O preço do desejo

O telefone celular de Augusto Pena tocou exatamente as quinze para as quatro de uma tarde de sábado. Era o marido dela. Mas Augusto não sabia. Como também não sabia que na relação de amantes que Francine possuía, ele era o número dezessete. E essa lista iria aumentar a cada final de semana.
Atendeu. E por vários minutos ouvindo a voz do outro lado daquele fatídico e malfadado sinal, Augusto soube da verdade, e muito mais que ele não queria saber. A voz contava detalhes dos encontros amorosos entre ele e Francine. Desde a época em que ela jurava pelo próprio filho que Augusto era o único homem da vida dela e nada mais importava. Tudo não havia passado de uma grande rede de mentiras.
Uma hora e doze minutos depois, Augusto desligou o aparelho. As lágrimas não cessavam. Pareciam ter vida própria, simplesmente não paravam de verter. Aquilo não iria ficar assim.
No dia seguinte, abandonando emprego, tudo e todos, ele cruzou o país a bordo de um Boeing e sua próxima parada foi em Buenos Aires onde passou a morar. Mas no fundo de sua alma sabia que um dia iria voltar e resolver aquele assunto inacabado ao seu próprio modo. “Uma vendeta”, ele dizia em alto e bom som para quem quisesse ouvir.
A vingança começou numa tarde de domingo, mais precisamente às cinco e meia da tarde quando o vôo JG3046 partiu de Buenos Aires em direção à Guarulhos-SP. Já fazia doze anos que Augusto havia saído de seu país com o coração ferido e partido, e até aquele momento, não cicatrizado. A aeronave taxiou na pista e ele desceu. Tinha uma missão pela frente.
Durante uma semana a seguiu. Tudo ali era vagamente familiar. Os horários, as saídas, os lugares. Estava do mesmo jeito como havia sido a doze anos atrás.
Com uma identidade falsa, Augusto alugou um veículo, pagou à vista e estacionou a alguns metros da casa do marido de Francine. A noite caía rapidamente e a chuva fazia a escuridão chegar bem mais rápido do que o esperado. De dentro do carro ele viu os três saírem. Primeiro ela, depois o filho e em seguida, o marido. Ligou o carro e a caçada havia começado.
Duzentos e trinta quilômetros depois, os carros estavam em uma auto-estrada, um lugar deserto. Augusto ultrapassou o veículo e a menos de dez metros e a cento e sessenta quilômetros por hora, ele sabia que o momento havia chegado. Passou a mão no cinto de segurança e em seguida assegurou que o encosto para a cabeça estava seguro. Respirou fundo e sem pensar, pisou com força no freio e puxou o freio de mão ao mesmo tempo.
Com a inevitável batida, Francine e o marido foram arremessados para a frente mas o cinto de segurança evitou o impacto das cabeças contra o painel. A fumaça saía sem parar.
Augusto, afastando o air-bag de sua frente, ajeitou a arma por debaixo do blazer preto que estava usando, abriu a porta do carro e saiu. Olhou no interior do veículo e após checar que todos estavam desacordados, cortou o cinto de segurança das suas vítimas. Carregou os três até o porta-malas do carro que havia dirigido.
Olhou ao seu redor e nem uma viv’alma passava por aquela estrada àquela hora da madrugada. Entrou novamente em seu carro alugado e dirigiu mata adentro. Quatrocentos metros depois parou, voltou correndo até o outro carro, onde antes estavam as vítimas e empurrando com a pouca força que restava em Augusto, conseguiu levar o carro amassado mata adentro.
Abriu o porta-malas e os três estavam ainda desacordados. Retirou um a um, amarrou todos e com uma pá, cavou muito e profundamente o solo afofado pela chuva e não parou até chegar à nove metros de profundidade.
Francine estava acordando. Sua cabeça latejava. Em seguida seu filho acordou e por último o marido. Francine tentou gritar, mas não conseguiu. Sua boca e a de todos os outros havia sido tapada com uma espessa fita adesiva. Quando seus olhos cruzaram com os de Augusto, o terror brilhou em seus olhos vermelhos e inchados. O momento do acerto de contas havia chegado. Tudo que conseguiu fazer foi chorar.
Naquele momento lamentou tudo que fizera com aquele ser que estava agora em sua frente. Mas não havia mais nada que ela pudesse fazer agora que mudasse seu destino.
Todos estavam acordados agora e o relógio marcava duas e quarenta da manhã. O primeiro tiro acertou a coxa do marido. Augusto sabia que ele ficaria ali naquela posição sangrando até o último suspiro. Morreu com os olhos abertos, esbugalhados olhando para a mulher.
O corpo foi jogado na vala e em seguida, incinerado. A seguir, o segundo tirou perfurou a coxa do filho e igual ao pai, o menino tombou e com os olhos arregalados suspirou pela última vez olhando para a mãe. “Eles morreram por sua causa”, Augusto dizia a Francine a cada momento. Mais um corpo jogado na vala.
Mas ele havia reservado o pior para ela. Com um cinto, deu uma surra em Francine. A seguir, com um pedaço de ferro quente, fez marcas em todo aquele corpo que ele havia penetrado tantas vezes.
O dia já estava quase a nascer e a tortura ficava cada vez pior, mas Augusto não deixava que ela morresse. Ia fazer com que ela sentisse ainda mais dor. Quando viu que seu objetivo havia chegado ao fim, chutou o corpo da mulher até a cova que havia cavado. Derramou ainda mais gasolina e o fogo crepitou e a absorveu.
Francine sentiu o cheiro de carne queimando e sabia que era a sua. Morreu olhando o vazio. Augusto, sem remorso algum iniciou o fechamento da cova. Afundou o carro num rio, acendeu um cigarro e sorriu sentindo as gotas de chuva tomarem conta de seu corpo.
Sabendo que sua justiça havia sido feita com suas próprias mãos, entrou no carro, sorriu mais uma vez e partiu.

6 comentários:

É... essa foi. Mas gostei de escrever essa estória. A algum tempo atrás eu tinha visto algo parecido, mas tinha sido o contrário, a mulher matou o marido, serrou o cara e assou no forno. Dá pra acreditar?

Que mau gosto,nossa vc sempre escreve coisas mais interressantes. Um abraço amigo.

Infelizmente não dá pra agradar todo mundo.

Um abraço
"amiga".

nossaa, que macabro...mas isso acontece mesmo, a amrgura de um coraçao pode levar um apessoa a cometer atos terriveis... história forte viu, e andgustiei de le-la do começo ao fim...

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