Foi então que aconteceu que num final de tarde de sábado, não me lembro o mês, mas o ano era dois mil e seis, que estávamos saindo do trabalho, o Gabriel e eu, e estávamos descendo a Rua João Cachoeira no Itaim Bibi, em direção ao Extra, aquele que fica no cruzamento da Leopoldo Magalhães aqui em São Paulo. Caprichosamente o carro não pegou. O Gabriel garantiu que tinha abastecido na noite anterior. Tentamos de tudo. Empurramos o carro, balançamos e nada. Tivemos que ligar para a seguradora. Enviariam um mecânico em no máximo quarenta minutos.
O carro estava parado na ruazinha atrás do Extra e ali estava um rapaz sentado na mureta com uma rosa na mão olhando o longe. Meu amigo entrou no supermercado para comprar algo para comermos, e eu já estava me arrependendo por ter aceitado a carona. Olhei para o rapaz, mas ele não demonstrava impaciência. Mas também parecia estar ali apenas por estar. Ele viu que eu o estava olhando e se apoiou numa protuberância que há no muro, onde passa o relógio de luz.
“Ela virá!”, ele disse. Beijou a rosa e a colocou carinhosamente sobre um monte de galhos secos. Olhei para os lados para dar uma impressão de susto como quem diz: “O quê? Está falando comigo?”. Foi quando ele começou a falar, nunca olhando para mim, mas sabendo que eu o olhava. “Eu amei uma pessoa aqui, neste exato lugar”, ele disse. “Ela vestia calças cor creme, camiseta branca, tênis brancos e usava o cabelo preso num coque. Estava bem ali quando a encontrei”, e com o dedo indicador apontou a esquina em frente ao bar. “Como ela se chamava?”, perguntei, mas ele não respondeu. Apenas continuou: “Ficamos juntos por quase dois anos. Uma noite fizemos amor bem aqui. Lembro-me como se fosse agora, ela numa blusa preta, calça cinza e scarpin. Eu já estava começando a rezar para o mecânico chegar logo, arrumar o carro e irmos embora. Não estava com paciência para histórias dramáticas. “Então todos os dias venho aqui, porque um dia ela voltará para este lugar”, ele disse e tudo que consegui pensar foi: “Meu Deus, que cara burro!”. Olhei pelo retrovisor e nada do Gabriel. Como sou muito impulsivo, não resisti e perguntei: “Mas rapaz, com o mundo inteiro aí para ser explorado e você aí, esperando alguém que provavelmente nem virá, por que não esquece essa mulher e cuida da sua vida?”. Mas ele apenas me disse que o que haviam vivido era tão forte que ele não desistiria de esperar. E ele sabia que ela também o amava, e que ficaria ali todos os dias, esperando ela voltar. Os olhos sempre fixos naquela esquina. Meu amigo Gabriel voltou e junto com ele o mecânico. O carro só tinha um problema: falta de combustível. Saímos de lá vinte minutos depois, mas já estava anoitecendo. Passei por aquela esquina durante dois anos e seis meses e sempre via sentado naquele mesmo lugar, o rapaz. Era sexta à noite e no bar daquela esquina estávamos sentados, eu e o pessoal do trabalho. Olhei pelo vidro molhado pela chuva que caía e lá estava o rapaz. Nunca desistia. Olhei no relógio, eram 11h10min. Alguém se levantou e foi até o Jukebox e mudou a música. Estava tocando Don’t dream it’s over, na versão de Crowded House. Olhei para a rua e vi quando o rapaz se levantou e ofereceu a rosa a uma mulher com cabelo preso em coque, camiseta branca e calça cor creme. Beijaram-se por longos minutos parecendo querer contar uma vida inteira naquele movimento. Eles se olharam nos olhos. Não pareceram dizer nada porque nada havia para ser dito. Respirei profundamente, lentamente, saboreando aquele momento com um sorriso disfarçado nos lábios. Os dois começaram a dançar devagarzinho, molhados, e sob a chuva. “But you’ll never see the end of the road while you’re traveling with me”. Deram as mãos no ar, beijaram-se outra vez e foram embora, rua abaixo, para suas casas eu acho. O lugar de onde nunca deveriam ter saído.
O carro estava parado na ruazinha atrás do Extra e ali estava um rapaz sentado na mureta com uma rosa na mão olhando o longe. Meu amigo entrou no supermercado para comprar algo para comermos, e eu já estava me arrependendo por ter aceitado a carona. Olhei para o rapaz, mas ele não demonstrava impaciência. Mas também parecia estar ali apenas por estar. Ele viu que eu o estava olhando e se apoiou numa protuberância que há no muro, onde passa o relógio de luz.
“Ela virá!”, ele disse. Beijou a rosa e a colocou carinhosamente sobre um monte de galhos secos. Olhei para os lados para dar uma impressão de susto como quem diz: “O quê? Está falando comigo?”. Foi quando ele começou a falar, nunca olhando para mim, mas sabendo que eu o olhava. “Eu amei uma pessoa aqui, neste exato lugar”, ele disse. “Ela vestia calças cor creme, camiseta branca, tênis brancos e usava o cabelo preso num coque. Estava bem ali quando a encontrei”, e com o dedo indicador apontou a esquina em frente ao bar. “Como ela se chamava?”, perguntei, mas ele não respondeu. Apenas continuou: “Ficamos juntos por quase dois anos. Uma noite fizemos amor bem aqui. Lembro-me como se fosse agora, ela numa blusa preta, calça cinza e scarpin. Eu já estava começando a rezar para o mecânico chegar logo, arrumar o carro e irmos embora. Não estava com paciência para histórias dramáticas. “Então todos os dias venho aqui, porque um dia ela voltará para este lugar”, ele disse e tudo que consegui pensar foi: “Meu Deus, que cara burro!”. Olhei pelo retrovisor e nada do Gabriel. Como sou muito impulsivo, não resisti e perguntei: “Mas rapaz, com o mundo inteiro aí para ser explorado e você aí, esperando alguém que provavelmente nem virá, por que não esquece essa mulher e cuida da sua vida?”. Mas ele apenas me disse que o que haviam vivido era tão forte que ele não desistiria de esperar. E ele sabia que ela também o amava, e que ficaria ali todos os dias, esperando ela voltar. Os olhos sempre fixos naquela esquina. Meu amigo Gabriel voltou e junto com ele o mecânico. O carro só tinha um problema: falta de combustível. Saímos de lá vinte minutos depois, mas já estava anoitecendo. Passei por aquela esquina durante dois anos e seis meses e sempre via sentado naquele mesmo lugar, o rapaz. Era sexta à noite e no bar daquela esquina estávamos sentados, eu e o pessoal do trabalho. Olhei pelo vidro molhado pela chuva que caía e lá estava o rapaz. Nunca desistia. Olhei no relógio, eram 11h10min. Alguém se levantou e foi até o Jukebox e mudou a música. Estava tocando Don’t dream it’s over, na versão de Crowded House. Olhei para a rua e vi quando o rapaz se levantou e ofereceu a rosa a uma mulher com cabelo preso em coque, camiseta branca e calça cor creme. Beijaram-se por longos minutos parecendo querer contar uma vida inteira naquele movimento. Eles se olharam nos olhos. Não pareceram dizer nada porque nada havia para ser dito. Respirei profundamente, lentamente, saboreando aquele momento com um sorriso disfarçado nos lábios. Os dois começaram a dançar devagarzinho, molhados, e sob a chuva. “But you’ll never see the end of the road while you’re traveling with me”. Deram as mãos no ar, beijaram-se outra vez e foram embora, rua abaixo, para suas casas eu acho. O lugar de onde nunca deveriam ter saído.
4 comentários:
Muuito boa, estive lendo as outras história, vc tem futuro cara, se bem que hoje em dia um escritor num tem muito futuro... rsrsrs
Zuera!
Parabens! Continue assim.
Eh isso ae!!!
Mano, dahora a historia vei...
O Sr. está de Parabens!
O estranho foi a inspiração dela, mas deixa pra lá...
rsrsr
Abraço
Como sempre muito bom,e q vc tenha sempre essa criatividade , sensibilidade e inspiração e saiba unir todas essas qualidades e transmiti-las nas suas crônicas e poesias para o deleite dos seus fãs q só tendem a aumentar.
Parabéns!!
(obs:nem fui puxa saca né XD)
OOhh!!!
MuitO divertidO esse blog !!!
Faz jus ao nome(?)... rsrsrs
AdooorO
;)
Postar um comentário