O afogado

Marginal Pinheiros, Morumbi, São Paulo. Seis e treze da noite. Hora do rush. De dentro do trem na estação Morumbi, dona Sônia olha para a monumental construção daquela ponte que está por terminar já a algum tempo. Poucos trabalhadores por ali. A obra será continuada a todo vapor no ano que vem. Afinal é ano de eleição.
O pescoço chega a doer, de tanto se esforçar para olhar pelo vidro pequeno, mas daí ela desiste de continuar olhando porque é simplesmente impossível enxergar o topo. Mas quando olha em direção ao rio, vê algo que a surpreende.
Uma mão na borda do rio, perto dos pequenos arbustos e da vegetação que ninguém sabe como consegue sobreviver no meio à tanta sujeira e mal cheiro daquela água que agora já não é mais água, e sim uma gosma barrenta e fedida. Uma mão. Ali. Solitária. Os dedos esticados para cima como alguém pedindo ajuda porque está se afogando ou já se afogou e partiu desta para uma melhor.
Dona Sônia se apavora. Grita. “Tem um homem morto ali”, ela berra a plenos pulmões. Todos no vagão se esforçam para olhar. E todos então vêem. Um burburinho de “Oh meu Deus” toma conta do vagão onde não cabe mais ninguém. Todos se assustam com aquela cena. Precisam avisar alguém. A polícia? Mas será que foi assassinato? Não, não parecia ser. O mais provável na opinião de todos ali, era que algum trabalhador tivesse caído das obras de construção da ponte e se afogado. Mas ninguém viu essa criatura caindo?
É nesse momento que vários descem. Ficam ali na plataforma olhando, outros já ligando para a polícia ou para só Deus sabe onde. Mas aquela mão não pode ficar ali. Alguém tem que fazer alguma coisa, mas quem meu pai eterno? Quem é que vai pular naquela água correndo o risco de não voltar mais, ou se voltar, chegar sem os cabelos? Os minutos vão passando. Finalmente uma sirene. Corpo de bombeiros. Não dá para chegar mais perto por causa da grade, por isso os bombeiros usam uma escada.
Se esticam, se esforçam e conseguem chegar perto. Preso a uma corda, um dos bombeiros, um homem bastante forte é abaixado, para pegar o suposto afogado pela mão e içar o corpo para o alto.
Então ele puxa. E qual não é a surpresa de todos ao ver que não existe corpo nenhum. É apenas uma luva de algum dos trabalhadores que caiu lá de cima. Esta hora alguém pode estar procurando por ela. O bombeiro xinga. A platéia ansiosa, gargalha. A estação volta ao seu ritmo normal. O palavrão é ouvido e repetido pelo Francinaldo lá do alto da construção, que já está a mais de uma hora procurando pela sua outra luva que desapareceu.

7 comentários:

Anderson,

Adoreiiii...rs..rs..rs......

kkkk....essa foi muito boa...

meu anjo entra no msn e a dayane quero muito falar com vc, ja que não tem mais orkut !

hum bom,bom,bom....continuarei...Janaina

há há há!!!!! Era pra rir ?????

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