Silêncio!

Silêncio, psiu, nem um pio. Não vou dizer mais nada. Se ela não ligar, eu é que não vou cometer esse desatino. Outro não, por favor. Ela não veio, depois de prometer na segunda, na quarta, e acho que na sexta também. E depois que já havia passado das nove da noite é que resolveu dar o ar da graça, como se nada tivesse acontecido, como se minha opinião e o meu sentimento não valessem nada. É por isso que eu não vou sorrir, não vou perguntar se está tudo bem, por mim que se dane eu não ligo. Não vou perguntar como foi o dia e se o cachorro comeu, se a tia enfartou, se o primo bebeu além da conta, se alguém surtou. Não me interessa. Da minha parte não vou ligar, não vou perguntar nem quê nem por quê. Também sei me fazer de difícil, tenho meus momentos. E quando teimo, nem mesmo uma aquariana vai me fazer mudar, nem desemburrar, nem falar. Silêncio. A chuva teima em cair. Estou no meu trabalho, quando a vejo chegar. Ela me olha e eu retribuo o olhar, um olhar qualquer, o mesmo que ofereço a um desconhecido na rua ou alguém que me pede uma moeda. Ela diz oi e eu repito. Oi. Nada mais. Tá achando que é fácil assim? Silêncio, silêncios, ausência completa de ruídos. Não ligo se teve que resolver um milhão de problemas e por isso não deu tempo de vir, mesmo que tenha acordado à uma da tarde ou às seis da manhã, porque na noite anterior teve festinha (?) e eu, claro, não fui (convidado). Não me importa se a festinha era de família, ou se estava chovendo quando chegou aqui. Não me importa se o novo emprego começa na próxima segunda, ou se a chapinha estragou, ou se a unha lascou, ou se o cachorro morreu, ou se a mãe passou mal, ou se as visitas demoraram a ir embora. Nada disso me interessa. É esse o motivo do meu desdém. É o motivo pelo qual não estou nem um pouco afim de discutir, falar, causar. Silêncio, abstenção voluntária de falar, pssssiuuuuu, cale essa boca. Não quero saber se tem motivos pra clandestinidade, ou se alguém não vai entender, que se dane o resto do mundo que não ta nem aí para nem um de nós, nem eu, tampouco ela, esse mundo de perversos, ignorantes, e filhos da puta, que não estão nem aí desde que pague suas contas e limite-se a balançar a cabeça para algo ou alguém só porque é o que todo mundo faz. Quero meus direitos, apelo para o meu direito de ser ouvido, de ser abraçado, de ser acalentado. Vida real, abaixo o virtual. Coisa viva, palpável, calor, humor. E enquanto ela insiste em continuar com as mensagens de texto, que nada mais são do que formas anônimas de esconder o que se realmente tem pra dizer, eu me canso, meus dedos já não suportam o toque desse teclado duro, chato e feio. Meus dedos se calam, meu silêncio grita. Quero som, ela imagem. Quero real, ela virtual. Quero junto, ela... (o que ela quer mesmo?). E no meio de tantos disparates, no meio de tantas desinteligências começo a me perguntar o porquê de tudo isso. Chega! O telefone vibra, que droga! Pare de me mandar mensagens. Tá me achando com cara de Twitter? E assim, enquanto eu me desabo em verborragias, e nessa catilinária que nada tem de preponderante que apenas traz aquela vontade interna, incontrolável de sangrar e me desesperar, ela se mata de tanto rir da minha desgraça. Eu me calo. Nem um pio.

1 comentários:

Hoje a realidade é diferente... Sem silencios... mas sim muitas palavras, muitas com o calor vivo e palpavel de um sentimento... O AMOR!!

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