Ainda mergulhado em seus devaneios de vingança, ele avistou outro par de luzes à sua frente. Era uma nova oportunidade, mas desta vez ele estava disposto a não derramar mais sangue. Resolveu uma abordagem diferente. Pisou ainda mais fundo no acelerador e encostou-se ao veículo. Então astutamente jogou o carro de um lado ao outro da pista até que a colisão lateral foi inevitável. Os dois veículos pararam.
Dentro do Pathfinder, Sonia e Charles se perguntavam a todo o momento se aquele era o fim. O Blazer parado ali na sua frente bloqueando a pista criava com seus faróis uma visão fantasmagórica da realidade. Tentando demonstrar calma, Charles desceu do veículo.
“Ahn, você está bem?”, ele perguntou indo em direção ao Blazer.
“Desculpe-me senhor”, Frota disse, a voz engrolada simulando certa medida de embriaguez.
“Tudo bem, acho que nenhum dos veículos ficou muito danificado”, Charles disse, “talvez tenha sido apenas alguns arranhões”.
“É, talvez”, disse Frota, “tem uma lanterna aí?”.
“Ah sim claro”, Charles caminhou de volta ao Pathfinder, mas o mesmo instante se lembrou que a lanterna havia fiado na casa. Foi tanta pressa para sair que ele não se lembrou de apanhar a lanterna que ficou ali, ao lado do corpo morto de Augusto.
“Desculpe. Acho que não estou com a minha lanterna”, Charles falou a poucos passos do Pathfinder.
“Não se preocupe, acho que tenho uma aqui”, Frota disse e andou em direção ao Blazer. O cheiro de álcool estava forte, mas mesmo assim ele fez questão de tropeçar e simular sua própria embriaguez.
Frota ligou a lanterna e foi em direção ao Pathfinder. Iluminou os veículos. Apertou os olhos e viu que um líquido vazava do Blazer. A conversa entre ele e Charles não iria chegar a lugar algum e Charles abaixou-se para ver se talvez conseguisse descobrir a origem do vazamento.
Foi o que Frota precisou para em três segundo desviar a luz para o interior do veículo de Charles e ver os olhos de uma Sonia apavorada no banco do carona. Ao fundo varias mochilas de náilon pretas. A caçada havia chegado a fim. Com um movimento rápido golpeou Charles na nuca, que caiu sem jeito no asfalto ainda molhado.
Sonia soltou um grito e sem pensar tentou passar para o banco do motorista para quem sabe atropelar aquele homem, em seguida trazer Charles para o interior do carro e desaparecer dali, mas Frota já estava com a arma apontada para ela que não teve alternativa a não ser aceitar seu destino.
“Nem pense nisso!”, disse frota apontando a arma em direção a Sonia, “pensou mesmo que seria fácil assim levar meu maldito dinheiro?”.
“Do...do que está falando”, Sonia gaguejou olhando para Charles ainda imóvel no asfalto molhado.
“Cale essa maldita boca sua vadia. Desça do carro bem devagar. Vamos brincar de transportadora de valores. Primeiro vamos colocar todas as sacolas no seu carro. Que droga você arruinou o meu carro! Tire tudo da mala do Blazer, faça tudo bem rapidinho e eu prometo que mato você e seu namoradinho bem rápido. Garanto que não irão sentir dor alguma.”
Sonia era só lagrimas e soluços e levou um susto quando Frota gritou: “agora!”, e a empurrou pelas costas. Trôpega, caminhou os poucos metros que separava um veículo do outro. Começou o trabalho de movimentar o dinheiro.
Frota foi até o carro, abriu outra garrafa de cerveja e veio bebendo, encostou-se à frente do carro e ficou olhando sua vítima naquele trabalho que já estava deixando exausta.
Charles abriu um olho e viu o mundo na vertical. Sua cabeça sofria pontadas excruciantes de dor, mas ele precisava de uma idéia rápida, certeira, clara e fatal. Fechou mais uma vez o olho e pensou.
Sonia já havia descarregado quase todas as mochilas do interior do Blazer, agora já dava para ver o engradado de cervejas no banco de trás. Esticou o braço e puxou o engradado para perto de si.
Frota inclinava a cabeça para trás afim de melhor apreciar sua bebida agora quente. Sacudiu a garrafa para ter noção de quanto ainda restava dentro dela. Faltava pouco para acabar. Do outro lado do veículo, Sonia segurava outra garrafa pelo pescoço pronta para atacar seu oponente ao menor sinal de vacilo dele.
Com a garrafa na mão direita e apoiando outra mochila na mão esquerda, foi caminhando em direção ao Pathfinder, quando Frota, num movimento arremessou a garrafa no asfalto, estilhaçando-a. Neste movimento, a arma que estava na mão esquerda caiu no chão e disparou. O estampido quase ensurdeceu os três e num movimento de abaixar para apanhar a arma, frota acidentalmente chutou a arma para mais longe de si.
Charles levantou num salto e correu em direção ao homem agarrando-o pelas costas e derrubando-o no chão. Os dois homens rolaram se esbofeteando, mas Charles ainda estava levando a melhor. Sonia aproximou-se com a garrafa cheia ainda na mão e no instante que Frota ergueu o punho para desferir um soco em Charles, a cabeça do bandido ficou por dois segundos exposta. Ela só precisou de um. Acertou com força a cabeça do homem, causando um barulho oco, seco e viu o homem tombar.
Frota ainda conseguiu se mexer e quando tentou levantar, Sonia fez um movimento cortando o ar com o pedaço da garrafa que ainda estava em sua mão. A lamina do vidro cortou a garganta de Frota como uma faca quente cortando um pedaço de manteiga. Ele caiu mais uma vez, as mãos tentando conter o sangue que esvaía do seu corpo.
Charles e Sonia correram para seu carro, batendo as portas enquanto Frota em seus últimos movimento tentava se reerguer. O carro saiu em velocidade máxima. Frota caiu outra vez, perdendo o sangue e as forças. Piscou lentamente os olhos e viu a arma ali no chão. Apanhou e rastejou em direção ao Blazer. Por baixo do carro, viu o outro veículo desaparecendo na escuridão da noite.
Em seu ultimo movimento esticou o braço direito, fez pontaria e atirou. No instante que seu dedo indicador fez o movimento de puxa o gatilho foi que perceber que estava deitado sobre a poça de gasolina que vazava do Blazer. O clarão foi a ultima coisa que viu antes do calor das chamas fustigarem seu corpo conduzindo-o direto para o inferno. Uma passagem só de ida.
O jornal A Voz do Povo abriu a semana com a matéria de capa em letras grandes: ASSALTANTES DO BANCO UNIAO ENCONTRADOS MORTOS – Quem assumirá a culpa pelos dezoito milhões queimados?
Sonia e Charles olharam um para o outro e sorriram. Jogaram o jornal para o lado e voltaram para o quarto. Ela jogou seu corpo por sobre o dele e perguntou: “e então? Vai assumir a culpa pelo sumiço do dinheiro?” ele apenas olhou para ela com desaprovação e meneou a cabeça em negativo. Ela virou para o lado, o abraçou e apenas murmurou: “muito menos eu”. E dormiram profundamente.
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