Viagens Insólitas


Conheço esse trajeto. Esse caminho é antigo. É o mesmo que eu costumava fazer quase todas as manhãs de sábado. Estou outra vez na estação Socorro, aqui em São Paulo. São oito e quarenta da manhã e hoje é um dia qualquer de 2007, mas eu estou com pressa. Quando entro e me sento em um banco marrom, me pergunto o que estou realmente fazendo ali. O ar condicionado gela minha imaculada camisa branca e eu sinto o gosto doce do gelo.
Meus ouvidos são agraciados pelo som da voz de Marina Elali cantando One Last Cry e eu me pergunto por que os trens não podem ser como os metrôs, três ou quatro vezes mais rápido. A música acaba, mas a função “repeat” já está ativada no meu celular, e assim vou até a estação Pinheiros. De lá, entro em uma lotação que vai até o bairro da Casa Verde, mas descerei bem antes, em uma rua onde há um hotel chamado Filadélfia. O carro faz uma curva e encosto a cabeça no vidro. Durmo.
Acordo no carro do meu pai, aquele antigo Monza prata, seguindo o fluxo dos carros que agora seguem em sentido bairro pela Avenida Estrutural em Brasília. As duas pistas seguem em sentido único. Sentido bairro. De manhã, a companhia de tráfego irá inverter o fluxo e só será possível usar a Estrutural no sentido centro.
Procuro uma boa música no meio daquela babel de rádios de Brasília, pior do que as de São Paulo e paro quando ouço Duran Duran cantar A Matter of Feeling. Olho para o painel do carro. São 19h44min de 11 de agosto de 1997. É a última coisa que vejo antes do carro sair da pista e se chocar contra um poste. O que vi depois foi a poeira. Senti o sangue escorrer pelo meu nariz e em seguida as luzes do hospital.
Acordo oito anos depois numa noite quente em Goiânia quando os termômetros da cidade marcavam 21º C. Calor. Sudorese. Saio para caminhar pela Avenida Tocantins vendo as luzes de natal. Em um carro parado está tocando Lighthouse Family cantando “High”. Olho tudo ao meu redor como se fosse a última vez, prestando atenção a cada detalhe.
Quando a música termina, aperto um botão no celular e tudo vira silêncio na madrugada em minha cama. Respiro fundo e viro para o lado, antes que algum som me leve daqui pra qualquer outro lugar, para outra viagem insólita.

2 comentários:

aiaiai...até que enfim algo de novo para ler nesse blog!
beijus

mandei e-mail. espero que vc tenha um tempinho assim que sair do trabalho e leia. rs
beijus*

Postar um comentário

Compartilhe

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More