Tenha santa paciência

Detesto gente ignorante, gente estúpida e gente que perdeu o disconfiômetro. Meu celular toca o tempo todo de um número restrito e quando atendo é uma ex-namorada super chata querendo voltar. Odeio desinteligências. Eu tento ser atencioso e mostrar que aquilo não vai dar certo, como não deu na primeira (e ufa! graças a Deus foi a única) vez. Mas ela não percebe, não tem simancol e fica ligando o tempo todo. Liga quando estou cozinhando, quando estou dormindo, quando estou debaixo do chuveiro. E minha paciência vai chegando ao limite, a ponto de encher a tampa e o balaio e eu respiro fundo, conto até cem e faço de conta que levo na esportiva. Mas a vontade é de encarnar no personagem daquela bandida gostosa do filme “Bitch Slap” que pega a moto e encosta o pneu traseiro no rosto do traficante, trava a roda da frente, e acelera com tudo. Mas não dá pra fazer isso. Então que se dane, tchau telefone, até amanhã. Eu aproveito os últimos dias em que posso dormir até mais tarde para ficar enrolando mais um pouco na cama. Tá chovendo, e eu deixei um pouco da janela aberta, e entra aquele friozinho bom que faz a gente se enrolar no edredom e ficar olhando para o dia cinza. Palmas, gritos, campainha. Puta-que-o-pariu. Levanto xingando horrores numa altura que só eu escuto e olho pela janela. Não acredito, é a ex-namorada super chata no meu portão. Como ela sabe meu endereço se ela jamais veio aqui depois que eu me mudei? Agora que ela já me viu não dá mais pra fingir que não estou em casa. Saio enrolado no edredom e finjo estar doente. Ela enche o saco, coisa que ela sabe fazer de melhor e não dá trégua enquanto não abro aquele maldito portão. Mal entra e já vai pulando em cima querendo beijos e abraços e tudo que ela acha que ainda tem direito. Eu esquivo, começo a tossir, desvio, até que ela pergunta o que tem de errado comigo. Eu digo que nada, então ela arranca a blusa e pula mais uma vez em cima de mim e eu falo que não não e não. Então ela olha com aquela cara redonda de bolacha querendo chorar e pede para ir até o banheiro. Vou para cozinha e enquanto a cafeteira deixa o café no ponto escuto o burburinho que ela faz. Como pode existir gente tão ridícula, tão sem amor próprio? A chuva cai com tudo e a ex super chata não faz a mínima menção de ir embora, então vou até o quarto e lá está ela debaixo do meu edredom, as roupas todas jogadas pelo chão. “Cara, será que você não entende que eu não quero nada com você? Será que é tão complicado assim ou eu vou ter que fazer um desenho para você poder entender que você já não existe mais para mim?”, explodo esquecendo tudo quanto é regra de classe, esquecendo que detesto ignorâncias e estupidez. Extravaso, rodo a baiana mesmo, chuto o pau da barraca. Então ela fecha a cara, me olha com aquela fúria nos olhos já vermelhos e nada diz, apenas se levanta e como se tivesse todo o tempo do mundo, veste peça a peça sem pensar no relógio, fazendo de tudo para deixar a situação ainda mais alegre. Vai até a cozinha, acende um cigarro e se serve de uma xícara de café, que toma em dose dupla. Pega um batom vermelho sangue e escreve na minha parede: “eu volto”, bate a porta e desaparece chuva adentro.

4 comentários:

Heiii dá uma chance pra moça! Para de se fazer de díficil kkkkk, beijoss!!!!

Este comentário foi removido pelo autor.

Mas eu já dei a chance. Só que tem gente que não aproveita. rs..rs..

Bjs Ju

ou vc nao deixa a pessoa aproveitar. Da uma chance pra ela.

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