O Funk e a decadência brasileira

Uma crônica sobre o estilo musical que tomou conta do país.

A certeza imaginária

Uma reflexão sobre os comportamentos de quem encontrou a pessoa certa.

Magnólia

Três histórias surpreendentes em que todas acontecem no Edifício Magnólia no Rio de Janeiro.

Pais e Filhos

Um retrato de quem passou para a fase adulta sem esquecer dos valores de infância.

Dormindo com o inimigo

A violência contra a mulher é o tema principal deste artigo.

Paraíso

Talvez por uma razão como falta de dom, ou algum outro motivo que minha mente débil e catatônica desconhece, não fui agraciado com a dádiva da fé, mas sim a da dúvida. Meu cérebro sempre argumentador, inclinado a encontrar razões no imaginável e forçando a busca por respostas a perguntas metafísicas e inevitáveis sempre encontrou no questionamento das coisas um pouco de sentido para essa reles existência. Quando eu era criança e também na fase adolescente, eu sempre seguia meus pais à sua igreja, mas hoje não consigo me lembrar se era porque gostava ou simplesmente por uma questão de imposição. Foi então que um dia, estava eu numa das minhas noites de ócio de domingo, sem ter nada para ler ou fazer em casa, com os amigos longe e viajando e sem ninguém por perto. Resolvi dar uma volta. Sempre passei na frente daquele prédio amarelo, onde uma banda tocava uma música espetacular. Decidi certa vez entrar só para ver como era aquele ministério, talvez nem fosse ficar até o fim, mas a banda tocava extraordinariamente bem. E fui. Entrei e fui tão bem recebido que não senti vontade de ir para casa. Me sentei lá no fundo, onde eu pudesse ficar um pouco mais afastado, não querendo me envolver tanto assim, afinal, eu estava ali apenas como espectador curioso. Fiquei impressionado. Voltei no domingo seguinte, e percebi que os sorrisos eram genuínos e os apertos de mão, calorosos. Parecia tudo tão harmônico que comecei a sentir uma paz muito grande, algo parecido como água sobre uma brasa acesa. Paz de espírito. Alguns integrantes da banda eram diferentes. Mas o que mais me chamou a atenção, que ainda é algo que não consigo entender, foi a maneira dos fiéis demonstrarem sua fé. Há aqueles que choram, outros que bradam, e ainda outros que parecem ter entrado num tipo de transe, um êxtase divino. Olho curioso para aquela cena, mas minha mente adepta ao ceticismo e a tudo aquilo que não posso comprovar e contestar, essa minha mente delicada não processa aquilo. Subitamente muda o hino e o condutor canta de forma apaixonada, fervorosa, junto com toda a nave da igreja. Cantam uma letra tão profunda, tão penetrante que quase me fez chorar. Não iria chorar ali no meio de quase trezentas pessoas, mas senti aquele arrepio frio que sobe por todo o corpo e se concentra na cabeça. Algo que talvez os mais ortodoxos chamariam de presença espiritual. É evidente que algo mudou no meu modo de ver as coisas naquela noite, e em todas as outras de lá para cá. Mas enquanto não encontro as respostas de que preciso, continuo indo. Me faz bem. Amém.

Compartilhe

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More