fez planos durante três anos e que ela não vê isso. Mas coração é algo complicado. Ele sente que não deve ceder às tentações da carne e num gesto brusco e agressivo, empurra aquela mulher que, se ele fosse com outra pessoa, estaria em sua cama agora, dando motivos para sua namorada brigar e fazer o escarcéu que fez. Mas Alexandre não é assim. Ele sabe que amor é outra coisa, e que assim que passar o torvelinho, ele irá se entender com Ana. As pessoas são assim: estúpidas. Beatrix está arrasada, não sabe o que fazer, e numa reação típica das pessoas que não sabem o que fazer, foge. Entra no seu carro e vai embora. Mas isso não vai ficar assim. Domingo. Onze da noite. Ana ouve seu telefone celular tocar, e não quer atender. Sabe que é o namorado tentando se retratar, mas espera! Não conhece o número. Atende. Uma voz de mulher a surpreende: “Ana?” a voz pergunta, e ela confirma. “Você não me conhece, meu nome é Beatrix, a Bia que deixou um recado no Facebook do Alexandre, não desliga! Preciso conversar com você. Eu gosto desse cara, eu acabei de vir da casa dele agora. Olha, eu tentei de tudo para ficar com aquele homem, me joguei praticamente em cima dele, e sabe o que aconteceu? Nada! Esse homem ama você. Não se encontra mais homens assim, fiéis. Então só tenho uma coisa a dizer: ‘deixa de ser imatura e dê valor ao homem que ama você. Ele me contou da briga de vocês por causa da minha mensagem. Eu estava afim sim, mas ele não. Toma cuidado garota, você pode estar perdendo alguém que ama você de verdade. É só isso. Tchau”. Ana ouve o som da ligação terminada. Deixa o telefone cair sobre o carpete, e se deita em posição fetal, chorando, como nunca chorou na vida. Mas o que ela estava pensando? Afinal, nem todos os homens são iguais. Será que neste tempo todo ela não percebeu que Alexandre realmente a ama e jamais iria deixar ninguém interferir nisso? Não. Ela não pensou isso. Está tão acostumada a ver homens traírem e serem infiéis que simplesmente não acredita que seu namorado poderia ser diferente. Ela precisa fazer alguma coisa. E rápido! Se veste, tentando parecer não menos que uma mulher arrependida, e que tem agora os olhos vermelhos e inchados. Pega o carro e dirige rápido. Avenida Rio Bonito. São Paulo. Noite. Alexandre ouve a campainha tocar e sabe que não irá atender. Ainda mais agora que chora de maneira descontrolada, tentando entender porque Ana não entende que ele a ama de verdade. A campainha insiste e pela janela ele a vê no portão. Ele vai até lá. Ana pede desculpas pelo que fez. Alexandre não aceita. Está nervoso, revoltado. Ela se lança ao seu pescoço, mas ele a afasta. “Porquê?”, ele pergunta. “Me desculpe, por favor” ela diz, com as lágrimas já aflorando pelo rosto ainda inchado. “Acha que eu poderia mesmo fazer isso com você? Poxa, cara, eu te amo você não percebe isso?”. “Eu percebo, eu só estava furiosa”, ela responde. “Me perdoe, por favor, não sei onde estava com a cabeça e acabei falando demais, me perdoa”. É claro que Alexandre irá perdoar, afinal, é a mulher que ele ama e pretende passar a vida toda ao seu lado. E assim, os dois se misturam numa solução saliva de beijo, amor e paixão. Ana guarda seu carro na garagem de Alexandre. Não irá voltar para casa esta noite. Nem nas próximas amontoadas no futuro. As pessoas são assim: estúpidas.

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