O Funk e a decadência brasileira

Uma crônica sobre o estilo musical que tomou conta do país.

Valeu Galera

É amigos, mais um ano se passou. Chegou e se foi tão rápido que mal conseguimos alcançar. Foi um ano de muitas perdas e muitos ganhos. E é só naqueles balanços que fazemos em todos os finais de ano que percebemos o quanto ganhamos e o quanto deixamos de ganhar. É verdade, não foi um ano muito fácil, mas se tivesse sido, talvez não teria tido tanta graça.Nesse ano que está nos segundos finais aprendemos muita coisa. Aprendemos que devemos dar sempre valor a quem nos apoiou e não desistiu. Aprendemos a ter consciência social quando as tragédias naturais...

Parceiros da vida - Parte III

Tenho memória fotográfica. Se vejo uma vez, jamais esqueço um rosto. Foi assim que o reconheci. Mas preferiria jamais tê-lo visto.Estávamos outra vez na Liberdade. Eu estava ansioso para chegar logo na Praça da Sé. Já havia se passado uma semana desde aquela noite insólita quando eu peguei aquele bebê nos braços. No fundo eu estava torcendo para que aquela mãe estivesse de novo por lá. Eu havia comprado um fardo grande com fraldas e havia conseguido alguns sacos de leite em pó, para o caso de encontrar...

Parceiros da Vida – Parte 2

São Paulo. Sete de dezembro de 2008. Meia noite e cinco. Enquanto parte da cidade dorme, e outra se diverte estamos de novo em nossa missão. Mari teve gripe e não pôde vir nesta noite. Mas nosso trabalho tem que continuar. É meu segundo final de semana como voluntário na Missão Redentor.De tudo que vejo e sinto, só há uma coisa que acho que não consigo suportar: os cheiros. Cheiro de cobertor velho, molhado e seboso. Cheiro de roupa suja, impermeável que há anos não sente o toque de água com sabão....

Parceiros da Vida

Somos cinco. Marta, Francisco, Mari, Amauri e eu. Nos finais de semana às nove da noite, enquanto a cidade se prepara para as baladas intermináveis, nós nos reunimos para uma curta oração. Depois saímos, agradecidos pela proteção divina.Foi a minha primeira vez, meu primeiro sábado como voluntário. Nossa primeira parada foi na rua Condessa de São Joaquim, no bairro da Liberdade, onde uma fila nos esperava lá fora. Somos uma equipe. Somos os parceiros da vida. Alimentamos os pobres, aquecemos os...

O caso Burke

Tudo começou quando ela foi encontrada numa rodovia, morta. Ou será que foi aí que as coisas começaram a acontecer? O que é pior? Lamentar-se por uma coisa que fez? Ou por uma que deixou de fazer?Eu jamais havia faldo com alguém de fora do país. Até aquela manhã de segunda-feira. Eram oito e quarenta e quando meu celular indicou aquele número estranho, composto apenas de zeros, eu atendi no mesmo instante. Já havíamos nos falado algumas vezes, mas sempre eram conversas via internet, apenas texto. Nenhuma voz até então.Meu inglês estava completamente...

Caminhos de Santo Amaro

Toda quinta-feira a noite a Sra. Elizabeth Coelho se arrumava e saía para gastar parte da sua fortuna herdada de seu marido, o ex-coronel Moacir Ramalho Valente, em um bingo de Santo Amaro. Seu marido a havia deixado, com uma conta gorda a render juros no banco, quase tão gorda quanto ela.Colocava seu vestido branco com flores em rosa, prendia seus cabelos loiros acinzentados pela idade, e usava sua melhor maquiagem, todas as vezes que ia jogar. "É para dar sorte", costumava dizer quando questionada por que se vestia daquela maneira. Os anos haviam...

Lost & Found

Eu estava em casa, terminando de ler “O vencedor está só”, do Paulo Coelho. Sou um apaixonado por livros, principalmente aqueles que contam as minhas histórias. Igor, o personagem principal perde a mulher da sua vida porque estava tão envolvido com trabalho, tão preocupado em vencer e ser alguém na vida (coisa que ele já era) que acaba deixando de viver o que é mais importante na vida: o seu amor.Quando se dá conta de sua perda irreparável, começa a mandar mensagens para sua amada. Mas tenta uma...

Onze Minutos - por Paulo Coelho

Era uma vez um pássaro. Adornado com um par de asas perfeitas e plumas reluzentes, coloridas e maravilhosas. Enfim, um animal feito para voar livre e solto no céu, alegrar quem o observasse.Um dia, uma mulher viu este pássaro e se apaixonou por ele. Ficou olhando o seu vôo com a boca aberta de espanto, o coração batendo mais rápido, os olhos brilhando de emoção. Convidou-o para voar com ela, e os dois viajaram pelo céu em completa harmonia. Ela admirava, venerava, celebrava o pássaro.Mas então pensou: talvez ele queira conhecer algumas montanhas...

Os gritos do meu silêncio - Parte II

Comecei a ter meus sonhos de família desde muito cedo. Desde pequeno observava o que para mim sempre me pareceu correto. Amei e invejei o casamento dos meus avós paternos. Dela, o primeiro. Dele, o segundo. Quarenta anos juntos, três filhos e um cuidado extremo um com o outro. E eu dizia: “quero que comigo seja assim”. Os três filhos: meu pai, tia e tio, seguiram na mesma direção. Meus pais, quase trinta anos juntos sem jamais se separarem, aos trancos e barrancos, mas sempre ali, juntos até que a morte os separe. Minha tia também, até que a morte...

A árvore de Chiara

Um dia contaram a Chiara que tudo que quisesse se tornaria realidade se ela anotasse tudo em uma lista e colocasse essa mesma lista em um local onde estivesse sempre à vista para estar sempre lembrando. Ela tinha quatorze anos quando começou a planejar. E anotou. Planejou. Imaginou tudo, dia após dia. E nada. Aos dezessete anos apenas dois itens da lista haviam se cumprido. E Chiara então ficou muito triste por tudo que não havia acontecido.Num dia de muita chuva e sol ao mesmo tempo, Chiara saiu água abaixo e no quintal de sua casa abriu um pequeno...

Crossroads

Foi então que aconteceu que num final de tarde de sábado, não me lembro o mês, mas o ano era dois mil e seis, que estávamos saindo do trabalho, o Gabriel e eu, e estávamos descendo a Rua João Cachoeira no Itaim Bibi, em direção ao Extra, aquele que fica no cruzamento da Leopoldo Magalhães aqui em São Paulo. Caprichosamente o carro não pegou. O Gabriel garantiu que tinha abastecido na noite anterior. Tentamos de tudo. Empurramos o carro, balançamos e nada. Tivemos que ligar para a seguradora. Enviariam um mecânico em no máximo quarenta minutos.O...

O amor é cego (surdo, mudo e burro)

Do diário de Kevin, meu amigo imaginário, numa vez que esqueceu uma página em minha casa:Eu já havia ultrapassado meu limite a tanto tempo que nem me lembrava mais de como ele era. Depois de dar o coração, a alma, a família e os filhos eu estava quase disposto a dar a vida também. Quase. Espera aí. Eu disse amor? Sim eu disse. Mas será que o amor além de cego também é burro? Quem em sã consciência troca uma valise com tanto dinheiro vivo por um cheque ao portador com uma assinatura rebuscada e data incorreta? Eu troquei. Deve estar aí a resposta...

Destinos

Foi chegando de mansinhoPouco a pouco tomando conta do meu peitoCom seu olhar cheio de carinhoAssaltando meu coração com seu jeitoMe acolhendo em seu ninhoE diante de tanta ternura e belezaNão pude resistirA um sentimento de tamanha nobrezaEra impossível agora fingirQue eu não iria te amar com tanta certezaHoje sou escravo do seu amorApaixonado irreversívelAmante, livre, livre de toda dorMais feliz é impossívelPois fui tomado pelo seu calorE meu coração antes sem donoHoje pulsa, vibra e cantaTe esquecer um só momento? Não há como.Pois minha alma...

Como se fosse a primeira vez

Eu não estava preparado para o que iria acontecer naqueles próximos dez minutos. Definitivamente não estava. E quando a porta do elevador se abriu e eu vi os olhos mais amendoados desse mundo, senti minha resistência ir a nocaute, chão abaixo. E quando ela entrou e disse “boa noite”, sinos tocaram em algum lugar e aquele cheiro me despertou. Um cheiro doce, cheiro de paixão. Fiquei completamente sem ação e mal consegui responder. Pela ponta do fichário que ela leva, posso ver seu nome. Deve trabalhar...

Delerium

Já não sei o que mais me perturba, se é quando ela está perto e me faz viver, ou quando está longe e me faz imaginar e sonhar. Já perdi a conta das noites acordado com sua imagem tão gravada no meu pensamento e seu nome sussurrado na dimensão do meu quarto, pairando por cima de uma aura de magia e mistério que insiste em ficar. Desejo contido, incontrolável e reprimido, preso dentro de mim mesmo, gritando em silêncio para sair, como um pássaro em uma gaiola, abrindo suas asas sem poder voar. Desejo. Vontade. Frutos da minha imaginação delirante...

Do outro lado

Eu não sabia se deveria abrir os olhos naquele momento, mas sei que ela estava ali. Do meu lado, em pé ao redor da cama a me olhar. Olhando com aqueles olhos verdes faiscando íons energizados, gritando alguma coisa que eu não ouvia. Não a vi, mas tenho certeza que senti seu toque. Toque não. Presença. Arrepio, vento gelado que sobe pelas pernas e alcança a nuca, eriçando cada centímetro do meu corpo. Quero abrir os olhos, mas tenho medo do que talvez veja. Não sei se ela estará como da última vez que a vi, inteira, ou se estará como morreu, em...

Angelicus

Seu primeiro presente foi um nome de anjo: Anyel. Amava o próprio nome tanto quanto a si mesma. Nome de anjo, beleza de anjo, ternura de anjo. Agora lhe faltavam as asas tão somente. Asas aladas para poder voar, para sombrear e para proteger. Para aconchegar, amparar e abraçar. E as asas começaram a aparecer numa tarde quente pouco depois que seus pais se separaram. A desilusão, a frustração e a sensação de impotência ante aquela cena da qual jamais se esqueceria, faria parte da sua vida angélica para sempre. No começo, ela quase não percebeu....

Os gritos do meu silêncio

Quando eu era criança sempre sonhei com uma casa com jardim, um cachorro branco pintado de marrom claro, filhos bonitos e cheios de amor, uma mulher que eu amasse de verdade e um emprego aonde eu chegasse em casa às sete da noite quando depois de uma dança (ou várias), iríamos jantar, jogar conversa fora e depois dormir e sonhar em fazer tudo outra vez amanhã. A infância passou, a adolescência chegou e se foi com a velocidade de um raio e finalmente a fase adulta me alcançou. Mas nem as pressões, as contas a pagar e muita coisa a esperar me fizeram...

O que a gente não disse - por Lya Luft

Eu não estava preparada. Nem quando parava para pensar na vida tinha imaginado aquilo. E não era muito de pensar na vida. Apenas cumpri minhas tarefas, e sei que fui uma boa mulher para meu marido.Quando me virei, esperava vê-lo andando em direção ao carro para mais um dia de rotina. Nem sei por que me virei. Ele era a criatura mais próxima e mais comum na minha vida comum, e eu não esperava nenhuma surpresa. Tínhamos feito isso milhares de vezes, a despedida trivial, cada um seguindo para as suas atividades – também triviais. Mas dessa vez ele...

Perdendo dentes

Brooklyn. São Paulo. Cinco horas e quarenta e dois minutos. Fim de tarde de uma terça-feira pouco movimentada. Os clientes já foram quase todos atendidos (na verdade apenas um apareceu) e agora só resta mais uma alma para ser curada. O último. O derradeiro. O doutor Murilo o observa com atenção. O paciente está lá, tenso como o quê, refestelado na cadeira de dentista esperando pela temida e tremida anestesia quando o doutor irá lhe curar da dor de dente que a tanto tempo o aflige. Doutor Murilo prepara o composto que irá penetrar pela gengiva maltratada...

Caçadores de Emoção - Parte I

Para minha amiga Thais Lopes Lima.......................................................................Já fazia onze anos que o jornal A Voz do Povo esperava por uma novidade. Sempre as mesmas notícias maçantes estavam fazendo o jornal perder leitores e as despesas aumentarem. Durante muito tempo, o jornal foi ameaçado de fechar.O tempo foi se encarregando de promover a dispersão dos funcionários. Quando o senhor Helio Braga iniciou seus empreendimento jornalístico, em meados de 1973, o jornal contava com dezesseis funcionários. Nada mal para...

Page 1 of 4412345Next

Compartilhe

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More