Caçadores de Emoção - Parte I

Para minha amiga Thais Lopes Lima...
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Já fazia onze anos que o jornal A Voz do Povo esperava por uma novidade. Sempre as mesmas notícias maçantes estavam fazendo o jornal perder leitores e as despesas aumentarem. Durante muito tempo, o jornal foi ameaçado de fechar.
O tempo foi se encarregando de promover a dispersão dos funcionários. Quando o senhor Helio Braga iniciou seus empreendimento jornalístico, em meados de 1973, o jornal contava com dezesseis funcionários. Nada mal para a pequena comunidade da cidade de Campos. Desde então, as novidades não eram mais novidades e com o senhor Hélio agora, só restaram três funcionários.
Mas naquela madrugada do dia dois de outubro enquanto o senhor Helio Braga acompanhava a impressão dos últimos exemplares do jornal, um sorriso brilhou no seu rosto. Aquela era talvez a reportagem que salvaria o seu jornal. E salvou.
Quando o dia amanheceu, a reportagem invadiu as casas dos habitantes de Campos e os deixaram perplexos. A reportagem de capa dizia: “ASSALTO AO BANCO UNIAO – BANDIDOS FOGEM LEVANDO 18 MILHÕES”. Como o senhor Helio previa, seu telefone não parou de tocar aquele dia, e com toda certeza, o prestigio d seu jornal aumentaria. Novos tempos promissores o aguardavam.
A policia da cidade de Campos passou todo o dia empenhada na busca aos assaltantes, mas nada fora descoberto. A cidade tinha pouco mais de oito mil pessoas. Naquele dia as pessoas se perguntavam qual era a razão de dezoito milhões de reais estarem no poder de um bando em uma cidade que parecia estar esquecida pelo resto do mundo.
A tranqüila comunidade estava alerta. Muito dinheiro havia desaparecido e ninguém ainda havia sido apontado como suspeito. Os bandidos entraram no banco depois de cortarem o fornecimento de energia da rua onde ficava o banco. A população dormia a sono alto quando eles entraram, fizeram os vigias de reféns e levaram todo o dinheiro embora. Os bandidos saíram tão rapidamente quanto entraram. Em vinte e três minutos exatos levaram tudo que podiam em sacos grandes e pretos e fugiram em duas caminhonetes.
“Um crime perfeito”, como dizia os moradores locais. Os bandidos, algum tempo depois reconhecidos pela policia como sendo, Augusto e Paulo Silva Borges eram primos em primeiro grau e eram trabalhadores em uma empresa de segurança, na cidade vizinha, Arcos.
Depois de tramarem meticulosamente seus planos, participou junto com eles Luiz Carlos Frota, conhecido por eles apenas como Frota.
O dinheiro seria levado para uma casa velha e abandonada que iria servir como esconderijo. Ali seria distribuído em partes iguais e cada um dos três seguiria em um rumo diferente, prometendo a si mesmos esquecer tudo, mudar um pouco a aparência e aproveitar todas as coisas boas que o dinheiro pode comprar. Mas os planos não ocorreram como eles imaginavam.
Na noite de dois de outubro, o terceiro homem, o Frota havia saído para comprar algumas cervejas em um posto de gasolina a vinte quilômetros dali. Não se preocupou em deixar os outros dois para trás com dinheiro, porque não havia como fugir. As duas caminhonetes usadas no assalto foram afundadas em um rio a vários quilômetros dali. Só havia agora o Ford Blazer que naquele momento estava a poucos quilômetros do posto.
Frota olhava a todo instante pelo retrovisor, certo que estava sozinho naquela estrada que parecia ligar o nada a lugar nenhum, ma todo cuidado era necessário. A noite foi ganhando uma tonalidade amarelada com as nuvens pesadas de chuva. Uma tempestade estava para chegara. Mas ele conseguiu chegar ao posto antes da tormenta. Entrou na loja de conveniências enquanto a chuva lá fora açoitava o lugar.
Comprou toda a bebida que pretendia comprar, pagou em dinheiro, sorriu para a balconista e para o senhor no caixa e foi embora. Tudo normal, mas por dentro ele era um turbilhão de nervos. Entrou no blazer e três quilômetros depois o veículo parou por falta de combustível. Comprara o que queria, mas esqueceu completamente da gasolina. A maldita gasolina.
Ali parado, apenas observando o clarão dos relâmpagos e ouvindo o granizo se arrebentar contra o veículo junto com as grossas gotas de chuva, começou a abrir as garrafas de cerveja e bebeu. Não havia se dado conta de quanto havia bebido, quando sua cabeça girou e ele desmaiou sob os efeitos do álcool.


Augusto e Paulo tentavam contar tanto dinheiro com alguns litros de uísque na cabeça. Já haviam perdido a conta várias vezes. E foi numa nova tentativa frustrada de contar o dinheiro que tudo começou. A sala onde estavam agora tinha uma espessa camada de fumaça próximo à luz que pendia do teto. Numa pequena mesa num canto da sala estava o cinzeiro abarrotado de pontas de cigarros já queimados. A luz fraca só contribuía para o cansaço dos dois. Já estavam acordados por quase quarenta horas, mas naquele momento, dormir não era importante. Contar o dinheiro sim.
Por diversas vezes Augusto questionou a importância de se fazer aquela contagem uma vez que o jornal A Voz do Povo havia divulgado o valor do assalto. Mas Paulo insistia na contagem. Augusto mais uma vez perdendo a concentração nos números em meio a tanto dinheiro, soltou um berro na sala: “Mas que merda!” o impropério foi acompanhado de um forte tapa com a mão espalmada na mesa e fez Paulo se assustar e também perder a contagem daquele maço de notas.
Muitas pessoas quando estão sob o efeito estuporante do álcool fazem coisas inesperadas que se arrependem depois. Paulo agora sabia disso. Após longos minutos de discussão entre ele e Augusto a briga passou para a agressão física.
Um forte soco acertou Augusto e o fez girar e cair. Caiu, levando imediatamente as mãos à cintura. Sacou o revólver e disparou três vezes.
Paulo não teve tempo de pegar a sua arma e então fortes dores dilaceraram o seu corpo. O primeiro tiro acertou seu ombro esquerdo, o segundo no estomago e o terceiro a poucos centímetros do segundo. Ele ficou ali, deitado, o sangue se espalhando pelo chão, os olhos esbugalhados olhando para o vazio.
Augusto, se desesperando com o assassinato que acabara de cometer, apanhou duas sacolas de náilon pretas, onde estava escondendo o dinheiro, colocou nas costas e caminhou em direção à porta, pronto para fugir, ignorando a tempestade que devastava tudo lá fora.
Olhou pela ultima vez para o céu lá fora, sentindo as rajadas de vento salpicarem seu rosto com gotas de água e então um forte relâmpago cortou o céu. Um trovão quase o ensurdeceu. Lembrou então da capa de chuva, e antes que pudesse se virar, o primeiro tirou o acertou nas costas. Ainda teve tempo de se virar e ver Paulo com a arma na mão, antes que a arma fosse descarregada no seu corpo.
Paulo não resistiu. Ao ver o corpo de Augusto ali no chão, fechou os olhos e deu seu último suspiro. Os dois estavam mortos. A porta aberta deixava a fraca claridade da luz vazar para a imensidão da noite. A estrada ficava a algumas centenas de metros da casa, mas mesmo de longe, aquele ponto claro indicava que havia uma casa ali.


A princípio eles não notaram, mas quando a chuva foi se dissipando, algumas horas depois, eles conseguiram ver a velha casa. Era ali que eles iriam pedir ajuda.
Eles estavam a caminho de mais uma aventura. Charles e Sonia já haviam feito quase de tudo em matéria de aventura. Já haviam desafiado a maiores ondas nos mares mais bravio do planeta, já haviam saltado inúmeras vezes de pára-quedas e “bungee jump”, já haviam escalado um dos picos mais altos do mundo e verta vez passaram treze dias cruzando fronteiras a bordo de um balão.
Tinham planos de atravessar os oceanos em um pequeno barco, mas agora estavam sem destino, passando por diversas cidades e lugares em seu Pathfinder. Foi a sensação de liberdade e aventura que fez com que os dois se aproximassem e fossem viver juntos.
O Pathfinder tinha tração nas quatro rodas, mas a estrada de terra tinha grandes surpresas. Um enorme buraco fez as duas rodas da frente ficarem presas, e por mais ré que fosse dada, o veículo não saía do lugar.
Charles já havia parado de reclamar e estava com as duas mãos no alto do volante, a cabeça apoiada nas mãos quando Sonia avistou a luz. Animaram-se novamente ao perceber que existia um sinal de vida por ali (ou seria de morte?).
A idéia inicial era que Charles fosse até a casa e trouxesse ajuda enquanto soia aguardava dentro do veículo. Mas aquela era uma região muito isolada e nenhum dos dois aparelhos celulares recebia sinal. Como já haviam passado por tantos perigos e aventuras juntos, resolveram encarar mais aquela.
- Que fim de mundo! – dizia Sonia a todo instante.
- Essa chuva acaba com qualquer um – Charles disse tentando fazer da mão uma proteção para os olhos – e essa luz vinda dessa casa faz a gente imaginar que estamos um filme de terror.
- Parece a casa da Bruxa de Blair – disse Sonia, enxugando em vão o rosto com a camisa que usava por cima da camiseta branca.
A pequena casa estava a poucos metros agora. Charles bateu palmas. Sonia iluminava o redor com uma lanterna.
“Olá, tem alguém em casa?”, Charles gritou. “Ola”.
Nenhuma resposta. Como a chuva não dava trégua foram se aproximando da porta. Sonia abafou um grito com as mãos, deixando a lanterna cair quando viu os pés de Augusto estirado no chão.
“Oh meu Deus”, dizia Sonia sem para enquanto Charles a amparava.
“Temos que avisar a polícia”, ele disse, mas se lembrou no mesmo instante que não podia retirar o veículo dali e os telefones celulares não funcionavam.
“Vamos sair daqui Charles, estou com uma péssima impressão deste lugar”, Sonia disse, “confie em mim, vamos embora”.
“Querida espere. Não há mais ninguém aqui”, Charles disse quase sussurrando, “vamos ver o que temos aqui dentro”.

1 comentários:

Andeeeerson, tava devendo um comentario.

Bom sempre dei a desculpa que estava pensando em algo bom para escrever, e realmente, eu estava, mais nao encontrei.

Em primeiro lugar, queria agradecer você por em tao pouco tempo de amizade ter essa consideração por mim, a ponto de escrever essa historia.

E em segundo, me desculpar por muitas vezes sumir,juro, nao é por querer.

E terceiro, fazer um humilde pedido (kkkk), quando eu mandar torpedo pra voce me responda, pois posso ser um pouco ausente, mais nunca me esqueço de você.

Abraço!

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