O Funk e a decadência brasileira

Uma crônica sobre o estilo musical que tomou conta do país.

A certeza imaginária

Uma reflexão sobre os comportamentos de quem encontrou a pessoa certa.

Magnólia

Três histórias surpreendentes em que todas acontecem no Edifício Magnólia no Rio de Janeiro.

Pais e Filhos

Um retrato de quem passou para a fase adulta sem esquecer dos valores de infância.

Dormindo com o inimigo

A violência contra a mulher é o tema principal deste artigo.

Negro amor

Minha pele se arrepia e todo calor do meu corpo, até dos ossos parece ir embora quando vejo jornal. Em pleno sábado de sol forte (bem no meio do inverno) deveríamos ser agraciados por coisas boas e o que vejo é a notícia horripilante de um casal em Ohio que matou o filho a mordidas. Não foi mordida de cachorro ou qualquer outro animal irracional, foram mordidas humanas. Dos próprios pais. O pai já havia sido condenado anteriormente por queimar um bebê com água fervendo. No ano passado uma mãe não contente com a separação ateou fogo nas duas filhas e a menor das duas morreu aqui em Parelheiros, na zona sul de São Paulo. No mês passado um casal foi indiciado por violentarem as próprias filhas em Goiás. O mundo ficou de cabeça para baixo. E o que mais me deixa puto da cara, é saber que os bons pagam pelos maus. Vejo pais que tem os filhos por perto e acabam por fazer merda, achando que os filhos são propriedades pessoais, e não seres humanos com vontades próprias e que devem ser encaminhados, orientados e não violentados pelos seus progenitores. E me lembro dos meus filhos que foram literalmente afastados de mim, por erros irreversíveis de pessoas que diziam só querer o bem maior. Sinto não poder abraçá-los todas as noites, ou de passar mais tempo com eles, já que dificilmente consigo fazer com que uma ligação para eles seja completada, e os telefones raramente funcionam, a não ser quando outros querem dinheiro. E penso no sem número de desencontros onde eu fico plantado feito um bocó esperando, visitas marcadas que não são cumpridas, e compromissos com eles que são desmarcados sem nenhum tipo de aviso prévio. Isso para não falar na enorme quantidade de gripes fortes que os dois contraem só para não virem à minha casa, contrariando ordens expressas de juízes e que depois fico sabendo que não havia gripe nenhuma. Eram os doentes emocionais maiores que forjaram o desencontro. Uma apropriação alheia que só me favorece quando está envolvido dinheiro, e como seu eu pagasse para tê-los ao meu lado, às vezes tenho meu prêmio por algumas horas do final de semana. Horas que são cada vez menores, mas que são aproveitadas ao máximo. O preço que se paga por ser boas pessoas às vezes é alto demais. E enquanto eu tento ser um pouco mais pai, e passar um pouco mais de tempo com meus filhos, tenho que conviver com a burrice de alguns, o descaso de outros e a intemperança e desumanidade diabólica de muitos. Oxalá essas crianças um dia possam se tornar seres adultos e menos parecidas com seus pais, ou tutores, e mesmo se não os perdoarem pelos seus crimes e diabruras, que possam respeitá-los e respeitar a sociedade. E que os meus um dia possam crescer e entender os reais motivos da minha distância. Distância que causa um buraco cada vez maior do lado esquerdo do meu peito.

A patricinha de Beverly Hills

Um dos grandes problemas das pessoas que alcançam a fama e o sucesso é virar refém de si próprias. Muitos não estão preparados para receber enormes avalanches de dinheiro (e quem estaria?) e acabam literalmente fazendo merda. Muita. E quando o dinheiro acaba por mau uso, já que nessa fase o dinheiro parece nunca acabar, daí é que a baderna fica maior ainda. E os comportamentos muitas vezes chegam às raias da insanidade, ou então do desespero, afinal, os holofotes querem se apagar, mudar de direção, mas muitos artistas fazem tudo e mais um pouco para receber os focos da mídia. Mesmo que seja no famoso estilo: “falem mal mas falem de mim”. A Lindsay por exemplo, é rica, conserva ainda alguma beleza ainda com os seus vinte e quatro anos (mas com aparência de trinta e oito), tem uma namorada mais ou menos, mas constantemente se envolve em polêmicas, e agora por ter infringido sua condicional, vai passar três meses numa cela de penitenciária. Mas engana-se quem se compadece da pobre, ops! rica coitada que hoje se apresentou à polícia, em meio a centenas de câmeras de televisão e teleobjetivas que mostrou seu rostinho amarelado com óculos Dolce & Gabbana para todo o planeta assistir. Lá fora, nos Estados Unidos, as coisas são bem diferentes daqui. A atriz ficará numa cela tão confortável que a impressão que dá é que simplesmente irá tirar umas férias isolada num mosteiro moderninho, para colocar a cuca no lugar, e esquecer o resto do mundo. Não é como aqui que as pessoas se matam em cubículos apertadíssimos, de três metros por três, onde tem trinta, quarenta pessoas se acotovelando e revezando em turnos para dormir já que não cabe todo mundo deitado junto. Não importa, o que realmente faz diferença é saber se os óculos foram bem captados pelas câmeras, se o cabelo ficou perfeito e se realmente vai continuar sob os olhares da mídia pelo menos nos próximos três meses, quando irá sair da cadeia e as câmeras vão voltar a fotografá-la. No Brasil não é diferente. Muitos artistas querem ficar imortais. Querem ser seres relembrados para sempre, seja pelo trabalho ou seja pelo trabalho que dão aos outros. E quando surge alguém melhor e alguns são trocados, o jeito é apelar para o desespero e algumas vezes encarar o famigerado clube da luluzinha das filmagens adultas e proibidas para menores de dezoito anos. Ganha-se mais ou menos bem, fazendo o que de mais saudável existe depois da alimentação: sexo. Sexo industrial. E é melhor que saia bem feito para que o grande e pouco respeitável público os mantenham sempre no topo, e que se torne super hiper mega pornstars. Agora, se mesmo assim os vídeos não fizerem sucesso, o jeito é engravidar, de preferência de jogadores famosos de futebol ou artistas internacionais e curtir o resto da vida, às custas do dinheiro alheio, até que saiam novamente nas capas de jornais e revistas. Mesmo que sejam nas páginas policiais.

O começo do fim

Lá atrás quando o milênio velho terminou e o novo começou, o medo de todo mundo era que esse mesmo mundo fosse acabar num cataclismo apocalíptico enviado pelos céus e que uma horda de anjos comandados por Alá, Buda, Jeová, ou outra divindade viria trazer uma nova ordem de coisas. Mesquitas, igrejas, sinagogas e templos estavam recheados com seus fiéis orando pedindo clemência enquanto outros simplesmente achavam que tudo aquilo não passava de histórias bíblicas de terror, e que o “mal somos nós mesmos”, “diabo só existe na imaginação dos que se apóiam na religião”, e que “o inferno realmente existe e que já estamos literalmente vivendo nele”. O que aconteceu foi que muitas dessas pessoas, se esqueceram das preces e pedidos que elas próprias fizeram, e começaram a agir de maneira completamente reversa dez anos depois. O cataclismo em escala colossal e sobrenatural não veio dos céus, veio sim, das mãos da própria população que hoje aparece nas colunas de jornais, em seções policiais, pregando a desordem, a sordidez e cometendo seus delitos. Ah! que saudade daqueles tempos onde os casamentos eram “até que a morte nos separe” e não como os da maioria de hoje que são simplesmente apólices assinadas sem um pensamento prévio, em que um dos dois (quando não os dois) simplesmente assina pensando nos finalmente e em quanto a conta no banco irá engordar às custas de pensões, poucos meses depois das celebrações apoteóticas, milionárias. Falta também, faz aquele tempo em que os filhos eram considerados maravilhas dadas pelos céus para seus reles pais mundanos que faziam de tudo para dar uma vida melhor para seus descendentes e não como hoje quando pais e mães violam seus filhos, maculando para sempre suas mentes ainda saudáveis e não corrompidas pelos pensamentos atuais. Isso para não dizer quando não os matam, como fez aquela mulher em Parelheiros (SP) que assim que o marido a abandonou, ateou fogo nas duas filhas para fazer chantagem pensando que assim o companheiro voltaria às suas boas graças. Estamos vivendo do avesso, revelando nosso lado mais macabro e vil e provando que diferente dos animais e seres sem consciência que vivem apenas de instinto, nosso processo é involutivo quando deveria ser abastecido de benemerências e beatitudes. Somos os exterminadores da raça humana, nosso principal inimigo e algoz somos nós mesmos e disso parece não sermos capazes de entender ou evitar. Mentes sem consciência e pensamentos com maldade perdulária é que fazem com que os filhos sejam abandonados em plena rua, como aconteceu agora na zona leste de São Paulo e a mãe quando indagada apenas disse “ah eu estava nervosa e não queria mais essas crianças”, mostrando uma frieza diabólica e tratando de maneira tão pífia sua própria descendência. A hecatombe esperada na virada do novo milênio chegou e ninguém parece que percebeu. Ela já está no meio de nós, arraigada em nossa sociedade. E como rezar pedindo clemência parece que não surtiu o efeito que esperávamos, o que nos resta é rir. E esperar para ver o que vai acontecer.

Laços e embaraços paternos

Há quem diga que o problema social brasileiro se resolve com educação. Você por acaso já deve ter escutado algo parecido com: ”educar os mais jovens é construir o Brasil de amanhã”. “Precisamos construir mais escolas para termos adultos mais qualificados amanhã”, ou “se forem tomadas medidas para elevar o ensino no Brasil teremos um futuro mais promissor amanhã”. Sempre amanhã. Será que não há ninguém pensando no hoje, no agora, no já? Há alguns dias atrás vi num noticiário que é lei incluir educação sexual na grade curricular de jovens e adolescentes. Acho justo. Mas uma dúvida me vem à cabeça. E quem é que irá educar o restante da população no quesito sexo? E o que será dito para aquele casal preso em Rio Verde no interior de Goiás, presos por violentarem (abre aspas) as próprias filhas (fecha aspas), uma com onze e outra com dezesseis anos? Você leu bem, não foi o padrasto preso por violentar as filhas da mulher, foram os dois, a mãe participava das festinhas sexuais familiares. É o bastante? Continue lendo. E não satisfeitos, os dois responsáveis pelas adolescentes ainda as obrigavam a assistirem filmes pornográficos e a verem o próprio rendez-vouz do casal. Quem irá educar esses dois agora? Os coleguinhas de cela, que provavelmente irão brincar de “brasileirinhas” com o casal. Acontece que esses disparates não acontecem apenas com a parte menos desenvolvida da população. Eles vão mais além, cruzam continentes e param na casa de uma mulher em Michigan (EUA) que pura e simplesmente se apaixonou pelo filho e manteve relações sexuais com o garoto (que deve ter achado uma delícia brincar de pai e mamãe, ou seria filho-e-mamãe?). A decisão de ir até a polícia partiu da própria mulher, talvez pelo adolescente não conseguir satisfazê-la bem, sabe-se lá. A questão aqui é: a educação é uma coluna apenas, não a estrutura fundamental para corrigir os problemas sociais, como deveria ser. Aquela mulher em Michigan, não é semi-alfabetizada, é bonita, bem relacionada, mas acabou enfiando o pé na jaca. Falta de educação? Nem um pouco. Há alguns dias próximo à minha casa, flagrei uma cena de deixar o queixo no chão, uma vizinha num ponto mais escuro da rua praticando um ménage-a-trois. Ela é estudante de direito, tem dezessete anos e estuda numa faculdade pública famosa, e com certeza pode pagar um motel. Ah me esqueci, não pode porque é menor de idade. Ou talvez até possa, já que por aqui, muita gente não sabe nem mesmo escrever o próprio nome ou ler direito, e talvez se confunda, ao ver a data de nascimento da garota na portaria do motel e não ter uma calculadora por perto para saber quantos anos ela tem. Mas de uma coisa não se confundem, o quarto é o número dezessete, e por favor, tragam de volta a chave e o controle remoto, mas os oitenta e cinco reais do período paga adiantado. Esses números não dão para confundir, a educação venceu por si só.

Pátrio Poder

Está havendo uma disparidade na legislação brasileira. Reza o código civil que a responsabilidade de educação dos filhos compete primeiramente aos pais. Daí o dia de hoje (14 de julho de 2010) mal amanhece e nosso digníssimo presidente encaminha ao congresso um projeto de lei em que os pais não podem mais utilizar castigos físicos em seus filhos. Sou a favor. De acordo com as palavras do presidente “é possível fazer as coisas de forma diferenciada”. Sou a favor. Mas daí ele complementa: “se punição resolvesse o problema o país não teria tanta corrupção; beliscão é algo que dói”. Espere aí senhor presidente, tem algo errado aí. Não é um dado que se pode concretizar, mas será que se não houvesse uma educação mais enérgica da parte de alguns pais, não teríamos um número menor de delinqüentes (ou de deputados)? Pode ser que sim, tanto quanto não. Então me pego perguntando: “que forma diferenciada ele quer dizer?”. E fico imaginando os castigos aplicados pelos pais (pós-lei aprovada): “filho, como castigo por não ter ido bem na escola, fica duas tardes sem jogar o seu Playstation”, ou então, “por ter xingado sua irmã vai ficar uma semana de castigo, assistindo televisão à cabo mas sem direito a DVD”. E enquanto eu me racho de rir imaginando estas cenas, fico me lembrando da minha época de infância e adolescência onde os castigos eram severos, doíam e deixavam marcas por vários dias. Mas eu também me lembro que sempre antes de qualquer castigo, eu e meus irmãos éramos alertados sobre os nossos erros, e éramos instruídos a como fazer as coisas diferentes da próxima vez, para não ter que passar por aquilo de novo. E não foram poucas as vezes que eu odiei o meu pai e minha mãe por estarem me castigando. Mas eram coisas que logo passavam, e hoje me tornei quem sou justamente pela seriedade como eu era educado. Na minha época de infância o pau quebrava, mas nós tínhamos uma espécie de “consultoria” que nos mostrava onde estava o erro, como evitar aquele erro, e como aquele erro podia afetar nossa vida futura. Nem eu nem qualquer outro dos meus irmãos morremos por isso, tampouco nos tornamos pessoas ruins, revoltadas contra nossos pais ou com a socidade. Sou contra abusos e violência contra crianças e jovens, ao mesmo tempo que sou contra ser conivente com seus erros, já que a lei não permite uma medida mais enérgica da parte dos próprios pais, que essa mesma lei determina que sejam os tutores. E se estiver certo o ditado que “educação de casa vai à praça”, então fica mais fácil entender certos integrantes da política brasileira, que tanto se envolvem em sujeiras e tramóias, os (nas palavras do presidente) “bandidos travestidos de santo”. Parabéns senhor presidente. Parabéns.

Retratos de um Brasil que não funciona

A grande falha no sistema penitenciário brasileiro é talvez a falta de pulso firme de quem comanda. Ou talvez as propinas internas oferecidas pelos presidiários que controlam o tráfico através de celulares, que entram nos presídios escondidos nos lugares mais inimagináveis que se possa haver. E o dinheiro rola a revelia, já que muitas vezes os policiais e carcereiros fazem vista grossa para isso. E isso não é nenhuma novidade, basta assistir televisão no horário jornalístico, ou assistir um filme brasileiro em que é tão retratada essa situação. O que mais me revolta é saber que somos nós, cidadãos honestos, que trabalhamos até a exaustão é que pagamos para manter “isolados” esses bandidos, marginais atrás de suas celas, que nada mais é do que uma maquiagem do crime organizado. Prisão no Brasil não é sinônimo de segurança para a população, afinal, as milícias, o tráfico de drogas, animais, pessoas e as desovas são arquitetadas lá de dentro das penitenciárias, através das sucursais dos presos, que estão lá fora. Nunca gostei nem tive pena de bandido. Sou a favor de prisões sim, mas para os casos menos hediondos. O restante deveria ser exterminado, extirpado da face da Terra como se extirpa um câncer. Direitos humanos? Cobrem isso das famílias que perderam seus entres queridos, filhas, filhos, amigos. A vida humana virou algo banal, que se tira pelos motivos mais absurdos, desde os quarenta centavos que o cidadão não tinha para pagar a pizza, até as paternidades não resolvidas e os casos amorosos mal resolvidos. “Não me quer mais? Páhh! Se não for comigo não será com mais ninguém”. Em pleno século vinte e um, a situação brasileira ainda não aprendeu a controlar a violência, seja ela doméstica ou não. É claro que isso existe em todos os países por mais desenvolvidos que sejam, mas lá, aparentemente os casos são tratados com mais seriedade. No Brasil, só vira notícia, estrela de televisão quem tem dinheiro. E quem tem dinheiro, tem abertas as portas do poder. Exemplos? Cento e sessenta e nove milhões de reais desviados do dinheiro público destinado à construção do Tribunal Regional do Trabalho. Acusado: Juiz Nicolau dos Santos Neto. Cumprindo pena? Sim. Em qual presídio? Nenhum, cumpre pena em regime domiciliar. Goleiro Bruno, acusado da morte da ex-amante. Cumprindo pena? Sim. Regime fechado comum? Não, está em cela isolada (não tem curso superior, mas tem dinheiro), passa mal com freqüência e não pode comer a comida da cadeia porque tem nojinho, por isso o advogado entrou com pedido por comida especial. Observação final: está preso a menos de dez dias. Os outros presos? Sifu. Ah que inveja dos sistemas milenares de punição dos radicais e extremistas do Islã, onde tudo é olho por olho e dente por dente, onde ladrões tem as mãos cortadas, e assassinos irrecuperáveis são executados da mesma forma do crime que cometeram. No Brasil, isso é repulsivo, repugnante. É melhor investirmos nas cadeias superlotadas que não funcionam, ou na criação de “medidas sócio-educativas” para (educar) jovens que cometeram delitos. E vão sendo “formados” para que ao completar a maior idade, muitos já estejam aptos, experts para viver junto com os outros peixes grandes nas cadeias. Não será de admirar quando muitos dos filhos do Brasil ao serem perguntados sobre o que querem ser depois de formados responderem: “Quero ser ladrão. Em Brasília ou em qualquer outro lugar. Pelo menos teremos celas especiais.”

Viva a tecnologia

Passados quase dez anos desde que o século vinte e um começou, e a mais de cinco de You Tube, as pessoas já deveriam saber que tudo que “aqui se posta, aqui se paga”. Esta época, é a época da tecnologia, da comunicação, de se dar “aquela espiadinha básica”. É a era das canetas com câmeras embutidas completamente camufladas, e dos programas rastreadores de teclas. Estamos vivendo um movimento de ciber espionagem na frente das telas dos nossos próprios computadores. Não adianta querer “passar despercebido entre os homens”, como disse uma vez José María Escrivá, ou, trazendo para a modernidade, “não adianta querer passar despercebido na Internet”. Sempre haverá um blogueiro, twiteiro, hacker, cracker, curioso ou mesmo só um intrometido, aquele chato de galocha que irá uma hora ou outra perceber um furo de reportagem e colocar a boca no trombone. A Internet virou o velho-oeste digital da era moderna, uma terra de ninguém. Mas aquela advogada de Sorocaba, coitada, não foi avisada sobre os perigos de se postar um vídeo. E seu vídeo onde mostra o acerto de contas com a amante do marido acabou virando a maior chanchada da semana. Em reportagem a um famoso portal de notícias na Internet, a advogada disse que quando viu que todo mundo estava falando disso retirou o vídeo, sem saber que a essa altura, tanta gente já tinha copiado e re-postado o tal vídeo. Os programas espiões, captores de teclas não deixam por menos. Já vi dois casamentos terminarem (e esse número deve aumentar) por causa desses programas, que flagraram maridos infiéis e esposas mal amadas trocando carícias cibernéticas e juras de amor, sem ao menos imaginar que alguém mais estaria olhando. Os dois casamentos que se romperam terminaram da pior forma possível, com agressões, baixarias e em um distrito policial. Que vergonha. Por isso, antes de dizer, escrever, postar alguma coisa na Internet, devemos nos lembrar que o conteúdo da Internet é de domínio público, e mesmo o que for restrito, sempre há um jeito de se descobrir. Ah e mais importante, use e abuse da web para falar bem, para elogiar, para criar e para desenvolver coisas úteis para a sociedade. Deixe para resolver pendengas pessoais, lavagem de roupa suja e ceninhas de defesa da honra para outros lugares, as pessoas não são obrigadas a participar das canalhices da vida alheia. Resolva tudo dentro de casa, entre quatro paredes, e se possível, desligue a web cam, pois alguém mais pode estar assistindo em algum outro lugar, e logo logo, sua carinha, vai aparecer aí na telinha. Viva a tecnologia!

Fala sério

Parece que a onda agora é resolver problemas pessoais utilizando os métodos mais bossais e primitivos. Basta ligar a televisão para ser bombardeado pelas barbáries e intempéries que rondam nossos canais, mostrando nossa incapacidade de agirmos como cidadãos evoluídos. Mata-se no Brasil (e no mundo inteiro) pelas razões mais estapafúrdias. A mãe quer provar a paternidade do filho e acaba desaparecida, com histórias que não se coincidem, e seu corpo até agora permanece uma incógnita. A advogada que virou notícia nacional depois de ter sido encontrada boiando numa represa, ao que tudo indica foi obra do ex. Vivemos num país completamente alienado, uma selva sem lei e ordem onde tudo pode já que algum “laranja” é que vai pagar o pato no final das contas, se pagar. Peixe grande? Não, esse não vai. Cadeia não é para esse tipo de categoria social. Daí ouve-se que o problema é social, que basta investir em educação e segurança, que os eleitores estarão seguros. Mas seguros de quem? De nós mesmos? Educação e segurança não rende votos para ninguém, não coloca ninguém no poder e não melhora a qualidade de vida da população. O que permite que o Brasil caminhe em passos de formiga é justamente a ignorância da grande maioria. Não faz bem para a política brasileira ter seu povo instruído, sabedor dos seus direitos, mas que cumpra os seus deveres, senão... E enquanto decidimos para onde correr, porque se ficar o bicho pega, mas se for o bicho come, temos que continuar a presenciar assassinatos brutais como o dessas duas mulheres que viraram as celebridades do momento, sem nada poder fazer. Está na hora de abrirmos o olho e pensar melhor em quem vai pelo menos tentar mudar alguma coisa pelo país em outubro quando as eleições chegarem, os hospitais que não serão utilizados começarem a aparecer, os escândalos de desvio de dinheiro público aparecerem na televisão e outras boas pessoas começarem a desaparecer misteriosamente, para dar mais Ibope para canal de televisão e manter o emprego de uns poucos, pelo menos por mais um tempo. Até em shopping que parecia ser um lugar um pouco menos barra pesada para se estar, sofre com a questão da segurança. Virou moda assaltar shopping, afinal, o que vão fazer os guardinhas que ficam desfilando naquelas motonetas pelos corredores, apenas com um rádio comunicador e sem armamento algum? Ter gente armada em shopping pode ser constrangedor, afasta os compradores e transeuntes que querem se divertir ou gastar. É mais fácil esperar pelos bandidos entrarem bem vestidos e só depois sair à procura deles, já que temos câmeras de segurança em todo lugar. É uma vergonha para um país desse porte ter que conviver com esse tipo de coisa. E quando pararmos novamente em frente a uma joalheria tentando escolher qual o próximo presente devemos olhar com cuidado em todas as direções. Se tiver alguém bem vestido por perto, corra, afinal, isso pode ser o próximo assalto.

Verde e amarelo

O grande problema da seleção desde o início, foi lutar contra a desconfiança do torcedor. Todo mundo sabia que o Brasil não levaria a Copa, mas todo mundo fez de conta que acreditava. Pintou as ruas, gastou dinheiro com bandeirinhas e apetrechos para dar uma força para a seleção, mas não funcionou muito. O Brasil é sem dúvida o país com maior dificuldade em escolher os seus representantes no futebol, porque tem um plantel de jogadores bons demais. Daí colocam a culpa no coitado do Felipe Melo. A culpa não é dele, foi tudo um mero azar. Ou talvez a lógica, já que iniciamos desacreditados e sabíamos que isso ia acontecer, uma hora ou outra. Não é justo ficar malhando o Judas em cima dele. A culpa não foi de um só. Foi de toda uma nação que acreditou que fosse possível o quase impossível. E de nada adianta o Gornaldinho Fenômeno dizer para o cara não vir passar as férias no Brasil. E o senhor seu Ronaldo, o que fez depois daquela presepada toda lá na França em 98? Passou as férias onde? O senhor foi o culpado pela derrota? Quem é o senhor hoje? Ronaldo, Roberto Carlos, todos foram criticados e não deveriam dar um pio para falar mal de ninguém. Desastres no esporte acontecem com todo mundo. Ficamos tanto tempo sem um título que só conseguimos conquistar em 1994. E nos outros anos? Sofremos menos do que agora? Temos que parar de encontrar culpados e concentrar em coisas mais importantes. Futebol tem dessas coisas, um dia perdemos, mas não quer dizer que não podemos ganhar. Ganhamos sim, ganhamos a certeza que ainda somos capazes de acreditar em missões impossíveis e que ainda nos sensibilizamos ao ver os olhos vermelhos dos jogadores milionários, enquanto outros choram aquela mãe e filho que morreram ao cair da ambulância. São coisas do futebol.

Vestido curto...curtinho

Talvez nunca nos anais da história deste país, um vestidinho rosa foi tão falado, comentado, filmado, noticiado, popularizado (e acima de tudo ridicularizado). Foi o trampolim para a fama, sucesso e dinheiro, da estudante de turismo, que se queixa agora de ter sido achacada e de acordo com as palavras da própria: “violentada”. A verdade é que tanto faz como tanto fez o uso ou desuso do tal vestidinho. A questão foi a polêmica. Os alunos de um lado achando que aquela não era vestimenta para o lugar. Do outro, a estudante que “inocentemente” colocou uma roupa achando que só iria causar um "frisson", chamar a atenção para suas pernas grossas, talvez porque sua enorme cara de caju não desperte os desejos libidinosos de homens e mulheres por onde ela passe. Virou celebridade, aparecendo nos principais programas de televisão, posando em capa de revistas, fazendo campanha nacional para ver se encontra um namorado, que esteja afim de realmente gostar dela pelo que ela é não ser um oportunista e pegar uma carona no sucesso alheio. E que também não esteja somente interessado em suas longas madeixas louras com ares sensuais, por causa do um milhão de reais que agora quer como indenização por ter usado seu vestidinho na maior inocência que somente uma loura poderia ter. A maior vítima de tudo isso são os telespectadores que são conduzidos a ler e ver fatos absurdos como este que a mídia insiste em mostrar. Não é de se espantar ao ver a condição moral e intelectual dos filhos do Brasil, onde faz-se mais sucesso quem ter um padrinho influente, quem tem uma bunda maior ou mais bonita, ou até mesmo um vestidinho rosa mais curto. É muito mais fácil usar um argumento apelativo para se ter fama e sucesso do que caminhar pelas próprias pernas, utilizando-se do intelecto e da própria capacidade física, porque “ah, hoje virou moda, tá tudo mais fácil”. E nessa brincadeira bizarra de quem consegue mais com menor uso de cérebro e ajuda de outros mais influentes, só nos resta esperar para ver o resultado. E quem sabe amanhã comemorar o reinado da burrice, da banalização corporal e social, desfilando pelas passarelas e capas de revistas, demonstrando nosso falso apogeu e mostrando que acima de tudo somos capazes de ser ainda mais caras-de-pau.

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