Atestado Médico

Esses dias atrás aconteceu uma coisa que me chamou a atenção. Estava eu correndo atrás de um atestado médico demissional, já que eu estava saindo da firma. Tudo bem que eu tinha um formulário para fazer esse exame médico lá no Semetra. Para quem não sabe onde fica o Semetra, é assim: fica perto do largo do Payssandu, depois do viaduto Santa Ifigênia, que por sua vez fica perto do Anhangabaú, perto da praça da Sé. Ali pertinho.
O problema é que eu não tinha tempo para ir lá no Semetra, porque estava cheio de trabalho, e tinha um baita feriadão no outro dia. Então estava eu saindo do meu compromisso no bairro de Pinheiros quando vi um daqueles tiozinhos que ficam segurando uma placa escrito, atestado médico: admissional e demissional. Aquilo me interessou, afinal eu já estava ficando desesperado. Quinta-feira, véspera de feriado prolongado, eu não pensei duas vezes e fui lá falar com o tiozinho que me fez andar duas quadras e me apontou um prédio bem sinistro.

Entrei atrás de uma moça que parecia ter uns dezoito ou dezenove anos, com um brinco enorme na orelha esquerda. O brinco tinha a forma de uma pena branca. Subimos pelo elevador que tremia mais que tudo, ela sem dizer uma palavra sequer. Chegamos finalmente ao sexto andar. Ela se sentou atrás de uma mesa com uma máquina de datilografia e pediu meus documentos. Em nenhum momento sorriu ou cumprimentou.

Eu estava achando tudo aquilo muito interessante, mas só queria sair logo dali. Entreguei os documentos e ela datilografou meu atestado médico. Cobrou vinte e cinco reais, e depois de uma choradinha, acabou deixando por vinte reais. ME deu um recibo carimbado e eu ia colocando o recibo e o atestado médico na pasta para ir embora quando ela me surpreendeu dizendo: “Um momento, ainda preciso do atestado, tem que fazer a consulta primeiro”.

Cara, aquilo me deixou boquiaberto. Naquelas condições eu nem imaginava que realmente iria ter exame. Mas teve, esperei cerca de dois minutos e uma voz me chamou. Entre por um corredor apertado e entre na única sala aberta do corredor. Um senhor, japonês, coreano, chinês, não sei o que ele era, me perguntou se eu era mesmo o Anderson. Confirmei. Como ele não me convidou a sentar eu fui me sentando mesmo assim sem convite. Ele não olhou para mim um instante sequer. Perguntou minha altura e meu peso. Depois disse para que eu estendesse o braço. E começou a medir minha pressão. Ele bombeou aquele negócio umas três vezes, e não esperou nem mesmo dez segundos, colocou a ponta do estetoscópio no meu braço, mas eu não percebi se a outra ponta estava no ouvido dele. Tudo foi muito rápido, não durou quinze segundos.

Ele me disse para assinar o documento que eu iria levar e eu fiz. Saí de lá tão rápido quanto entrei. Claro que eu não vou revelar o nome do “médico”, mas tenho certeza que se eu tivesse uma câmera escondida ali, venderia a reportagem para o fantástico.

É... pessoal, tem que tomar cuidado com esses caras que ficam vendendo coisas na rua. Aqui em SP a gente encontra de tudo, tem gente vendendo dentes, vendendo atestado de tudo quanto é coisa, diploma de faculdade. Esses tempos atrás tinha um cara que por R$ 3.000,00 ele te entregava um diploma e no outro dia você é advogado. Com registro na OAB e tudo. Era a promessa dele. E uma promessa realmente tentadora.

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