Magnólia - Cap. 2

Edifício Magnólia. Gávea. Rio de Janeiro. A mulher loira sobe correndo os doze andares que dão acesso ao seu apartamento. O elevador está em manutenção, e seus passos, agora de dois em dois degraus, ficam mais lentos, sua respiração mais pesada, riscos de suor começando a aparecer em seu rosto. Precisa chegar logo em casa, ligar o computador, porque já está na hora de falar com seu namorado. Ele está longe, em viagem de férias e ela não conseguiu uma licença no trabalho para ir junto. Mas se falam todos os dias, todas as noites. Finalmente ela chega, liga o aparelho e enquanto o maquinário começa a trabalhar, ela corre até a cozinha, pega o primeiro sorvete que vê à frente e se senta na cadeira, jogando os sapatos para um canto. A bagunça pode esperar.
Ele está online. Esperando. Eles se falam, as amorosidades de praxe, ela respira fundo e sabe que tudo está bem, e que restam apenas mais uns poucos dias para que tudo volte ao normal. O telefone toca. Uma amiga chamando para sair, ao que ela declina. Não quer saber de pares de olhos famintos a devorando, no Astoria, o bar que costuma freqüentar quando sai com Marcel. A janelinha do computador pisca enquanto ela desliga o telefone e volta toda a sua atenção àquela tela minúscula, mas que provoca arrepios em todo o seu corpo.
A campainha toca, e ela pragueja. Terá que se levantar e abrir a porta, mas, por que o maldito porteiro não avisou pelo interfone? Claudia olha pelo olho mágico da porta mas não vê ninguém. A campainha toca de novo. “Quem é?”, ela pergunta, ao que o porteiro se identifica e diz trazer uma encomenda. Ela abre e as flores parecem cobrir o corredor inteiro, mas cabem nas mãos pequenas e atarracadas do porteiro. Ela agradece e volta ao computador. Ela abre o cartão, lê e digita um agradecimento, um pequeno verso, e três palavras que a resumem. Pergunta quando Marcel irá chegar, já que ela não agüenta mais de saudades, quer ele ali, para abraçá-la e provocar as sensações que sabe que apenas ele pode provocar. Ele diz que não sabe ao certo, não exatamente, mas que será em breve. Ela pergunta se ele está no hotel, porque assim pode vê-lo pela câmera e terminar pelo menos com um pouquinho da saudade, mas ele não está no hotel. Está na rua, e a câmera ficará para depois.
Vinte minutos se passam. Ela está cansada, precisa de um banho. Ele diz que ela não precisa se preocupar, que demore o quanto for preciso. Quando terminar, ligue para que possam continuar a conversa. Ela deixa o som ligado, Electrical Storm, a música dos dois. Dez minutos se passam, e agora que o banheiro está tomado pelo vapor e suas energias começam a se recarregar, a campainha toca outra vez. “Maldito porteiro”, ela xinga. Ela resolve ignorar e continua no seu banho. Mas o som continua a perturbar, pela segunda, terceira, quarta, quinta vez seguidas. Claudia desiste, veste seu roupão e sai em direção à porta, com a cara amarrada, peculiar das pessoas que não querem ser interrompidas, ainda mais num momento sagrado como aquele. Ela abre a porta com violência, e se prepara para uma descarga catilinária quando ela vê Marcel, escorado no batente da porta. Eles se abraçam, se beijam até se fundirem numa mistura de suor, sexo e White Horse. E a noite segue, com a porta semi aberta do apartamento 1201, as flores amassadas sob seus corpos ao som de U2. E dormem envolvidos numa solução salina, mas não se importam. É a melhor solução que existe.

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