O Funk e a decadência brasileira

Uma crônica sobre o estilo musical que tomou conta do país.

O Reencontro

Aeroporto Internacional de Brasília, 10h57. O Air Bus 737-300, vôo JJ4362 aterrissa em meio à forte neblina, enquanto Edgar leva instintivamente a mão ao bolso interno do blazer e saca o celular para chegar ligações, torpedos e toda aquela parafernália tecnológica da atualidade. Pelas regras que ouviu a pouco mais de uma hora, deve permanecer com o aparelho desligado até que a aeronave pare completamente, mas ele ignora. Há uma ligação perdida, um número desconhecido, que ele não pensa em retornar e investigar. Sabe que se for algo relevante a...

A mensagem

Avenida Interlagos. São Paulo. Domingo. Sete horas da noite. Alexandre está nervoso. Acabou de brigar com Ana, a mulher que ama. Ela vê um recado no Facebook do homem com quem pretende se casar e não consegue segurar a emoção. Diz coisas que jamais diria em outra situação e sabe que vai se arrepender disso. Algumas coisas devem ser faladas no calor da emoção. Alexandre não entende: como aquela mulher que está com ele há três anos pode duvidar de um recado assim tão infantil, que nada representa para ele, uma vez que apenas Ana existe na sua vida?...

As horas

Érica está com pressa, está longe de casa. É noite de domingo e ela precisa acordar cedo na manhã seguinte. Liga o computador para checar e-mails, duvidando que haja algo importante. Afinal, é noite de domingo. Não há novos e-mails. “Melhor assim, posso dormir logo”, ela pensa. Mas há uma pequena luz vermelha num dos três ícones ao lado da logomarca do seu Facebook. Alguém solicita sua adição. As mãos tremem quando vê a foto do Pedro. Já se passaram dois anos, e ele continua exatamente igual, o tempo parece não ter passado para ele. Ela não pensa...

Pretérito imperfeito

Já que com a tecnologia avançada do jeito que está vou fazer algumas exigências: quero voltar da escola as 11h30 da manhã e assistir meu episódio inédito de Flashman por que logo depois vai passar Changeman e todo mundo vai vibrar quando eu contar, já que eu sou o que mora mais perto da escola e ninguém chegou a tempo de assistir, apenas eu. Depois quero passar na padaria e encher meus bolsos de chicletes Ping Pong e Ploc para pegar as figurinhas e fazer uma super tatuagem nova. Em seguida, vou chamar a minha prima para assistir o canal TVS (que...

O funk e a decadência brasileira

O movimento funk é antigo, mas ainda me surpreende. Por onde quer que esteja é possível ver meninos, isso mesmo, meninos, muitos em corpo de homem ostentando suas correntes sejam douradas ou prateadas, os terríveis bonés que cobrem as orelhas e os já tradicionais braços cruzados com as mãos abertas debaixo das axilas, numa demonstração de “quem manda aqui sou eu”.Viro uma esquina próxima da minha casa onde as meninas, se aglomeram próximas de um carro com o som em último volume, onde nas noites de sábado e domingo o “pancadão” rola solto, irritando...

A certeza imaginária

Você descobre que encontrou a pessoa certa, no exato momento em que acorda e o primeiro pensamento vai automático procurando por aquele nome que encontra o seu porque estão conectados de uma forma que não conseguimos explicar. Você tem certeza de que está no caminho certo, quando você não precisa esperar uma ligação que você sabe que chegará naquela fração de segundo em que você pensa e acontece. E no momento mágico do “alô” a voz que entra pelo ouvido causa reações químicas e sudorese intensa, as mãos tremem e tudo que antes doía, já não dói mais...

Magnólia - Cap. 3

O reverendo Mauro Augusto, da congregação Luz Azul havia terminado o seu sermão, mostrando os malefícios causados pelo consumo de álcool, malefícios para o corpo, para o espírito e para a família. Assim que saiu da sua tão amada igreja, deixou a mulher e os filhos em casa, tirou o blazer cinza e a gravata, colocou a camisa para fora das calças e pegou novamente a chave do carro. Disse para a mulher que iria “ali comprar uma coisa”, mas não revelou o seu paradeiro.Parou num supermercado, dois bairros depois do seu, para não correr o risco de ser...

Magnólia - Cap. 2

Edifício Magnólia. Gávea. Rio de Janeiro. A mulher loira sobe correndo os doze andares que dão acesso ao seu apartamento. O elevador está em manutenção, e seus passos, agora de dois em dois degraus, ficam mais lentos, sua respiração mais pesada, riscos de suor começando a aparecer em seu rosto. Precisa chegar logo em casa, ligar o computador, porque já está na hora de falar com seu namorado. Ele está longe, em viagem de férias e ela não conseguiu uma licença no trabalho para ir junto. Mas se falam todos os dias, todas as noites. Finalmente ela...

Magnólia - Cap. 1

Edifício Magnólia. Gávea. Rio de Janeiro. Terceiro andar. Cristina vê a porta do elevador se abrir, e sabe que do outro lado da porta, o pânico e a insegurança a esperam. São oito da noite e o namorado ainda não chegou em casa, mas isso não irá demorar para acontecer. Ela aperta a bolsa contra o peito, procura avidamente pelas chaves, que agora já não tem certeza se servem para deixá-la segura e protegida das atrocidades do mundo, dos latrocínios, homicídios e infanticídios que rondam o Rio de Janeiro, ou se servem apenas para deixá-la presa com...

Pais e Filhos

Acho que a idade finalmente me alcançou. E no meu momento nostalgia, fico me lembrando das surras que eu levei do meu pai, e das vezes que apanhei da minha mãe. Lembro das tardes que minha mãe me fazia ler aqueles livros horríveis e depois eu tinha que fazer uma redação sobre aquilo que eu havia lido. Lembro com saudades das vezes que minha mãe me obrigava a dormir à tarde, para não dormir na aula na manhã seguinte, e  eu jamais havia entendido o porquê disso. Lembro das vezes que meu pai me comprava aquelas garrafinhas de Pepsi para eu levar...

Ato Um

Não é difícil aprender a arte de perder Tantas coisas parecem feitas com o molde Da perda que sua perda não traz desastre.Perca algo todos os dias. Aceite o susto De perder chaves, de perder tempo. Não é difícil aprender a arte de perder.Depois pratique perder mais rápido mil outras coisas: Lugares nomes, onde planejou suas férias. Nenhuma perda trará desastre.Até perder você (a voz que ri, os gestos que amo). Não posso mentir: não é difícil. Não é difícil aprender a arte de perder Por mais que a perda – (anote isto!) – pareça desast...

Insônia

Cérebro acordado, Insiste em ficar ligado, inebriado, narcotizado, insensato, Permanece assim, perpetizado, estupefato, ingrato. É alta madrugada. Alada, infundada, reflexo do que é o nada, malfadada, insiste em ser indelicada, mas continua assim, calada.Enquanto isso eu continuo assim, alerta, desperto, esperto, procurando da noite o fim, algo um tanto modesto, por perto, mesmo que seja de festim.Outra noite se vai, Esvai, como um capítulo passado, atrai, contrai, me trai, me fazendo ficar acordado, abobadado, irritado.Quero minhas cápsulas...

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