Depois que todos os convidados se foram, e agora só há a sujeira dos restos de bolo, papéis e pedaços de salgadinhos da festa de trinta anos do Hugo, foi que a Lídia resolveu entregar o presente. Um envelope branco. Dentro há duas passagens para Auckland na Nova Zelândia. Ela sabe que o Hugo tem o desejo ainda não realizado de saltar de Bungee Jump de uma famosa ponte lá. O agradecimento? Um sorriso enorme, um beijo e uma abraço ao som de Tony Braxton cantando Spanish Guitar.
Cinco de dezembro. Dez da manhã, horário local. Lídia vê lá de baixo com um binóculo, o Hugo colocar os equipamentos. Primeiro os mosquetões, depois a solteira, depois o capacete. Ele chega em frente ao precipício, grita "Te amo Lídia" e salta. Cai durante alguns segundos. Ela sorri, Realizou o desejo do namorado.
Cinco de dezembro. Dez da manhã, horário local. Lídia vê lá de baixo com um binóculo, o Hugo colocar os equipamentos. Primeiro os mosquetões, depois a solteira, depois o capacete. Ele chega em frente ao precipício, grita "Te amo Lídia" e salta. Cai durante alguns segundos. Ela sorri, Realizou o desejo do namorado.
Dez e cinco. Os olhos arregalados de Lídia vêem o pior. A ponte tem cento e três metros de altura. A corda tem cento e dez metros. Lá em baixo, só há um corpo estirado, murcho como um balão de água furado. A seguir o desmaio.Vinte e quatro de dezembro. Noite de ação de graças. Véspera de natal. A ceia está servida mas Lídia está sozinha. A comida esfriou. Só um copo cheio de Chivas Reagal em uma das mãos. Na outra, um Lucky Strike aceso. Lá fora um casal aos amassos ouvindo também Spanish Guitar. O som sobe os sete andares e teima em entrar no apartamento da Lídia.
Meia noite. Natal. Lídia olha para a foto do Hugo na parede. Vai até a sacada e chora. Vê os fogos colorirem os céus. Dorme ali mesmo na sacada, ao relento.
Vinte e cinco de dezembro. Natal. Lídia liga seu MP3 e sai em direção à praia. Senta-se na areia, olha o infinito e se levanta. Caminha em direção à água. Os pés somem, a água agora já chega aos joelhos, cintura, seios, rosto. Ela não pára. O MP3 parou de tocar Tony Braxton porque já entrou água. O céu está cinza. Cinza escuro. Preto. Vazio. Nada. Lídia desaparece sob a água. Nunca mais foi encontrada.
Vinte e cinco de dezembro. Natal. Lídia liga seu MP3 e sai em direção à praia. Senta-se na areia, olha o infinito e se levanta. Caminha em direção à água. Os pés somem, a água agora já chega aos joelhos, cintura, seios, rosto. Ela não pára. O MP3 parou de tocar Tony Braxton porque já entrou água. O céu está cinza. Cinza escuro. Preto. Vazio. Nada. Lídia desaparece sob a água. Nunca mais foi encontrada.
Na praia, horas depois um menino mostra à mãe um MP3 que a maré trouxe para a praia e comemora o achado. No apartamento de Lídia um telefone toca desespeardo. Ninguém atende.
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