Paradoxos e Antíteses

De todas as minhas esperanças em frangalhos, das minhas vontades diluídas, dos sonhos frustrados, o que mais me chateia são os meus desenganos e essa minha terrível mania de arquivar coisas pra ver depois. E depois de olhar dezenas, centenas de fotos dos meus filhos que irei imprimir e fazer um enorme mural na parede do meu quarto, me confronto com uma pasta que não esperava encontrar. Apesar de querer guardar tudo, tudo acaba ficando uma bagunça, pois tem pastas que não coloco nome e fica por ai vagando pelo ciber espaço nesses inúmeros discos virtuais que eu uso. A pastinha Resolução Menor me chama a atenção e dentro há oitenta e cinco fotos, e me arrependo na mesma hora de ter sido tão curioso. Eram fotos antigas, que mostravam uma antiga vida, uma antiga casa que morei, uma antiga mulher que um dia me casei. E como num download cerebral, que nem aqueles do filme Matrix, uma vida inteira passa na tela à minha frente em oitenta e cinco fotos. E essas fotos me chateiam e me revoltam quando lembro. E eu sinto raiva por vê-la abraçando meus filhos sorrindo, enquanto eles choram e parecem querer me dizer alguma coisa que eu só consegui entender anos depois. Olhos são as janelas da alma. E as vezes da dissimulação. Sinto raiva e sinto uma paz. Sinto raiva da situação. Não tenho raiva de ninguém. Apenas da minha desinteligência que tanto luta pra existir nem que seja só de passagem e por algum tempo. Mas, detalhista como sou, não ia deixar mesmo na época a câmera sem registrar a data. E essa data me assusta. E eu não quero mais ver essa droga dessas fotos, mas aquela curiosidade era maior. E depois de tanto tempo, de tantas idas e vindas eu senti por um segundo, que aquela vida mais que medíocre que eu levava me fazia falta. E nesse segundo eu quis ter aquela vida outra vez, mas no segundo seguinte, outro download mental descarrega na minha cabeça e varre essa insanidade. E agora que já fechei a pasta sem apagar seu conteúdo, porque essa minha mania de guardar é mais forte, eu paro e penso naquela música do Engenheiros: “Pensei que era liberdade, mas na verdade, eram as grades da prisão”. E que pelo menos essa chuva que não pára já faz cinco horas, leve consigo em suas enxurradas esses desatinos desgarrados.

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