Os outros

Meu celular toca desesperado em algum lugar do meu quarto, um lugar que eu não tenho a menor idéia de onde seja. Estou afundado no meu headset super potente, jogando meu jogo favorito no meu super computador e não estou nem aí para celular. É tarde e a essa hora, a única pessoa que me interessa falar, já deve estar dormindo. Então numa percepção quase que extra sensorial eu retiro os fones super potentes e abro a porta do quarto. A luz do telefone está quase se apagando. Olho e vejo que tem mensagem, mas que estranho, não conheço aquele número. Ops, eu conheço esse número, mas não me lembro dele, porque é um número que fiz questão de apagar da lembrança. A mensagem diz que sente minha falta e que quer falar comigo. Como não me lembro de quem é o número, deleto sem nem me dar o trabalho de querer saber quem é. Menos de cinco minutos se passam e o aparato trabalha de novo. Uma ligação. No meio da noite. De um número restrito. Odeio ligações de números restritos, porque me deixa com a sensação de impotência, vira um elemento surpresa e eu não gosto de surpresas. Só as que vêm em embrulhos pequenos (como dizia John Gray). Então ela diz: sou eu, a fulana. E quando eu pergunto qual fulana ela só responde: “seu ex amor”. Puta que o pariu. O que essa fulaninha tá querendo agora? Ela quer conversar, quer que sejamos amigos, como a gente era antes da presepada toda. Mas não dá. Digo que não posso ser seu amigo, porque não confio nela. Nunca confio numa loira que saiba cruzar as pernas. E numa fração de segundo eu me lembro do choro e do ranger de dentes quando eu soube da verdade pouco menos de um ano atrás. Me lembro também das vezes que me desabafei com meu ex “amigo”, sem saber que era ele que na verdade estava me apunhalando pelas costas, ouvindo meu desespero e esquecendo instantes depois quando estava nos braços dela. Malditos traidores. Que queimem no inferno. Quero ficar com raiva, quero ficar irado, quero sentir raiva, ódio e sofrimento quando aquela lembrança passa, mas estranhamente, eu simplesmente começo a rir. Aquele riso gostoso porque eu me lembro agora que já não sinto mais nada. Nada, nadica de nada. Apenas tenho vontade de abrir a geladeira e comer todos os potes de sorvete que eu comprei há dias, mas que nunca nem desembrulhei. Olho para o porta-retrato do lado da minha TV e vejo aquele sorriso mais lindo do mundo, e então percebo que tudo aquilo, as ligações, as mensagens e emails passados, junto com tudo pelo que passei, pelo que chorei e pelo que eu sofri, foram pontes que me conduziram para o bem maior, para alguém que realmente valesse a pena. Alguém que estivesse sempre comigo, que fosse interessante, linda, absurdamente inteligente e que estivesse afim do mesmo que eu. Corro os dedos pela sua face protegida pelo vidro, desligo o computador e corro para minha cama, onde seu cheiro ainda está no travesseiro, lembranças da manhã. Respiro fundo e adormeço, querendo que a noite passe logo pra gente se ver mais uma vez. Essa parte da minha vida, essa pequena parte, se chama: felicidade.

2 comentários:

Anderson soriso lindo, bom acho que não existe dentista ai hem? KKKKKKK!!!

ai que lindo gostei dessa,

pensa q não fusso aqui é!kkk

bjus SAUDADES!!!

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