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Já passa da meia noite e eu não consigo parar de olhar aquelas fotos. Também não me sai da cabeça todos os momentos. Tenho memória fotográfica que quase nunca falha e quando nas raras vezes que falha, o computador se encarrega de fazer funcionar. E enquanto eu ouço “We Just don’t care” em volume máximo (nos meus fones super potentes, para não acordar os vizinhos extremamente chatos) e as fotos rolam soltas pela tela, eu me lembro de tudo. Ela entrando pela sala com jeans e blusa preta, com mochila nas costas, o primeiro toque de mãos, o primeiro beijo enquanto esperamos a porta do elevador se abrir, o medo (?) de alguém pegar a gente ali, o primeiro avião que vimos pousar lá em Congonhas quando estávamos lá no alto olhando o aeroporto depois que saímos da igreja quando sei que entendemos dez por cento do que o pastor falou em inglês, quando fomos junto pela primeira vez naquela igreja que todo mundo falava tudo menos português, e eu comprei aquele livro naquela banca de revistas, que paramos só para carregar meu celular. Aquele livro que jamais abri novamente e só comprei para sei lá, quem sabe impressionar, ou enfeitar minha estante, porque a capa era bonita, mas a historia nem era tão interessante assim, já que eu já havia visto o filme e sabia o enredo de cor. E agora que ela está viajando, e a essa hora da madrugada já deve estar no décimo sono (e eu pentelho fico mandando torpedos SMS), eu fico aqui lembrando de todos os detalhes. Sua blusa branca esvoaçando enquanto caminhamos demãos dadas por um parque, enquanto eu a beijo tanto que seu brinco se perde, lá em cima na roda gigante, quase cinqüenta metros do chão, e a gente não sabe nem mesmo por onde começar a procurar, se é que isso será possível. Já passa das nove da noite, e amanhã cedo teremos que acordar cedo para começarmos mais um dia, e nossas roupas molhadas nos trazem frio, mas ela não quer continuar a usar meu agasalho, que eu ofereço de coração, talvez por não saber que explicação dar, já que sua bolsa é tão pequena, mas isso não importa. O que importa é sentir novamente aquele cheiro inconfundível, que só aparece quando ela está por perto, e transforma meu dia, minha semana, meu mês. Aquele cheiro que dá vontade de ficar beijando pelo resto da vida, mas não dá porque agora que ta em época de copa, o jogo do Brasil já acabou e temos que voltar aos nossos trabalhos, ignorando tudo ao redor, quando tudo que queríamos eram reprises de tudo que aconteceu nesses noventa minutos onde esquecemos tudo e todos. Nosso amor, meu queixo ferido de mordidas, o lençol desmanchado pelas marcas da manhã, e no final ela dizendo: “desculpe pela bagunça que eu deixei para você arrumar”. Que se dane a bagunça, eu quero mesmo é saber quantos minutos faltam para ela voltar, para me amar aqui novamente, e dizendo naquele sorriso mais lindo do mundo, que me ama e que sentiu minha falta, e que nada mais importa, desde que estejamos juntos. Tudo que quero é vê-la se queixando da comida do shopping que veio muita e que ela vai deixar os tomates pra lá por que já se encheu, mas ainda tem muito no prato, e eu não consigo ajudar porque a minha veio mais ainda e eu já não agüento mais. Tudo que quero é ver aquele sorriso, ousado, enquanto ela enche minha boca de torta de limão só para sentir aquele gosto que não vem de uma colher e depois iremos direto para o meu quarto onde nosso amor fala mais alto que todos os idiomas e que o tempo parece passar tão rápido que as horas parecem ter vida própria mas duram apenas trinta segundos. E agora que a noite chega quase ao seu fim, eu penso e repenso em tudo que aconteceu, e vejo que não poderia estar mais feliz. Feliz porque vivo talvez pela primeira vez em tanto tempo algo que sei que não existe só no meu mundo delirante de idéias e imaginação. Ela existe e se importa. E já não me interessa mais os desatinos ou se dirão que estou louco ou se estou em uma de minhas metonímias. O que me importa é sentir seu cheiro no meu travesseiro enquanto eu tenho que virar de lado porque seus arranhões no meu peito, barriga e costas não me deixam dormir direito, porque doem a cada movimento e meu desejo é somente acordar de madrugada sentindo aquele corpo lindo, gostoso e maravilhoso ali, aninhado em meus braços, enquanto respiro fundo o cheiro do seu cabelo que invade cada célula do meu ser. E quando vejo que isso talvez não passe de um sonho, tão pertinho de chegar ao seu clímax, eu acordo e numa prece silenciosa agradeço por um presente tão divino, uma graça tão colossal (adoro a palavra “colossal”, é raro as chances que eu tenho de dizer, mas eu adoro) que parece nem mesmo existir. Pelo menos até meu telefone tocar novamente e eu ver aquele número que tanto alegra o meu dia. Mas como está tão tarde, prefiro dormir. Com um pensamento apenas na lembrança. Hoje eu preciso te encontrar de qualquer jeito nem que seja só pra te levar pra casa, depois de um dia normal, olhar teus olhos de promessas fáceis e te beijar a boca de um jeito que te faça rir. Hoje eu preciso te abraçar sentir teu cheiro de roupa limpa, pra esquecer os meus anseios e dormir em paz. Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria em estar vivo. Hoje eu preciso tomar um café ouvindo você suspirar me dizendo que eu sou o causador da tua insônia, que eu faço tudo errado sempre. Hoje preciso de você, com qualquer humor com qualquer sorriso, hoje só tua presença vai me deixar feliz, só hoje.

4 comentários:

Nossa... profundo por demais.
O Amor transforma as pessoas. É o sentimento mais nobre que alguém possa obter em seu coração.

Quando eu mais precisava de alguém, você surgiu, não nos conheciamos, não sabiamos da existência um do outro e mesmo assim quando nossos olhos se cruzaram, nossos corações invadidos pela afinidade, pela atração, pelo carinho,senti que naquele momento minha busca pela felcidade havia terminado, enfim te encontrei.
Estamos procurando juntos um caminho para seguir e podemos acreditar que tudo dará certo no fim, mas uma coisa você pode ter sempre certeza, qualquer que seja a situação, em todos os momentos, estarei sempre ao seu lado.

Gente.. vc roubou a fala de Elle Driver do filme Kill Bill... achei extremamente divertido.. kkkkk
abç

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