
Olhou concentrado na pequena caixa de West nas suas mãos. Com aquele dinheiro não dava para comprar outra. Bela hora para parar, ele pensou. Era a hora do almoço e ele foi para o bar. Além do cigarro, o jogo era outro dos seus vícios. Raramente ganhava, mas naquela manhã achava que poderia ter sorte. Anotou quatro números do código de barras do cigarro e foi até a mesa do apontador.
O sorteio corria ao meio dia e com um MP3 ele ouvia os resultados na mesa da copa da firma onde trabalhava. Não conseguiu segurar um pequeno grito e um soco na mesa quando soube que ganhou. Cinquenta centavos haviam se transformado em novecentos e oitenta reais.
Recebeu o dinheiro três horas depois. Estava no caminho de volta do banco para a sua firma. Parou e apostou de novo. Dez reais nos mesmos números e outros quinze reais em números diferentes. O sorteio agora do jogo do bicho acontecia às quatro da tarde.
Do computador ele acompanhou os resultados. Não acreditou no que viu. Outro palpite correto. Dezesseis mil, quatrocentos e cinquenta e dois reais e dezoito centavos.
Do computador ele acompanhou os resultados. Não acreditou no que viu. Outro palpite correto. Dezesseis mil, quatrocentos e cinquenta e dois reais e dezoito centavos.
Queria comemorar ali na frente de todo mundo, mas se conteve. A lei trabalhista diz que um funcionário pode ser demitido por justa causa pela prática constante de jogos de azar e ele não queria correr esse tipo de risco. Receberia sua pequena bolada no dia seguinte em outra agência para não levantar suspeitas. Era o seu dia de sorte. Fez outras apostas para o sorteio das 18:30 mas não pegou nada. Não se importou. A apenas algumas horas atrás ele estava preocupado por ter apenas cinquenta centavos. O dinheiro multiplicou espantosamente num dia só.
A sorte finalmente havia batido à sua porta e Edmundo não queria desperdiçar nenhum minuto daquele maravilhoso dia. Entrou na lotérica apanhou diversos bilhetes, marcou todos e foi para casa. Acabou dormindo por causa do excesso de vinho. Tinha medo de dormir e acordar com seus cinquenta centavos no bolso.
Acordou com uma terrível dor de cabeça. Chegou atrasado no trabalho. Brigou com o gerente e foi demitido. Ia embora daquele lugar no fim do dia. Abriu um portal de notícias na Internet. Conferiu os números e vomitou ali mesmo no cestinho de papel debaixo da sua mesa. O sorteio número 735 teve apenas um ganhador. Vinte e três milhões, novecentos e setenta e nove mil reais e um troco.
Levantou-se da cadeira, foi até a sala do gerente e disse para ele enfiar aquele emprego ele sabia
onde. Foi direto ao banco, recebeu o prêmio, transferiu para outra conta. Uma semana depois estava em sua casa de praia, sentindo a areia quente nos pés, olhando para seu pequeno barco luxuoso. Andou pelo píer e entrou no barco. Pegou sua caixa de West, amassou e jogou na água. Nunca mais, ele disse para si mesmo. Mas como homenagem colocou a caixinha milagrosa do West de dias atrás em uma cristaleira e ninguém tocava nela.

Passou o resto da vida navegando pela águas calmas da costa brasileira, parando em vários quiosques comprando todos os cigarros que conseguia e destruindo todos. Fez campanhas contra o tabaco e teve muitos seguidores. Seu slogan era: "o cigarro pode matar ou destruir você". Mas no fundo sabia que por causa dele, sua vida tinha apenas começado, sem hora certa para parar.
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