O Funk e a decadência brasileira

Uma crônica sobre o estilo musical que tomou conta do país.

A certeza imaginária

Uma reflexão sobre os comportamentos de quem encontrou a pessoa certa.

Magnólia

Três histórias surpreendentes em que todas acontecem no Edifício Magnólia no Rio de Janeiro.

Pais e Filhos

Um retrato de quem passou para a fase adulta sem esquecer dos valores de infância.

Dormindo com o inimigo

A violência contra a mulher é o tema principal deste artigo.

Farol vermelho

Coloco os pés porta afora e olho o brilho difuso da neblina. Olho para os lados, o carro já está parado lá fora, os vidros escuros. Me aproximo e o vidro se abaixa. Eu já estou sorrindo e então Cameron Diaz sorri e pisca pra mim, e em sete minutos estamos na porta da minha casa. Droga, não era a Cameron. O movimento de levar a mão ao celular é automático, mas sempre que preciso do meu ele teima em não funcionar. Ligo para meus amigos confirmando o show no final de semana, mas essa peste não tem sinal. Mas fica nesse inferno interminável de torpedos que não param de chegar perguntando tudo. Menos o importante. E eu ainda tenho que ficar respondendo. Mas hoje não. Quero que se dane o celular. Desligo, mas já ligo de novo. Eu saio do trabalho às dez da noite e ela sai do curso no outro lado da cidade na mesma hora. O telefone toca desesperado e eu atendo. Não dá pra dizer não. Vinte minutos depois o carro aparece. Não me importa se é o dela. Não me importa se é o do namorado, ou se é o da empresa. Nada disso me interessa agora. Só me importa sentir aquele cheiro de Angel de novo. E é assim que vamos. Aos toques. Às tiradas e colocadas de cinto de segurança a cada farol fechado, ignorando os olhares das pessoas ao redor, vendo a gente se pegar ali mesmo no meio da rua. E enquanto eu a ouço contar como foi o dia e como precisava me ver eu me pego pensando em quanto tudo isso me faz bem. No quanto essa mulher, esse demônio do bem consegue preencher cada lacuna, cada espacinho por mais diminuto que seja do meu ser. Que você, mulher que não conheço e não tenho certeza se quero conhecer, me faz ver as coisas de um jeito que eu nem sequer sabia que existia, mas que me tira do sério e faz meus pés saírem desse chão moribundo e decadente. Não sei se vamos nos ver hoje, ou amanhã, ou se não vamos nos ver nunca mais. Não me importa que seu telefone toque quando você está comigo. O que importa é essa falta. É essa necessidade latente que toma conta de mim. Essa falta que não é falta. É essa vontade de sempre ter uma surpresa, ora no final da noite, ora no começo. É essa busca incessante que me tira a concentração, me faz perder a razão, uma razão que já não me pertence mais. E enquanto eu vejo a noite passar eu penso em tudo e em nada. Desligo esse telefone que não para e finjo que durmo. Quero tudo e nada ao mesmo tempo. Eu quero sim. Quero ouvir você falar da minha barba mal feita, e quero ouvir você outra vez dizendo as palavras mágicas. Quero ver sua mão sem anel. E sua boca a me beijar com raiva e necessidade, como se fosse o último minuto do mundo. E é isso que me dá tanta segurança. A insegurança. É saber que não preciso de você. Porque nossas vontades são complexas e congruentes. Porque nossos desejos são semelhantes e infalíveis. Porque embora vivamos em universos diferentes, sempre encontramos um ponto de equilíbrio. Porque só queremos encontrar uma fonte, nosso “end”. E por mais que procuremos nosso meio termo penso que só chegaremos ao nosso ponto e vírgula, ou talvez ao nosso stand by onde podemos ficar esperando um pouco mais. Um minuto mais. Uma hora mais. Uma vida mais. Não tenho a menor pressa. O céu pode esperar. E eu também.

Aurora Boreal - parte II

Sentada sobre a tampa da privada ela lentamente começa o ritual de se despir. Tudo ainda gira ao seu redor e por isso ela fecha os olhos com cuidado para não sofrer ainda mais com a dor de cabeça que a assola. Quando está completamente nua, leva as mãos à parede negra de porcelanato e liga o chuveiro sentindo as gotas pesadas e quentes invadirem cada centímetro de seu corpo. Ainda há tempo de mudar de idéia e optar pela banheira, mas agora que recobrou os sentidos, tem medo de se afogar, o chuveiro é mais seguro. E lá mesmo ela fica por quase vinte e cinco minutos sentindo sua mente ser trasladada para um balneário onde há uma fonte inesgotável de energia e vida.

O cair da noite tornou o ambiente mais frio. Há um aquecedor de ar em algum lugar, mas o frio ao sair do banheiro não a deixa pensar direito. Precisa se aquecer. Caminha sobre o carpete branco do corredor se sentindo pouco melhor e apanha suas roupas na gaveta de um móvel. Agora as diversas camadas de roupa a fazem se sentir melhor.

Ana Paula volta à sua sala onde paira a baderna e olhando para todo aquele espetáculo, as mãos vão ao queixo, depois à boca. Já é hora de se livrar de tudo aquilo. Vai até o aparelho de som e em meio à torre de CD’s, ela escolhe seu preferido, que está no topo da lista. Suas mãos ainda tremem e após algumas tentativas malfadadas de abrir a caixa, uma pequena ponta rasga a pele fina de um de seus dedos. Um xingamento abafado. No armário do banheiro há uma pequena caixa de primeiros socorros e ela se sutura.

Um som toma conta da casa quando Lisa Stansfield começa a cantar Never Never Gonna Give You Up. Ana Paula fecha os olhos e lembra-se do sem número de vezes que viu o clipe quando a cantora sai nua da banheira cheia de água e sai andando por uma rua onde todos os olhos a observam. A música já virou seu mantra.

A música que está quase no fim agora disputa o som com o telefone que volta a tocar. Ela se lamenta por não ter desligado o aparelho, agora não sabe ao certo se deve atender àquela ligação, mas sabe que a essa hora da noite de sábado, nada poderá ser tão importante. Mas como o telefone não parasse de tocar, ela finalmente atende.

“Hello”, ela atende em inglês.

“Ana Paula Mendes Saviolli é você?” a voz do outro lado da linha pergunta, com uma leve sugestão de nervosismo.

“Quem está falando?”

“Meu nome é Amir, não nos conhecemos direito, mas é que eu quase te atropelei na noite passada e quando você correu, sua carteira caiu, então eu..”

“Seu desgraçado, quase me matou de susto e medo”, ela esbraveja, “não se pode simplesmente sair desse jeito por aí colocando a vida dos outros em risco, você é louco?”

“Por favor me desculpe, é que você surgiu assim de repente e eu não pude fazer muita coisa. Olha, me desculpe ter olhado em sua carteira mas eu precisava saber quem você era para poder devolvê-la para você”, Amir explica, na defensiva.

“Afinal quem o senhor pensa que é?”, ela fala de novo elevando a voz, “espera aí, o que está fazendo em Oslo?”.

“Eu sou fotógrafo, estou numa turnê expondo meu trabalho por toda a Europa. O Vernissage tem início na noite de amanhã, porque você não vem? Assim pode pegar sua carteira de volta e podemos nos conhecer numa circunstância melhor, o que acha?”

“Não quero te conhecer, só quero meu documento de volta, se não se importa. Não gosto de vocês e não dou a mínima para o que você faz, agora eu tenho que desligar”, ela diz num rompante de ironia e ignorância, tudo junto, todas as más características que se tornaram parte de seu comportamento hostil.

“Tudo bem Ana Paula, desculpe ter tomado tanto tempo seu. Estarei na galeria nacional de arte moderna a partir de amanhã às sete da noite. Não será difícil me encontrar, eu levo seus documentos para você. Eu estarei aguardando próximo ao quadro que se chama “A Lágrima”. É um quadro onde há uma mulher que tem um manto sobre a cabeça e atrás tem...”

O som de final de ligação deixa Amir confuso. Do outro lado da linha, Ana Paula agride o telefone, está agora tomada pela irritação e pelo ódio, mas no fundo sabe que precisa pegar de volta os seus documentos. Não vê outra alternativa a não ser ir até a galeria.

Respira fundo e decide que irá até lá no domingo à noite. “Entrar e sair”, ela pensa. Tudo poderá ser simples e rápido. Ela só precisa estar viva.

Ontem eu chorei com o Bruno - por Handerson Pessoa

Eu não sei o que acontece nesse mundo. Juro que não sei. E quando esse tipo de coisa acontece eu fico puto da cara. Meu amigo Bruno me ligou, aos prantos ontem porque a namorada o deixou. O Bruno é desses caras meio porra-loca. Conheceu a mulher pela internet no final do ano passado. Ela mora em outro estado mas o cara não ligou pra isso. Resolveu que a ama porque ama e ponto final. Ele me mostrou os emails que os dois trocavam, e também as mensagens de celular. Ela tentou vir aqui em São Paulo mas parece que algo deu errado. Ele tentou ir várias vezes mas ela não fez muito esforço pras coisas darem certo e ele viajar. O cara é tão maluco que colocou uma aliança no dedo e tatuou o nome dela no corpo. Nunca vi uma coisa dessas. Quando eu cheguei na casa do Bruno ele estava com o rosto inchado de tanto chorar. Finalmente ele me contou. Ela disse que recebeu uma proposta de emprego e por isso não queria continuar com ele. E por acaso isso é motivo? Sim, é motivo sim, quando a gente não ta mais afim. Eu já fiz isso uma vez e depois tive que comer o pão que o diabo amassou com o rabo e depois peidou em cima. Eu já fiz isso com uma pessoa que me amava de verdade. Por mais que eu falasse, o Bruno estava inconsolável. Ele me disse que falou pra ela que não tinha importância, que ele se mudaria pra poder ficarem juntos. Ela não quis (eu já ouvi alguém dizer isso pra mim também e fiz que nem ela). Mas Bruno, as coisas são assim mesmo, as pessoas que nos amam de verdade nunca nos abandonam. Um grande amor não se perde por isso. Se perder é porque não era amor, muito menos grande. Fui para casa, depois de chorar com o Bruno. Eu sei o que é ser rejeitado, ser trocado, eu sei bem. Sei o gosto de bunda que fica na boca quando a gente quer tanto uma coisa, quando a gente espera tanto, faz sacrifícios e a outra pessoa nem liga. Sim Bruno, eu sei. O que não sei é o que acontece com as pessoas hoje. Sem alma e sem coração, pensando apenas em si mesmas e em dinheiro, prestigio e posição social. Querendo subir cada vez mais alto e se esquecendo que maior será a queda. As pessoas deveriam estar satisfeitas com o que tem. Mas não é assim que acontece. As pessoas querem mais, e mais. E mais um pouco. Fico impressionado com a quantidade de ricos infelizes, os mesmos que querem sempre mais, mas não tem nada. São os que mais se suicidam, os que mais são traídos, os que não tem paz de espírito. Os humildes, todo domingo tem churrasco e pagode na laje, vivem sorrindo, porque sabem o que realmente importa na vida. Fica assim não Bruno. Você é bom demais pra sofrer assim. As coisas que perdemos sempre voltam pra gente, mais cedo ou mais tarde. Eu não sou a melhor pessoa pra dar conselho, afinal, também fui trocado, também estou sozinho, minha conta ta negativa no banco e eu já tive que recomeçar do zero tantas vezes que nem me lembro mais. Mas é nessas horas que a gente tem que levantar a cabeça, ligar o foda-se bem alto e seguir em frente. Mesmo com a esperança cortada na raiz. Amanhã será um dia melhor. Pode ter certeza. Estou do seu lado pro que der e vier.

Nimbus

Já que não estou mais nem aí pra esse celular, resolvo desligar de uma vez por todas. É nessa hora que ela liga, beirando às duas da manhã. Número desligado ou fora da área de cobertura. Não quero pensar em nada, não quero fazer nada, e que se dane a bagunça organizada da minha casa que eu não to a fim de arrumar. Só quero ficar aqui deitado no meu sofá enrolado no meu edredom azul nessa puta madrugada de sábado. Eu não me lembro de ter ido pra cama, nem sei como fui parar lá, mas abro um olho e acho que já são umas dez da manhã. Aperto as teclas do telefone, daí me lembro que desliguei. Puta merda, já é uma e meia da tarde e eu tenho compromisso as duas, com aquele velho amigo o Benedito. É ele ligando, remarcando pra outro dia porque ta chovendo. Ótimo, penso. Combino de ver o jogo do São Paulo na casa de uns amigos, assim eu me distraio, e volto a ser um pouco mais ser humano. Ela me liga outra vez dizendo que acabou de acordar. Talvez a gente saia mais tarde. O caminho é longo até a casa dos amigos, parece não chegar nunca. Mas chega. Festa. Festa. Festa. Resolvo abandonar o celular jogado numa mesa que agora não sei onde é. É um daqueles dias que não estou suportando o cricrilar do aparelho dizendo que chegou mensagem. Não tenho muito caráter com o celular. De dia quero que ele se foda, mas a noite quero que ele exista e me faça companhia. O telefone toca desesperado e alguém vem me entregar, já são oito da noite e eu tenho que voltar pra casa. Mas ela quer me encontrar. Eu a quero encontrar. Marcamos num ponto escuro da noite gelada e quando eu entro naquele carro, sei que algo vai acontecer. Não sei como, não sei quando, mas vai acontecer. Vagamos sem um rumo certo até pararmos lá no estacionamento superior do Shopping Ibirapuera, de onde podemos ver uma parte da cidade, e os aviões que passam raspando por sobre nossas cabeças. Ela está linda, eu penso, naquela roupa preta cheia de camadas, e anda desfilando um sem número de predicados. Bons predicados. O vento que sopra lá em cima é gelado, mas isso agora não importa. As nuvens, num estágio entre Nimbus e Stratocumulus fazem o céu ficar amarelado e cinzento ao mesmo tempo. À direita, a luz dos faróis de um avião atravessa o céu, junto com aquele barulho, como se o céu estivesse parindo aquela aeronave. Ela olha, eu olho. Ele se aproxima. Passa a poucos metros das nossas cabeças, e quando ela vira pra ver a rota que ele está, nossos olhos se cruzam, nossas mãos se tocam e nossas bocas se fundem numa só, deixando o resto do mundo ali, embaixo dos nossos pés, como se mais nada existisse. Saímos de órbita. Nimbus, Cumulus, Stratus. Mesosfera, Eletroesfera. E é isso que me deixa ainda mais na sua. A incerteza. O elemento surpresa. Se ela vai ligar amanhã? Não sei, não quero saber e não tenho raiva de quem sabe. Não tenho raiva de ninguém. Não tenho raiva das pessoas que já passaram pelo seu corpo, não quero degolar quem talvez ainda passe e tampouco me chatearia pensar que talvez muitas ainda passarão. Não me importa se você vai ficar meia hora ou uma hora inteira. Não me importa se você gosta mais ou menos de mim ou por inteiro. Nada me importa, a não ser o desejo de te empurrar naquela cama e experimentar de novo aquele movimento meio ponto e vírgula que você faz. Não sei explicar. Não sei o nome de ninguém da sua família, não sei se quero conhecer seus amigos, não preciso que você me abrace depois e não faço questão de ser o homem da sua vida. Não tenho medo de ficar com cara de idiota ou de gritar muito alto. Não tenho medo de nada, afinal, a gente só tem medo do que a gente ama. Se me der sono eu durmo, se me der vontade de falar um palavrão alto, falo. E o mais fantástico de tudo é que já que estou tão à vontade, já que meu cérebro louco não está vivendo nem no passado e nem no futuro e apenas no presente do seu corpo quentinho e cheiroso e já que nada em mim dói porque nada em mim sonha... Eu nunca senti tanto prazer em toda a minha vida. Prometi não tentar entender e apenas sentir, sentir mais uma vez.

Para acordar gente grande



Já fazia cinco anos que o Valdivino namorava a Roseli. Cinco longos anos. Debaixo do céu só existiam aqueles dois. Era “meu amor pra lá, meu amor pra cá”. Chegava a dar enjôo. Igual àqueles enjôos que se têm quando se come doce demais e não dá nem pra olhar para o doce por dias. Ficar perto daqueles dois era uma prova de resistência e paciência. A todo lugar que se olhava, lá estavam os dois naquela moto branca e vermelha, e o casamento já estava quase saindo. A todo mundo que perguntava, a resposta da Roseli era sempre a mesma, que ele era o único que a entendia, o único que importava e que os dois haviam nascido um para o outro. Um dia, não me lembro qual, mas o ano era 1992, o então ilustre presidente da república na época, Fernando Collor fez o favor de lançar um novo plano econômico e com isso, o dinheirinho suado dos dois, desvalorizou e muito. Mas um amigo em comum dos dois soube tramar um golpe que iria quebrar a banca. Em questão de algumas semanas, esse “amigo” (diga-se de passagem, que era apaixonado pela Roseli), ganhou rios de dinheiro. Comprou um carro novo, uma moto mais bonita e potente do que a do Valdivino e de quebra comprou um apartamento. Tudo aquilo chamou muito a atenção da Roseli, que logo tratou de ir falar com o “amigo”. Ele não perdeu tempo, e em meio a tantas oferendas, ela não resistiu e terminou com o Valdivino, que ficou completamente baratinado com tudo aquilo. Chorou dias e noites seguidas, pediu, implorou, suplicou para que ela voltasse, mas ela estava irredutível. Como ela poderia dizer não a tanta fortuna? Será que ela era tão louca de ainda continuar com ele, que não tinha nem onde cair morto, só com aquela moto? No Brasil, preto e pobre não tem muita chance na vida, e foi nisso que ela pensou quando terminou com ele. Os dias se passaram, e o coraçãozinho do Valdivino ia cicatrizando. Não foram poucas as vezes que vi meu amigo chorando disfarçado lá no escritório, olhando para a foto dele e da Roseli no porta-retrato que ele ainda teimava em guardar. Nós, seus colegas de trabalho tentávamos reanimar o cara, mas só ele poderia decidir quando sairia daquele buraco. Um dia o vimos no fundo da casa, que era onde o escritório de contabilidade funcionava na época. Estava agachado perto de um montinho de terra com as mãos sujas. Estava enterrando a foto dos dois. Enterrou a Roseli pra sempre. Voltou com os olhos vermelhos e não disse palavra. Seis meses se passaram desde aquele dia, e quando ele já estava curado, aconteceu algo que nenhum de nós, seus colegas de trabalho imaginamos. A Receita Federal descobriu o golpe do tal “amigo” e tomou tudo que ele tinha. Ficou pobre-pobre-de-marré-de-si outra vez. A Roseli? Óbvio, foi lá no escritório pedir desculpas para o Valdivino, que ouviu tudo sem nada dizer. Da salinha do lado dava pra ouvi-la dizendo: “A gente tem que gostar das pessoas pelo que elas são e não pelo que elas têm”. Ele não quis saber, e dessa vez foi ela quem saiu de olhos vermelhos. Ele terminou a casa que tinha começado a construir, comprou um Escort 93 e outra moto. Ela ficou na casa dos pais sem nenhum dos seus dois amores, e o “amigo” após entregar tudo, ainda teve um processo nas costas, e preso ficou por três anos. Um dia no carnaval de 1993, fui acordado pelo meu pai, às seis horas da manhã de um domingo. O Valdivino havia falecido em uma festa de carnaval numa cidade próxima. Senti meu estômago dar voltas. Quase todas as pessoas que eu amei e que partiram eu soube pela manhã, a primeira notícia do dia. Meu amigo Valdivino, minhas amigas Miriam e Marie, minhas duas avós. Pra sempre sentirei saudades do meu amigo. Lembrarei sempre das vezes que ele me dizia que devemos sempre dar valor às pessoas que nos amam, porque elas podem não estar mais aqui, numa fração de segundos. Nascemos sós, morremos sós. O que nos cabe é o que fazer com o tempo que nos é dado. O Valdivino teve que amar para saber o que era amor, a Roseli teve que sofrer a dor para saber a mesma coisa. E você? Dá valor às pessoas que te amam de verdade?

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