O amor é cego (surdo, mudo e burro)

Do diário de Kevin, meu amigo imaginário, numa vez que esqueceu uma página em minha casa:

Eu já havia ultrapassado meu limite a tanto tempo que nem me lembrava mais de como ele era. Depois de dar o coração, a alma, a família e os filhos eu estava quase disposto a dar a vida também. Quase. Espera aí. Eu disse amor? Sim eu disse. Mas será que o amor além de cego também é burro? Quem em sã consciência troca uma valise com tanto dinheiro vivo por um cheque ao portador com uma assinatura rebuscada e data incorreta? Eu troquei. Deve estar aí a resposta para minha reprovação no teste de sanidade mental. Então eu disse mesmo a palavra amor. Amor. O que é isso? Durante muito tempo eu pensava que amor era perdoar as vezes que fui abandonado, as vezes que sozinho fiquei enquanto meu amor se divertia sem mim, e eu que pensava que amor era doação, altruísmo, colocar-se à disposição, cuidar, querer bem. Eu achava que só amar não bastava, tinha que participar. Eu pensava que amor superasse as besteiras que eu fiz pelo tal amor dementador, que sugava minha felicidade e a pouca alegria que havia me restado. Após os riscos corridos, os sacrifícios feitos, eu achava que finalmente encontraria naquele porto o descanso que eu tanto precisava. Mas eu estava enganado. O porto não estava mais ali, quando o casco do meu navio avariou. E à deriva fiquei, um navio afundando, um astronauta solto no espaço. Sem rumo. Sem eira nem beira. Apenas com um pensamento vivo na mente: “Deus me fará justiça.” Já fazia alguns dias que eu pedia para que meus olhos fossem abertos. E então eles foram. Quando se vive algo tão insano, que é capaz de avançar as raias da loucura você começa a viver na zona branca. E é quando tudo ou nada acontece. Até esse momento eu era infeliz e isso era tudo. O amor não se dissolve, o amor acaba. Como alguém que é atropelado e morre instantaneamente. Acaba assim, o amor. Quem percebe isso ainda tem chance. Quem não percebe vai de graça até o inferno. Eu não percebi. Voltei cada momento: abandonos, falta de credibilidade, desistências. Detesto quem desiste. Não foi azar. Ela não ficou triste. Eu fiquei. Ela não perdeu nada. Eu perdi. Ela apenas mentiu desde o inicio, mesmo sem perceber. Eu aceitei quieto, sem sequer ligar para os sinais. No começo queria apenas gritar. Morreu, afundou, explodiu, acabou o mundo. Queimou tudo. Perdeu tudo. O que você está sentindo agora? Em números, por favor. Em números, dólares, quanto foi? E o telefone foi desligado. Acabaram-se os dias de iogurte, sorvete e tardes horizontais. Deixar um amor dementador é como parar de fumar bruscamente. Você se alucina, passa noites sem dormir e não consegue pensar em mais nada. Mas quando passa a abstinência, é possível ver o tamanho do mal que ele fazia. E começa a viver. No DVD passava “O Conde de Monte Cristo”, Estados Unidos, Inglaterra, Irlanda, 2002. Foi quando meu telefone tocou e a justiça começou a ser feita. Dormi em paz e comecei a cuidar da minha vida.

4 comentários:

Nossa q dramatico!!!
Carla Machado!!!

[purple][b]Nossa que legal essa crônica realmente uma mensagem muito bem feita e que é possível ser claramente transmitida,mas não apenas transmitida, mas sentida ao sofrimento e a realidade desse amor a qual vc relata de forma profunda, e pela força das palavras (me desculpe o atrevimento)mas chega parecer real (quem sou eu para dizer?!) ... Gostei, pouco sei sobre essas coisas, esses sentimento afinal sei que não tenho tanta idade para ter experiência, mas é nessas palavras que prefiro acreditar de alguma forma (idem)...

Meus parabéns mesmo pela crônica, como sempre muito criativo, e mais uma vez profundo........

Beijos
se cuida xaudades meu amigo
Miss World!!!!

Hahahahahaha
Definitivamente, esse blOg deveria ganhar algum prêmiO, ou no mínimo, estar entre Os melhores da net !!!
Sem cOmentáriOs pra esse pOst! rsrsrs
Simplesmente Ameeeii...achO que tOdO mundO já passOu pOr algO parecidO.
AgOra, cOm certeza muita gente vai se identificar com a frase "Quem nãO percebe vai de graça até O infernO" ... muitO bOa! rsrsrs
É nessas hOras que eu penso "PÔxa, ainda bem que eu nãO sou distraída!" rsrsrsrsrs...Pq vamOs combinar que ir aO infernO nãO é bOm nem de graça prefirO cOntinuar aqui Onde estOu nO ParaísO! rsrsrs
Parabéns pelas crÔnicas são muitO interessantes !!!

Vc ainda acredita no AMOR?
Nossa vc está de parabéns decreveu exatamente o que muitas pessoas vivem por aí...Porém a vida é feita de momentos, por tanto o que está feito está feito.
Momentos bons ou ruins temos que continuar a viver, se isso é ser burro?e daí quem não é? quem nunca foi quem nunca será o burro, se o amor nos deixa cego? e daí...todos amamos um dia!
Mais ainda prefiro acreditar que é errando que se aprende...e devemos sim acreditar no amor!
Parabéns o seu blog está show!

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