Quando a lotação chegou ali perto da Avenida Paulo França, já não cabia mais ninguém no seu interior. Todos os espaços daquele reduto estavam completamente preenchidos, mas o cobrador insistia em dizer: "Só mais um passinho pessoal, só mais um passinho". Dava raiva ouvir todo santo dia aquela mesma ladainha. "Se não der um passinho para trás não dá para o carro sair pessoal". Onde já se viu? Um microônibus daquele tamanho que deveriam caber quinze ou vinte pessoas em pé acomodadas adequadamente, tinha sessenta e três. Uma para cada ano de idade dela.
Dona Irene do lado de fora do veiculo, estudou as possibilidades de entrar, quero dizer entrar não, ficar pendurada do lado de fora, agarrada a um balaustre preso à porta. Três sacolas do Extra em cada uma das mãos. Resolveu. Tomou coragem e entrou. Depois de muito empurra-empurra, conseguiu um lugarzinho do lado do motor, onde deveria existir um banco para o carona, mas apenas existia um espaço vago e foi ali mesmo que ela foi se instalar.
Aquele veículo cada vez mais lotado e a pressão de dona Irene cada vez mais baixa. Colocou a sacola no assoalho e se sentou na tampa do motor. Abaixou a cabeça, esperando um desmaio um vômito ou algo assim, e de repente tudo ficou escuro. Ninguém percebeu que dona Irene estava desmaiada. Era tão comum as pessoas dormirem em qualquer canto de um ônibus ou uma lotação que ninguém deu maior atenção.
Enquanto dona Irene dormia, ops quero dizer, estava desacordada, a atenção de todos ali dentro foi desviada para outro acontecimento. Uma blitz policial fazia o trânsito fluir em passos de formiga naquela pista de uma mão apenas. Do lado de dona Irene estava o bandido, tentando se esconder. A lotação chegou perto e os policiais brandindo seus revólveres como armas do todo-poderoso fizerem todo mundo descer. Foi nessa hora que viram que dona Irene estava desacordada. É claro que ela não desceu para a revista. Mas o bandido foi capturado. Minutos depois todos foram liberados e a lotação seguiu seu curso normal.
Lá dentro do veículo estava uma vizinha, que apanhou as sacolas e com a ajuda de alguns passageiros ajudaram dona Irene a chegar em casa. No momento que a lotação parou, dona Irene começou a acordar. Chegou em casa, agradeceu a todos pela ajuda, fechou o portão e foi guardar as suas compras. Mas havia algo errado. Dona Irene contou oito sacolas. Mas ela só tinha entrado na lotação com seis. Que sacolas pretas enormes eram aquelas?
Dona Irene abriu e quase teve um enfarto do miocárdio. Grossos maços de notas de cinqüenta e de dez reais estavam nas duas sacolas. Ela não contou o dinheiro na hora porque lhe faltou o ar, as palpitações chegaram e ela só teve a consciência de colocar as duas mãos na boca e dizer: Oh meu Deus! Tirou todos os maços da sacola.
O dinheiro estava embrulhado em um saco preto, que estava dentro de uma sacola preta, que estava numa sacola preta maior. No fundo, alguns tabletes enrolados em papel pardo e lacrados com fita adesiva marrom. Dona Irene abriu. Nunca havia visto cocaína em toda a sua vida, e na sua inocência, achou que era polvilho. Mas aquele polvilho estava estragado, não tinha um cheiro muito bom, por isso ela jogou no lixo.
Tudo aconteceu muito rápido. Quando dona Irene estava desacordada, o bandido queria se desfazer daquela prova incriminadora, por isso colocou suas duas sacolas junto dela. Ninguém jamais iria desconfiar de uma senhora de sessenta anos. E assim, dona Irene levou para casa, quase cinqüenta mil reais sem saber, uma rapadura de maconha e dois quilos de cocaína. O dinheiro literalmente caiu no seu colo. E ela não achou isso uma droga.
Dona Irene comprou um carro com aquele dinheiro e nunca mais andou de ônibus. Tampouco contou sobre isso com outra pessoa. O bandido continua preso, só fazendo planos para quando sair, e o gato da dona Irene, pobre gatinho, lambeu grande parte da cocaína jogada no lixo, ficou doidão, saiu numa correria desabalada pela rua e morreu atropelado pelos pneus de uma lotação.
Dona Irene do lado de fora do veiculo, estudou as possibilidades de entrar, quero dizer entrar não, ficar pendurada do lado de fora, agarrada a um balaustre preso à porta. Três sacolas do Extra em cada uma das mãos. Resolveu. Tomou coragem e entrou. Depois de muito empurra-empurra, conseguiu um lugarzinho do lado do motor, onde deveria existir um banco para o carona, mas apenas existia um espaço vago e foi ali mesmo que ela foi se instalar.
Aquele veículo cada vez mais lotado e a pressão de dona Irene cada vez mais baixa. Colocou a sacola no assoalho e se sentou na tampa do motor. Abaixou a cabeça, esperando um desmaio um vômito ou algo assim, e de repente tudo ficou escuro. Ninguém percebeu que dona Irene estava desmaiada. Era tão comum as pessoas dormirem em qualquer canto de um ônibus ou uma lotação que ninguém deu maior atenção.
Enquanto dona Irene dormia, ops quero dizer, estava desacordada, a atenção de todos ali dentro foi desviada para outro acontecimento. Uma blitz policial fazia o trânsito fluir em passos de formiga naquela pista de uma mão apenas. Do lado de dona Irene estava o bandido, tentando se esconder. A lotação chegou perto e os policiais brandindo seus revólveres como armas do todo-poderoso fizerem todo mundo descer. Foi nessa hora que viram que dona Irene estava desacordada. É claro que ela não desceu para a revista. Mas o bandido foi capturado. Minutos depois todos foram liberados e a lotação seguiu seu curso normal.
Lá dentro do veículo estava uma vizinha, que apanhou as sacolas e com a ajuda de alguns passageiros ajudaram dona Irene a chegar em casa. No momento que a lotação parou, dona Irene começou a acordar. Chegou em casa, agradeceu a todos pela ajuda, fechou o portão e foi guardar as suas compras. Mas havia algo errado. Dona Irene contou oito sacolas. Mas ela só tinha entrado na lotação com seis. Que sacolas pretas enormes eram aquelas?
Dona Irene abriu e quase teve um enfarto do miocárdio. Grossos maços de notas de cinqüenta e de dez reais estavam nas duas sacolas. Ela não contou o dinheiro na hora porque lhe faltou o ar, as palpitações chegaram e ela só teve a consciência de colocar as duas mãos na boca e dizer: Oh meu Deus! Tirou todos os maços da sacola.
O dinheiro estava embrulhado em um saco preto, que estava dentro de uma sacola preta, que estava numa sacola preta maior. No fundo, alguns tabletes enrolados em papel pardo e lacrados com fita adesiva marrom. Dona Irene abriu. Nunca havia visto cocaína em toda a sua vida, e na sua inocência, achou que era polvilho. Mas aquele polvilho estava estragado, não tinha um cheiro muito bom, por isso ela jogou no lixo.
Tudo aconteceu muito rápido. Quando dona Irene estava desacordada, o bandido queria se desfazer daquela prova incriminadora, por isso colocou suas duas sacolas junto dela. Ninguém jamais iria desconfiar de uma senhora de sessenta anos. E assim, dona Irene levou para casa, quase cinqüenta mil reais sem saber, uma rapadura de maconha e dois quilos de cocaína. O dinheiro literalmente caiu no seu colo. E ela não achou isso uma droga.
Dona Irene comprou um carro com aquele dinheiro e nunca mais andou de ônibus. Tampouco contou sobre isso com outra pessoa. O bandido continua preso, só fazendo planos para quando sair, e o gato da dona Irene, pobre gatinho, lambeu grande parte da cocaína jogada no lixo, ficou doidão, saiu numa correria desabalada pela rua e morreu atropelado pelos pneus de uma lotação.
1 comentários:
Kkkkkkkkk, isso só nao acontece comigo.
Quem sabe quando eu tiver 60 anos. Muito profundo o seu texto e com uma linguagem otima. Pretendo ouvir novas historias de dona Irene, agora q ela esta bem de vida.
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