Contra o tempo - por Handerson Pessoa

Quanto vale o tempo? Helga Kristjánsdóttir pensava nessa questão enquanto andava pela tranquila rua de Grandavegur em Reykjavik. Tinha acabado de brigar com o namorado. E enquanto pensava, uma moeda de 10¢ caiu do bolso da sua mochila e saiu rolando asfalto abaixo.
Foi quando começou a pensar sobre o tempo. Quanto tempo essa moeda vai rolar antes de parar? Vai parar? Quanto tempo ela ia demorar para chegar a pé em sua casa? Quanto tempo iria se passar para que o namorado ligasse desesperado pedindo que ela reconsiderasse a decisão? Por que ela tinha pedido um tempo para pensar se tudo o que ela mais queria era ficar com ele o tempo todo? Por que as pessoas pedem tempo? Para ver se com o tempo as pessoas mudam? E se a pessoa não mudar e o tempo passar? E se a pessoa mudar e o tempo não quiser voltar? Vale a pena o tempo perdido esperando o tempo passar e as coisas se acalmar?
A moeda continuou descendo a rua. Até que caiu num bueiro. Daí ela olhou para trás e viu quanto tempo tinha perdido correndo atrás de poucos centavos. A moeda era irrecuperável. Pegou o telefone celular mas não telefonou. Mandou uma mensagem. "Boa noite... eu ainda te amo muito. Beijos."
Quanto tempo ela iria esperar? Quanto tempo ele iria aguentar? E ela que a tanto tempo estava planejando aquela semana. Depois de amanhã seria o primeiro aniversário de namoro dos dois. Depois de tanto tempo finalmente estava feliz. O tempo finalmente estava jogando para o time dela. Um dia por causa de uma discussão, após encontros e desencontros e muitos xingamentos, o tempo foi pedido por ela. Ele bufou, falou um monte mas no fim se resignou. Concederia o tempo que ela quisesse. Ela precisava de um tempo para se reorganizar.
Mas e o tempo que tinha passado? O que fazer com ele? Guardar numa gaveta? Ela esperou um tempo, enquanto o tempo se arrastava sem fim, pegou uma caneta e um bloco de papel e gastou seu precioso tempo, escrevendo suas memórias, suas histórias já vividas, em vez de criar novas. E ali sentada em sua cama, pensando no tempo que estava perdendo esperando o tempo passar ela chorou no mesmo momento que começou a tocar sua música favorita: After All. Ela e o namorado eram fãs de Delerium.
Pegou suas folhas já escritas, enrolou e guardou na mochila. No dia seguinte colocou as folhas enroladas numa garrafa e seguiu pela rua de sua casa, o oceano estava perto. Lacrou a garrafa e atirou com toda força no mar. E pensou em quanto tempo aquela garrafa levaria para ser encontrada. Quanto tempo alguém gastaria lendo aquilo? Olhou para o relógio e viu que estava atrasada para a escola. Não podia perder tempo. Na aula desconcentrou-se pensando: quanto tempo é preciso para vermos que pedir tempo só nos fará na verdade perder tempo? Pediu licença à professora, e no caminho do vestiário, ligou pro namorado:"Ian, a quanto tempo! Que saudades de você! Vamos recuperar o tempo perdido?"
Tic...Tac...Tic...Tac...

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