O crime quase perfeito - Vol. 3 - por Handerson Pessoa

O senhor Sinclair, quarenta e três anos, após um café forte e certo que Al, seu gato estava longe da suas revistas ouviu um barulho na porta e sabia que a revista Year's Book de novembro havia sido atirada contra a sua porta. Abriu novamente na página trinta e oito da mesma forma que havia feito algum tempo atrás e contemplou o seu nome na posição vinte e sete. Estivera antes na posição duzentos e agora dera um grande salto.
A algum tempo atrás também vendera sua casa, sua decadente e inoperante gráfica e editora Ocean por novecentos mil dólares. Uma bagatela, ele dizia. Pegou seus cento e oitenta mil dólares e agora estava milionário. Deixou o dinheiro guardado em um banco onde rendia vinte por cento ao ano no nome de Thomas L. Jackson, seu nome verdadeiro. Três meses depois comprou uma casa modesta na cidadezinha de Kanton onde morou tranquilamente até aquela manhã.
O senhor Gerald Manson jurou que mataria Ralph Sinclair onde quer que ele estivesse, desde que o encontrasse. Comprou uma arma e não saía de casa sem ela. E após os pedidos constantes da senhora Claire Manson, ele levou a mulher e os dois filhos para uma viagem de dez dias para a Flórida.
Sinclair estava m seu carro, um Fox 86, tamborilando os dedos no volante cantando uma música country que tocava na única rádio da cidade. Parou no farol enquanto via os pedestres atravessarem a rua. Foi quando Gerald Manson apareceu.
A princípio Sinclair não o viu. Estava com os olhos fechados cantando um refrão, mas quando Gerald o viu, parou na faixa de pedestres e fixou os olhos para ver se era mesmo quem ele pensava que era. O farol ainda estava fechado, Sinclair abriu os olhos, arregalou-os, prendeu a respiração e abaixou o volume do rádio. Ainda teve tempo de ouviu Gerald murmurar: "Filho da puta".
O movimento seguinte dos dois foi rápido e rasteiro e ambos com a mão direita. Sinclair engatou a primeira marcha enquanto Gerald sacava a arma. O Fox branco atingiu o homem com a arma e o jogou para o alto e para a esquerda. Com o fluxo dos veículos rurais naquela manhã de domingo Sinclair perdeu o controle do carro, foi tocado por um trator e bateu num poste.
A senhora Claire, percebendo o movimento e o barulho, entrou no carro no momento que vi a o marido ser jogado para cima e foi ao seu encontro. Parou o carro a poucos centímetros de Gerald, e ao ver que estava vivo, o ajudou a entrar pela porta direita. Seu joelho esquerdo estava arruinado. Claire não sabia que o marido tinha uma arma e muito menos que andava com ela.
A fumaça saía do capô do Fox destruído. Claire e Gerald saíram às derrapadas, o poste iria ceder. E cedeu. Caiu sobre o Fox de Sinclair. A explosão foi ouvida de longe. As crianças choravam no banco de trás. A única viatura da pacata cidadezinha patrulhava uma rua distante dali.
E assim Sinclair foi definitivamente aposentado no mesmo dia que comemorou seu triunfo ao ver seu nome pela segunda vez na lista dos mais famosos escritores.
Gerald e Claire abortaram a viagem e voltaram. Ela e as crianças para casa. Ele para o hospital. No caminho, ela berrou com o marido: "Você sabe que eu odeio armas". Estavam próximo a um campo onde uma ave de rapina atacava ferozmente um animal morto. Parecia um boi. "Desculpe querida, não preciso mais dela", e jogou pela janela o revólver.
A ave se agitou e foi conferir o que era aquele barulho. Ao sentir o cheiro de pólvora e vendo que não havia alimento algum, a ave bateu asas e voou.


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