Fazia nove dias que o grupo de alunos da faculdade de historia da PUC-SP estava no Cairo, Egito, trabalhando nas escavações de uma importante relíquia que era procurada desde o século dezesseis. Após alguns acordos entre as embaixadas egípcia e brasileira, os pesquisadores entraram em ação e agora estavam localizados nas ruínas de uma antiga civilização.
Dalton era o líder, o único que falava francês, e estava acompanhado de Márcia, Dora e Ronaldo. Há horas não viam a luz do sol, estavam muito profundamente abaixo do solo sendo guiados pela coragem e pela forte luz das lanternas, enquanto o séqüito de egípcios recrutados para ajudar com o transporte e carga aguardava em dois jipes, em meio ao escaldante sol do meio-dia e a interminável chuva de areia.
O grupo encontrou uma clareira entre as poderosas paredes rochosas da gruta. Lá dentro, um enorme salão tipicamente egípcio com inscrições e desenhos que Dora teve bastante dificuldade em decifrar. Os artefatos encontrados eram os mais diversos: pontas de lanças, pratos, o que parecia ser fragmentos de um copo rústico e um sem número de objetos que levariam tempo para serem datados.
E ali, no fundo da cripta estava o jarro, quase imperceptível, escondido entre o pó e ossos de algum antigo habitante. Com extremo cuidado e perícia de um profissional, Danton removeu o jarro de barro tampado e com sua abertura lacrada por cordas. Com um canivete suíço ele conseguiu com cautela romper as amarras e destampara o pote. O objeto estava frio e úmido, apesar do solo quente. Todos suavam e quando a luz penetrou o interior do jarro, um líquido vermelho, pegajoso e viscoso fez todos se sobressaltarem.
- Parece sangue – disse Márcia.
- Com certeza é sangue – Ronaldo falou após tocar o líquido com a ponta dos dedos.
- Meu Deus, que cheiro horrível – Dora exclamou, depois que o odor nauseabundo tomou conta de suas narinas.
- Tem mais alguém aqui – Danton disse. Um estranho barulho fez com que todos se alarmassem e vasculhassem o interior da cripta com as lanternas, mas não conseguiam ver forma alguma.
Logo ouviam os pios, os chiados do que parecia ser um ataque maciço de ratos. Talvez morcegos. Um enorme rato despencou sobre os cabelos de Márcia, que gritava em pânico e na loucura para se livrar do terrível animal, bateu o cotovelo esquerdo no jarro que rodopiou e caiu de onde estava. Não se quebrou porque estava sobre uma pedra baixa, lisa, bem perto do chão.
O sangue escorreu pelo chão empoeirado e logo tiveram que sair dali, pois os ratos correram na direção do sangue. Finalmente conseguiram encontrar a saída da gruta, mas não viam a claridade solar. O céu estava completamente tomado por escuras e pesadas nuvens de chuva por onde quer que seus olhos alcançassem.
Os guias egípcios desapareceram e enquanto Dalton tentava pegar o rádio comunicador no bolso da calça, o chão tremeu sob os seus pés. Um forte terremoto fez todos se deitarem no chão. No rádio só havia estática. Tentou o celular. Não havia sinal.
- Meu Deus o que fizemos? – gritava Márcia.
- Eu não sei, mas teve algo a ver com aquele jarro – gritou Dalton.
Repentinamente o terremoto cessou. O céu estava cada vez mais negro, e agora a chuva caía pesada e intermitente, como confetes no carnaval do diabo.
- Vamos nos abrigar dentro da gruta – Dora disse e correu para dentro, seguida pelo restante do grupo.
- Existem registros de uma antiga civilização egípcia adoradora do sol e que faziam rituais, sacrifícios, muitas vezes de humanos, e para que sua colheita e equilíbrio de vida fossem restaurados, eram sacrificadas mulheres, adolescentes virgens para aplacar a fúria das antigas deidades egípcias – Dalton falava enquanto todos prestavam atenção.
- Acha que aquele sangue tenha sido oferta a algum deus egípcio? – Ronaldo perguntou.
- Acho – Dalton disse – e se for, estaremos completamente perdidos.
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