La Solitudine

Para Igor, a hora mais fria e profunda começa as vinte e três e trinta quando ele entra em casa. A ausência dos barulhos, o escuro da casa e tudo que nela existe, agora servem apenas como ingredientes para aumentar a nostalgia.
Os retratos na parede que tanto dizem, agora estão adormecidos, dormindo e descansando em silêncio. Ele olha para a bagunça da casa e não se importa. As visitas se foram há muito e ninguém restou para reparar naquela pequena confusão. O edredom está revirado na cama, os livros estão espalhados pelo sofá, os tênis e sapatos fora do lugar.
É nessa pequena babel que ele insiste em ficar. Afasta alguns livros, senta-se no sofá após o banho frio e agora as interrogações e as vozes em sua cabeça voltam com força. O silêncio gritante que ribomba em seus tímpanos agora quer falar.
Na penumbra ele pensa e repensa, procurando respostas que nunca chegam e que o colocaram naquela situação. Sente falta de companhia, às vezes não sente. Às vezes lamenta estar ali quando não precisaria estar, e às vezes se alegra por estar ali naquele estado: sozinho. Sozinho ele pode chorar, rir, cantar alto, dançar seus passos mal ensaiados. Pode dormir e sonhar com o que bem quiser.
Igor quer sair dali, ir para outro lugar, mas está perdido, está dividido entre se deve ir ou voltar. Ou se deve fazer o que vem fazendo há tanto tempo: nada. Simples e absolutamente nada. É um coadjuvante de sua própria vida, não o ator principal. E ali, na penumbra ele vê os dias irem e virem, aleatórios, automáticos e fora de controle.
E enquanto as horas passam e os minutos insistem em não mais voltar, ele olha o escuro da noite pela janela do quarto querendo ponderar o imponderável, prometer a si mesmo o que talvez não possa cumprir: ficar sozinho, não mais. Adiós Solitudine.

1 comentários:

É... Já ouvi falarem nisso.
Mas tudo muda pode ter certeza.

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