Farol vermelho

Coloco os pés porta afora e olho o brilho difuso da neblina. Olho para os lados, o carro já está parado lá fora, os vidros escuros. Me aproximo e o vidro se abaixa. Eu já estou sorrindo e então Cameron Diaz sorri e pisca pra mim, e em sete minutos estamos na porta da minha casa. Droga, não era a Cameron. O movimento de levar a mão ao celular é automático, mas sempre que preciso do meu ele teima em não funcionar. Ligo para meus amigos confirmando o show no final de semana, mas essa peste não tem sinal. Mas fica nesse inferno interminável de torpedos que não param de chegar perguntando tudo. Menos o importante. E eu ainda tenho que ficar respondendo. Mas hoje não. Quero que se dane o celular. Desligo, mas já ligo de novo. Eu saio do trabalho às dez da noite e ela sai do curso no outro lado da cidade na mesma hora. O telefone toca desesperado e eu atendo. Não dá pra dizer não. Vinte minutos depois o carro aparece. Não me importa se é o dela. Não me importa se é o do namorado, ou se é o da empresa. Nada disso me interessa agora. Só me importa sentir aquele cheiro de Angel de novo. E é assim que vamos. Aos toques. Às tiradas e colocadas de cinto de segurança a cada farol fechado, ignorando os olhares das pessoas ao redor, vendo a gente se pegar ali mesmo no meio da rua. E enquanto eu a ouço contar como foi o dia e como precisava me ver eu me pego pensando em quanto tudo isso me faz bem. No quanto essa mulher, esse demônio do bem consegue preencher cada lacuna, cada espacinho por mais diminuto que seja do meu ser. Que você, mulher que não conheço e não tenho certeza se quero conhecer, me faz ver as coisas de um jeito que eu nem sequer sabia que existia, mas que me tira do sério e faz meus pés saírem desse chão moribundo e decadente. Não sei se vamos nos ver hoje, ou amanhã, ou se não vamos nos ver nunca mais. Não me importa que seu telefone toque quando você está comigo. O que importa é essa falta. É essa necessidade latente que toma conta de mim. Essa falta que não é falta. É essa vontade de sempre ter uma surpresa, ora no final da noite, ora no começo. É essa busca incessante que me tira a concentração, me faz perder a razão, uma razão que já não me pertence mais. E enquanto eu vejo a noite passar eu penso em tudo e em nada. Desligo esse telefone que não para e finjo que durmo. Quero tudo e nada ao mesmo tempo. Eu quero sim. Quero ouvir você falar da minha barba mal feita, e quero ouvir você outra vez dizendo as palavras mágicas. Quero ver sua mão sem anel. E sua boca a me beijar com raiva e necessidade, como se fosse o último minuto do mundo. E é isso que me dá tanta segurança. A insegurança. É saber que não preciso de você. Porque nossas vontades são complexas e congruentes. Porque nossos desejos são semelhantes e infalíveis. Porque embora vivamos em universos diferentes, sempre encontramos um ponto de equilíbrio. Porque só queremos encontrar uma fonte, nosso “end”. E por mais que procuremos nosso meio termo penso que só chegaremos ao nosso ponto e vírgula, ou talvez ao nosso stand by onde podemos ficar esperando um pouco mais. Um minuto mais. Uma hora mais. Uma vida mais. Não tenho a menor pressa. O céu pode esperar. E eu também.

3 comentários:

Bárbaro Caro! Linda história, são essas pequenas atitudes que fazem a diferença. Essa vontade louca de se encontrarem me faz ver o que vcs sentem e algo muito forte.Sabe todo sucesso está ligado a muita determinação, ousadia, senso de oportunidade, preseverança e também fé. Por isso, nunca desista dos seus objetivos por mais impossível que pareca. "Nada é impossível qdo agente quer". Te curto de montão, suas história são lindas. Sou sua fa número 1. Parabéns.

Nossa, obrigado, pena não saber quem você é, daí poderia agradecer pessoalmente, mas que bom que gostou. Eu adorei. Obrigado pela visita.
Abraços

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