O livro dos dias

Já haviam se passado alguns dias do meu aniversário de vinte e sete anos. Sou do signo de aquário, primeiro dia, vinte e um de janeiro. E como bom aquariano teimoso, resolvi me dar um presente. Uma viagem. O problema era saber para onde. Eu ainda morava em São Paulo e num dos intervalos das minhas aulas eu abri o Google Earth. Para quem não conhece, o Google Earth é um programa onde podemos ver a terra atraves de imagens de satélites. Fiquei ali, simplesmente viajando por lugares que tenho facinação de conhecer. Primeiro eu “voei” para Oslo, na Noruega, depois para Estocolmo, na Dinamarca e fiquei por aquela região mais nórdica da Europa. E então eu encontrei.
Eu já estava no leste europeu, em Praga na República Checa quando pensei em voltar um pouco mais. Foi quando vi um país, Islândia (Iceland). Dei um “zoom” e encontrei a capital, Reykjavik. É a cidade mais linda do mundo. Um dia eu irei morar lá. Comecei a pesquisar sobre a cidade no site Wikipedia.org. Descobri que no inverno os dias só duram quatro horas e no verão as noites não existem. Aprendi sobre os gêisers e sobre bárbaros. Eram centenas de novas informações mas uma em especial me chamou a atenção. (É impressionante a riqueza de conteudo informativo que encontramos online!)
O que me chamou a atenção foi o fato de os islandeses levarem muito a sério as suas origens. As pessoas tem uma verdadeira obsessão por árvores genealógicas. Existem pessoas que montam suas árvores que os levam de volta no tempo por muitos e muitos anos, vários séculos. Pode-se saber muito sobre uma pessoa apenas pela sua árvore genealógica. O futuro islandês é sempre uma consequência das pontes do passado.
É verdade que aqui no nosso país não damos talvez a importância adequada às nossas árvores genealógicas. Mas deveriamos levar em consideração um aspecto: daqui a alguns anos (ou centenas deles!) o que a árvore genealógica dos nossos decendentes dirá a respeito deles, uma vez que fazemos parte dos seus moldes comportamentais? O que estamos fazendo da nossa existência passageira será lembrado futuramente como algo positivo ou negativo?
Talvez seja a hora certa de colocarmos nossa mente no “neutro” para fazermos um balanço, uma auto-análise da nossa vida. E em seguida engatar uma marcha mais forte ou debreamos um pouco. Nosso sucesso ou fracasso futuros dependerá em muito das escolhas que fazemos agora no presente. O que vamos escolher? A inércia, o movimento acelerativo ou o retrógrado?
Por causa da minha profissão, tenho contato com centenas de pessoas. E por diversas vezes, ouço tanto de amigos quanto de meus colegas, expressões de dúvidas. Alguns querem viajar mas tem medo de serem pegos pela imigração e serem deportados de volta e terem vergonha de olhar para os outros por causa da tentativa fracassada.
Outros não se esforçam muito pelo medo de não terem o reconhecimento que acham que devem ter. outros fazem desenhos maravilhosos e rasgam a folha porque não levam a sério o seu talento. E agindo assim, privam os outros de conhecerem um mundo de sabedoria, imagens, experiências e histórias que ficarão guardadas em gavetas ou apenas no fundo de suas mentes.
É preciso deixar fluir toda essa corrente de construtivismo que há no interior de cada um. Como disse certa vez o cartunista Charles Schulz: “não devemos deixar nossos talentos para o cemitério.” É preciso fazer a diferença. Talvez nunca iremos saber, mas nosso esforço de hoje poderá resultar em algo memorável amanhã. Ou depois de amanhã.
Meus amigos, é hora de acordar. Não podemos mais permanecer em estado de hibernação. Quem hiberna são os ursos, e muitos deles já estao em extinção. Enquanto estivermos no modo “stand by” sabem o que acontecerá? Isso mesmo. Nada. Se esperarmos as condições favoráveis para só então fazermos as coisas acontecerem, estaremos desperdiçando nosso tempo. Estaremos vivendo em função dos devaneios que nossas mentes criam.
Por sermos criaturas materiais, temos a terrível limitação de tempo e espaço. Nossos relógios correm em apenas uma direção. Se fôssemos seres angélicos teríamos todo o tempo do mundo para voltarmos alguns anos e consertarmos as falhas do passado ou nos permiritmos algumas boas surpresas no futuro.
Mas infelizmente não podemos atender a essas vontades. Não é possivel alterarmos o passado, mas devemos sempre nos lembrar de que amanhã será uma página em branco, onde podemos sempre escrever novas linhnas do nosso destino. Como disse Cazuza: “O tempo não pára.” Por isso, quando acordamos e nos olharmos no espelho, o que veremos? Veremos uma pessoa que está escrevendo cada página da sua existencia no livro dos dias de forma que fique bem legivel para nós mesmos e para os outros tanto agora quanto no futuro? Ou estaremos apenas fazendo rabiscos sem sentido?
Meus amigos pensem nisso. Essa é a mensagem de reflexão dessa semana. Será que estamos construindo um alicerce firme ou estamos apenas criando sobre a areia? É preciso desenvolver idéias, coisas que sejam duradouras, genuínas, sólidas. Devem ser feitas para durar. O mundo precisa de todos nós. Por isso, deixe brilhar a sua luz. Mas não apague a dos outros.

PS.: A viagem não chegou ainda. Meu presente está em desenvolvimento, mas certamente um dia não muito distante deixarei meu legado em Reykjavik, e quem sabe no mundo todo.

1 comentários:

Ainda vou ler seu Blog com mais calma, mas adimiro a sua cultura.

Abraço.
Thierry

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