Uma resposta

Há dois meses eu estava em viagem de férias na casa dos meus pais, e de repente me lembrei que quando eu ainda morava lá, havia no meu antigo quarto, uma abertura no forro de pinus, que dava acesso à fiação da casa. Coloquei uma cadeira por sobre uma mesa e removi a tampa, lá no alto havia ainda aquelas enciclopédias antiquérrimas do meu pai e uma caixa que eu havia colocado lá e nem me lembrava que existiam. Eu tenho a mania de arquivar tudo que eu vejo. Contas, cartas antigas, cupons de supermercado, ingressos de cinema, tudo. É um hábito antigo. E quando o mundo ficou digital, tudo foi arquivado em emails e discos virtuais: conversas de MSN, antigos emails, fotos e recados que as pessoas mandavam (e depois diziam que não tinham sido elas), tudo está devidamente registrado. Encontrei umas cartas antigas, eu tinha dezesseis anos na época, o ano era 1996. Eram cartas da minha primeira namoradinha, a Marina. Na verdade, a gente nem sabia o que era isso na época, então posso dizer que foi meu primeiro amor, minha paixonite de aborrescência. Anexado à carta dela com um clips, estava a minha resposta que nunca cheguei a enviar e agora não me lembro o porquê. A carta dizia que ela estava feliz por estamos juntos, e que nada nesse mundo iria nos separar, que ela queria envelhecer do meu lado, e ter filhos comigo quando chegasse a hora. Muito bonitinha a carta, confesso que novamente me emocionei. Por isso, agora, quase quatorze anos depois quero responder sua carta.

“Querida Marina*,

Só agora quase quatorze anos depois é que decidi dizer o que eu sentia por você. Você foi para mim o que eu achava que era uma namorada, era a menina que eu dormia e acordava pensando. Você despertou em mim um tremor novo, a primeira emoção do que mais tarde vi que chamavam "amor". E jamais me esqueci, do seu medo de altura quando passávamos por aqueles viadutos quando eu ia te pegar na escola, nem daquelas tardes que ficávamos na sua casa, conversando sobre tudo e sobre nada, e também não me esqueço daquela noite que seu pai chegou em casa e quase nos flagrou naquela maior pegação e eu tive que ficar escondido atrás da porta do seu quarto, até ele entrar no banheiro e eu escapar fugidio. Aquele foi um momento que ficou registrado na minha cabeça pelos últimos quatorze anos. Você nervosa com aquela blusinha cor creme mostrando os peitinhos cada vez mais excitados, seja pela pegação ou pelo perigo, nunca cheguei a saber. Nunca mais nos falamos depois disso Marina e então passamos a viver nos nossos mundos distantes e paralelos. Sei que deve ter sido feliz e que talvez tenha tido um monte de outras aventuras diferentes, embora jamais tenha se casado (sei porque um amigo me falou). Tenho saudade e inveja daquelas nossas tardes de 1996 onde tudo parecia tão calmo e tão à vontade e não tínhamos nenhuma das preocupações que hoje temos que ter, agora que nos tornamos adultos. Mas não reclamo, afinal, me casei, tive dois filhos e então me separei. Tive um monte de amores de todos os tipos imagináveis, mas acabei me conformando que minha sina era e sempre foi continuar só. Chorei várias vezes, de alegria, outras de dor, outras de desentendimento, mas acabei percebendo que essas lágrimas, se vão muito mais rapidamente do que imaginamos. Tão rápidas como aquela florzinha que um dia você me deu e eu embrulhei num lenço de pano, e que ficou guardada comigo durante quase dois anos, e assim que você viu, jogou fora imediatamente. Bons tempos. Beijo enorme e atrasado pra você.”

* O nome foi trocado, obviamente.

4 comentários:

Parabens pelos seus textos, admiro-os muito.

nosa q bonitinho vc é de ++++++++
adoro seus textos.

acho que muitós de nós temos em alguma caixa, num cantinho escondida, algumas cartas amareladas, com cheiro de passado, de infancia, qeu sempre que mechemos nos remetem a uma epoca perfeita, onde tudo era inexplicavelmente melhor e nao sabiamos...rsss

Amei.... muito tocante,Conheço essa história. Concordo plenamente com o comentário da sua amiga Fernanda. Um grande beijo pra ti. Nety.

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