Cidade Maravilha

Sempre tive vontade de conhecer o Rio de Janeiro. Desde pequeno. A gente que vive em são Paulo sabe que quase não dá pra fazer muita coisa que saia do eixo casa-trabalho, às vezes, mesmo nos finais de semana. E quando o cara é como eu que trabalha que nem formiga, aí é que a coisa fica complicada mesmo. Mas naquele sábado não. Eu ia conhecer o Rio de qualquer jeito. Não importava se fosse sozinho ou acompanhado, com chuva ou sol, de ônibus, carro ou avião. Se fosse preciso, até com meu skate eu iria. Cheguei e a horrível temperatura de vinte e sete graus às seis e meia da manhã me recebeu de braços abertos. Entrei no hotel mais punk que encontrei, liguei o ventilador no máximo e me joguei na cama. Dormi três horas e levantei com a disposição de um atleta. Não tinha a menor idéia do que fazer ou de para onde eu deveria ir. Entrei num ônibus que vai para o Méier e me senti como Ed Motta. Desci no ponto do Maracanã, quando na verdade queria mesmo ir era para São Januário, reduto do meu Vascão. Visito o estádio ignorando a cara feia dos flamenguistas me olhando torto, eu com minha camiseta do São Paulo. O tempo está firme e agora quero ir para o Cristo. O segurança então me “ishplica” o roteiro e cinco minutos depois estou no metrô. Meu estômago dava voltas, meu nível de adrenalina lá em cima. Sento em um dos bancos do metrô, ao lado de uma loirinha linda. A mais linda que eu havia visto até então este ano. Ela me diz que se chama Cínthia e que mora no Leme, enquanto eu não paro de reparar aqueles olhos muito verdes atrás de um par de lentes com aro violeta. A conversa flui numa boa, mas é que nem naqueles sonhos que a gente raramente tem e se diverte; justo na melhor hora o despertador resolve trabalhar. No meu caso foi a estação. Quase resolvo ir até o Leme com ela e depois voltar. Mas minha cota de aventuras já tinha ido longe demais para um só dia. Salto me amaldiçoando por não ter pegado um telefone ou seu email. Tardiamente vem aquele “click” e eu volto para o vagão, mas o trem fecha as portas e segue em frente. Maldito. Perguntas ali, informações aqui e agora estou nos pés do Cristo. Entro numa daquelas vans do Cosme Velho e me jogo no banco de trás. Um grupo de quatro moças chega em seguida. Depois três franceses. Lá no alto, no Mirante, uma mão toca meu braço: “Moço tira uma foto da gente?”, uma delas me pergunta e eu obedeço prontamente. Elas se juntam numa pose e eu tento parecer gentil: “O que vão querer? Corpo todo? Só dá cintura pra cima?”. O tempo fecha e começa a chover. Caramba, logo agora? Chegamos lá em cima no Cristo e o que dá pra ver da Baía de Guanabara é apenas um borrão escuro do Pão de Açúcar. Nos decepcionamos mas o passeio tem que continuar. Nos despedimos lá em baixo no Cosme Velho e trocamos telefones. Mas meu queixo ainda estava caído por uma delas, que agora conversa comigo de um jeito tão fácil e tão à vontade que parece que já nos conhecemos há muito tempo. Coincidência ou não, as quatro entram no mesmo ônibus que eu. Eu já estava lá atrás quando ouço: “Handerson, venha ficar aqui com a gente”. Quase não acredito. Saímos dali e fomos para São Cristóvão. Ela se senta do meu lado no restaurante e todo mundo conversa e se diverte. Fotos, histórias, risadas. Ela quer saber o que significa os números tatuados no meu pulso direito e claro que eu ia fazer charme. Não conto. Tiramos fotos juntos, todos nós e agora está ficando tarde, está na hora de nos despedirmos de verdade. Desço na Candelária e sigo para o Hotel. Horas depois acordo na minha cama aqui na Zona Sul de São Paulo sem saber se tudo aquilo foi mesmo real ou se não passou de uma das minhas paranóias. Talvez um delírio.

Nota: Quero aproveitar para agradecer profundamente o pessoal do Rio, que me ajudou dando informações mais que precisas. Povo alegre, sorridente, caloroso, com sangue nas veias. Agradeço ao comandante lá no Maracanã que me “ishplicou” calmamente o roteiro para chegar ao “Crishto Redentor” umas três vezes com uma paciência de Jó, quando meu cérebro retardado não gravava muita coisa (gostaria de ter tirado uma foto com ele). Agradeço também à Cínthia, do Leme, que me auxiliou muito além de me proporcionar uma viagem maravilhosa no metrô. Ao segurança no elevador do Cristo, que esconde que torce pro Vascão pra galera não zoar e que pacientemente lidou com a minha câmera idiota, tirando fotos minhas com as meninas de Taboão da Serra que eu conheci lá no Mirante. E todos os que indiretamente me auxiliaram nesta viagem muito mais que utópica. Muito obrigado!

3 comentários:

Este comentário foi removido pelo autor.

fez um charminho né...
é bom saber que fizemos parte da sua historia... que vc lembra até dos minimos detalhes rsrsrs

Poisé me lembro sim, foi muito legal mesmo conhecer tudo e todo mundo. Espero que essa história nao tenha terminado la naquele ponto da Candelaria. Voces tem meu telefone, liguem quando puder ok? Abraços

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