O funk e a decadência brasileira

O movimento funk é antigo, mas ainda me surpreende. Por onde quer que esteja é possível ver meninos, isso mesmo, meninos, muitos em corpo de homem ostentando suas correntes sejam douradas ou prateadas, os terríveis bonés que cobrem as orelhas e os já tradicionais braços cruzados com as mãos abertas debaixo das axilas, numa demonstração de “quem manda aqui sou eu”.
Viro uma esquina próxima da minha casa onde as meninas, se aglomeram próximas de um carro com o som em último volume, onde nas noites de sábado e domingo o “pancadão” rola solto, irritando vizinhos, evangélicos e caretas em geral. Mas elas não se incomodam, continuam rebolando suas curvas, muitas bem feitas, em shorts curtíssimos e calças apertadas com tanta força que parecem ter sido fechadas a vácuo, enquanto eles ainda estão na posição de senhorio, com roupas folgadas e tétricas, talvez num modo de esconder sua excitação por ver tantos movimentos lascivos do sexo oposto.
Entro no trem e as chances de haver ali alguém com o celular ligado tocando funk “proibidão” são de quase cem por cento. Pouco adianta olhar torto e fazer cara de poucos amigos para eles. O volume não irá abaixar, as pessoas ao redor continuarão desconfortáveis e minha leitura vai ter que esperar, já que é impossível se concentrar ouvindo os gemidos e sussurros insinuantes que saem dos alto-falantes dos aparelhos.
O estilo musical que começou nos Estados Unidos, ganhou o Brasil como uma maneira de expor toda a sensualidade que antes ficava dentro do armário e arrastou multidões. Seja pela letra apelativa com um palavreado completamente chulo, muitas vezes fazendo apologia à violência ou talvez apenas como um chamariz para o sexo completamente descompromissado com o maior número de pessoas que talvez eles mesmo sequer sabem o nome.
O funk rompe barreiras, mas ainda não venceu a maior de todas: a do preconceito. E parece ser isso que suas letras tentam combater. Mostrar que ser preconceituoso contra a ignorância alheia está fora de moda hoje. A alguns anos atrás conversando com um funkeiro  questionei o que ele dizia para uma menina que ele tivesse se interessado num dos pancadões que frequenta. Perguntei: “o que você diz depois de falar o seu nome”, ao que ele me respondeu “a gente não fala nada não, a gente já chega e pega logo”.
Chegamos talvez ao auge da degradação moral, à falta de valores, uma descida que parece não ter mais fim. Ao que me pergunto: o que é o funk proibido? Sexo explícito em alto-falantes e fones de ouvido, crime, cultura ou a falta dela?

2 comentários:

Esse texto nos faz ver pra onde estamos indo, mesmo sem querermos estar envolvidos nessa realidade, e infelizmente estou a ouvir esse estilo musical sem ter a menor escolha do contrario...J

Primeiramente eles erram em dizer que temos preconceito. Na verdade o que se tem é um PÓSconceito, pois não precisa ser um genio para ver a total falta de bom senso e respeito pela liberdade alheia. Antigamente não tinhamos os recursos que temos hoje e a sensura boicotava até as grandes idéias, hoje temos tudo pra fazer e ouvir boa música e o que se ouve é esse lixo.

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