O Funk e a decadência brasileira

Uma crônica sobre o estilo musical que tomou conta do país.

Dormindo com o inimigo

“Avenida Interlagos. Apartamento duzentos e três. Zona sul. São Paulo. Uma e vinte e cinco da manhã. Ele chega em casa cheirando a cerveja. É noite de quarta-feira. O futebol na televisão terminou a pouco tempo. A mulher já está dormindo, mas acorda com a barulhada do marido. Pergunta calmamente onde ele esteve e por que chegou assim tão tarde. Ele não responde. Ela se zanga. Chega perto e puxa-o pelo ombro. Ele não gosta. Não pode ser dominado assim pelo sexo oposto. Precisa mostrar quem é que manda ali. Quem é o dono da situação. Violentamente...

De olhos bem fechados

Eu não sei se eu é que sou burro demais, ou se sou detalhista demais ou sofista demais. Ou se vejo coisas onde não existem, ou se simplesmente faço surgir brechas que talvez só existam na minha imaginação, mas o fato é que de tudo eu aprendi a ver os dois lados. E às vezes me resta a sutileza para escolher um desses lados. É por isso que minhas idéias divergem das exegeses pregadas nas igrejas pela catilinária interpretada de certos pastores. E não é questão de ficar dividido entre o santo e o profano, ou entre o céu e o inferno. Eu apenas não...

Um brinde à (des)inteligência brasileira

Finalmente terminou mais uma eleição que já estava ganha desde o início. Ou será que alguém pensou que a concorrência ainda tinha chance? Não, não tinha. Mudar a política brasileira nessa altura do campeonato abala as estruturas do país, seja ela econômica ou social, ou as duas. Para mudar os mentores da liderança do país é preciso ter inteligência demais, coisa que nosso país não tem. Temos inteligência sim, mas não o suficiente. Nosso redor está ainda contaminado, impregnado e solidificado pela (vamos amenizar aqui) “ingenuidade das classes menos...

Celeuma

E enquanto a tarde se arrasta no pouco frio mas brilhante sol de horário de verão, me encosto na janela olhando o movimento dos carros que vem e vão sem a menor consciência da minha existência. Olho distraído, esperando chegar minha encomenda, mas completamente apartado do resto de todas as coisas. Perdido numa confusão de pensamentos truculentos, outros lascivos e outros que não sei como se chamam. E eu que não sei lidar com sentimentos e pensamentos, fico aqui balançando entre a celeuma do telefone que toca e falácia da esperança que apenas se...

O futuro chegou

Lá atrás, nos anos oitenta, muito conjecturava-se sobre o futuro. "No futuro, os carros poderão voar. As pessoas irão se comunicar por meio de um telefone que pode ser levado para qualquer lugar. As televisões terão cores", e por aí se ia. Aconteceu que um certo dia, no finalzinho de 1990 chegava o tão sonhado celular no Brasil. Depois a banda B. Depois a C. E hoje no meio de tantos iPhones, notebooks avançadíssimos, impressoras que misturam até comida e todas essas traquitanas que fazem parte do nosso dia a dia, poderíamos nos perguntar: "Aquele...

Povo de Sucupira

Eu confesso que nunca me interessei por política até algum tempo atrás, mesmo vendo os absurdos eleição após eleição. E sempre fui contra a questão do voto obrigatório. Para mim deveria votar quem quisesse, e/ou fizesse questão. Aliás, voto poderia ser feito via internet. Ou através do pessoal do IBGE com aquelas maquininhas ultra modernas que fizeram o recenseamento. Camarada marcou o candidato, colocou o polegar ali e pronto. O voto estaria computado. Seria muito melhor, assim quem não sabe escrever não precisaria assinar.  Em dia de eleição...

Autofagia virtual

Há dez anos atrás quando a Internet começou a fazer mais sucesso e quando naqueles idos as telas dos computadores eram de quatorze polegadas, nos divertíamos pesquisando, vendo sites que piscavam luzinhas divertidas, e tudo parecia novinho em folha. Não existiam celulares com câmeras, nem redes sociais. Banda larga então? Só para os super riquinhos. Nós os super pobrinhos nos deliciávamos com as migalhas da Internet discada. Mas isso não alterava o nosso humor, pelo menos não para pior. Naquele tempo, marcar um encontro pela Internet era dar um...

Etéreo

Depois que voltei das férias este ano, tenho sentido constantemente a sensação de que minha alma tomou dúzias de latinhas de Red Bull ganhou asas e voou para bem longe daqui. O corpo ficou. Desnorteado, vagando lento, vagabundeando e zumbizando direções desordenadas, desgovernadas e intempestivas. Durmo muito tarde, e acordo muito tarde com a impressão que o tempo não passou. Sonhos abstratos e confusos. E minha cama parece me prender com todos os tentáculos possíveis e imagináveis, como que implorando que eu não a deixe. Mas eu preciso. Preciso...

Impossível

Impossível pensar no mar e não imaginar solidão. Impossível sentir o cheiro de protetor solar e não lembrar Balneário Camboriú. Impossível pensar em jornalismo (meu sonho) e não lembrar da Aryane Canuto. Impossível pensar em abraço apertado e não lembrar do meu filho Ariel. Impossível ouvir Cássia Eller cantando Malandragem e não lembrar da Andrea Santana cantando bem alto no volante enquanto viajamos pela Rodovia dos Bandeirantes. Impossível ver um parapente no céu e não lembrar de São Vicente. Impossível pensar em inteligência e não lembrar do...

Momento Leila

Eu fiz questão de vir aqui dar o meu depoimento, porque eu já estou de saco cheio das pessoas ficarem criticando meu estilo de vida e as coisas que eu faço. Sabe, eu não tô nem aí pro que os outros pensam, eu acho que se todo mundo cuidar da sua própria vida, vai ser melhor pra todo mundo. Então se eu quiser apagar ou esconder as fotos do meu perfil, isso é problema meu. E se eu quiser mudar o status das minhas redes sociais, ninguém tem nada a ver com isso. Eu não preciso ficar escondendo quem eu sou pra agradar ninguém, eu sou assim e pronto,...

Esquizofrenia - Cap. 6

Era sexta-feira de manhã e eu estava na cozinha fazendo café quando parou o fornecimento de gás. Fui até o lado de fora e abri a portinhola que dá acesso ao gás. Junto ao botijão encontrei diversos frascos de vidro dentro de uma sacola plástica branca. Abri para ver o que tinha. Havia três vidros de veneno para ratos. Me lembrei da minha mulher comentar sobre ratos na vizinhança. Mas por que não havia me falado sobre vidros? Curiosamente peguei um para ler. Para a minha surpresa, num dos frascos além da composição química, havia um componente,...

Esquizofrenia - Cap. 5

Resolvi passar um final de semana na casa dos meus pais, para relaxar um pouco e dar outro pouco de sossego para Silvinha que tanto se esforçava na mantença do meu bem estar. Meus enjôos parecerem se evaporar. Nessa altura do campeonato eu já estava preocupado com o volume de trabalho me esperando na segunda-feira, por isso acessei o computador para ver emails novos. Havia uma tonelada deles. De repente uma idéia inesperada, e se eu procurasse o número 1080 na internet? Estava ciente que os resultados poderiam ser os mais improváveis, mas não...

Esquizofrenia - Cap. 4

Tive mal estar durante toda a semana. Quase sempre a noite, pelo menos no começo. Tudo que comia, voltava. Era domingo e minha sogra apareceu nadando na minha porta. “Você está com uma cara horrível”, foram suas primeiras palavras. “A sua também”, eu disse e me senti feliz por dizer. Minha sogra é uma destas mulheres que abomino. Estufada de comida e gases. Sempre que pode faz questão de jogar na minha cara que a maior besteira que sua filha fez foi se casar comigo, que não tenho dinheiro e que só tenho um mínimo de inteligência, mas que isso não...

Esquizofrenia - Cap. 3

O policial se levanta, abre a garrafa de café e olha no relógio. Está com pressa. Sua pequena devassa está esperando numa esquina da Indianópolis e já está começando a chover. Talvez não seja uma devassa e sim algum homem travestido de mulher, imagino, típico dos comerciantes de corpos daquela região. “Afinal, o que o senhor quer? Dá pra ser mais objetivo? Quem é o senhor afinal?”. O senhor quer respostas tenente, tudo bem, eu vou lhe dar respostas.Sou filho único. Meus pais resolveram me fazer depois de vários passeios pelo mundo e muita grana...

Esquizofrenia - Cap. 2

Numa das vezes que parei para tomar água no refeitório da loja que trabalho ouvi meus colegas rindo de outro colega, o Vilmar. Andava correndo uns rumores que sua mulher estava saindo com outro cara. Os colegas riam e perguntavam o que ele faria se chegasse em casa e descobrisse a verdade. “Pelo menos será que ele olha o celular dela?”, um perguntou e todos caíram na risada. HA HA HA HI HI HI HO HO HO. No começo eu achava engraçado, mas resolvi uma hora dessas fazer aquilo. Fui para casa passando primeiro pela locadora. Aluguei só um filme, afinal,...

Esquizofrenia - Cap. 1

Um copo se espatifa na cozinha. Acordo. Há alguém dentro de casa. Acho que não. O barulho estava dentro do sonho. Eu estava sonhando com a vizinha gostosa da casa ao lado. No sonho ela batia na minha porta com a famosa desculpa da xícara de açúcar. Minha mulher não estava. Perguntei se ela queria entrar, mas ela disse apenas que esperaria na porta. Viro. Caminho quatro passos em direção à cozinha quando percebo o susto. Olho para trás e lá estava a vizinha, faca na mão cravando nas minhas costas. Detesto esse sonho recorrente. Olho para o canto...

No meu lugar

Houve um tempo em que eu achava que toda perda era um desastre. Fim de ano ruim, fim de trabalho chato, fim de namoro. Esses eram chatos pra caramba. E que fim é legal afinal seu Juvenal? Naquele tempo, eu sempre que uma relação que eu gostava mesmo terminava, eu ia pra casa chorar as pitangas, me afundar em litros de lágrimas e vodca, e de joelhos pedir aos céus que por favor fechassem meu coração para que ninguém nunca mais entrasse e deixasse um buraco do tamanho do mundo dentro dele. E daí como que num remake anual da minha vida moribunda,...

Negro amor

Minha pele se arrepia e todo calor do meu corpo, até dos ossos parece ir embora quando vejo jornal. Em pleno sábado de sol forte (bem no meio do inverno) deveríamos ser agraciados por coisas boas e o que vejo é a notícia horripilante de um casal em Ohio que matou o filho a mordidas. Não foi mordida de cachorro ou qualquer outro animal irracional, foram mordidas humanas. Dos próprios pais. O pai já havia sido condenado anteriormente por queimar um bebê com água fervendo. No ano passado uma mãe não contente com a separação ateou fogo nas duas filhas...

A patricinha de Beverly Hills

Um dos grandes problemas das pessoas que alcançam a fama e o sucesso é virar refém de si próprias. Muitos não estão preparados para receber enormes avalanches de dinheiro (e quem estaria?) e acabam literalmente fazendo merda. Muita. E quando o dinheiro acaba por mau uso, já que nessa fase o dinheiro parece nunca acabar, daí é que a baderna fica maior ainda. E os comportamentos muitas vezes chegam às raias da insanidade, ou então do desespero, afinal, os holofotes querem se apagar, mudar de direção, mas muitos artistas fazem tudo e mais um pouco...

O começo do fim

Lá atrás quando o milênio velho terminou e o novo começou, o medo de todo mundo era que esse mesmo mundo fosse acabar num cataclismo apocalíptico enviado pelos céus e que uma horda de anjos comandados por Alá, Buda, Jeová, ou outra divindade viria trazer uma nova ordem de coisas. Mesquitas, igrejas, sinagogas e templos estavam recheados com seus fiéis orando pedindo clemência enquanto outros simplesmente achavam que tudo aquilo não passava de histórias bíblicas de terror, e que o “mal somos nós mesmos”, “diabo só existe na imaginação dos que se...

Laços e embaraços paternos

Há quem diga que o problema social brasileiro se resolve com educação. Você por acaso já deve ter escutado algo parecido com: ”educar os mais jovens é construir o Brasil de amanhã”. “Precisamos construir mais escolas para termos adultos mais qualificados amanhã”, ou “se forem tomadas medidas para elevar o ensino no Brasil teremos um futuro mais promissor amanhã”. Sempre amanhã. Será que não há ninguém pensando no hoje, no agora, no já? Há alguns dias atrás vi num noticiário que é lei incluir educação sexual na grade curricular de jovens e adolescentes....

Pátrio Poder

Está havendo uma disparidade na legislação brasileira. Reza o código civil que a responsabilidade de educação dos filhos compete primeiramente aos pais. Daí o dia de hoje (14 de julho de 2010) mal amanhece e nosso digníssimo presidente encaminha ao congresso um projeto de lei em que os pais não podem mais utilizar castigos físicos em seus filhos. Sou a favor. De acordo com as palavras do presidente “é possível fazer as coisas de forma diferenciada”. Sou a favor. Mas daí ele complementa: “se punição resolvesse o problema o país não teria tanta corrupção;...

Retratos de um Brasil que não funciona

A grande falha no sistema penitenciário brasileiro é talvez a falta de pulso firme de quem comanda. Ou talvez as propinas internas oferecidas pelos presidiários que controlam o tráfico através de celulares, que entram nos presídios escondidos nos lugares mais inimagináveis que se possa haver. E o dinheiro rola a revelia, já que muitas vezes os policiais e carcereiros fazem vista grossa para isso. E isso não é nenhuma novidade, basta assistir televisão no horário jornalístico, ou assistir um filme brasileiro em que é tão retratada essa situação....

Viva a tecnologia

Passados quase dez anos desde que o século vinte e um começou, e a mais de cinco de You Tube, as pessoas já deveriam saber que tudo que “aqui se posta, aqui se paga”. Esta época, é a época da tecnologia, da comunicação, de se dar “aquela espiadinha básica”. É a era das canetas com câmeras embutidas completamente camufladas, e dos programas rastreadores de teclas. Estamos vivendo um movimento de ciber espionagem na frente das telas dos nossos próprios computadores. Não adianta querer “passar despercebido entre os homens”, como disse uma vez José...

Fala sério

Parece que a onda agora é resolver problemas pessoais utilizando os métodos mais bossais e primitivos. Basta ligar a televisão para ser bombardeado pelas barbáries e intempéries que rondam nossos canais, mostrando nossa incapacidade de agirmos como cidadãos evoluídos. Mata-se no Brasil (e no mundo inteiro) pelas razões mais estapafúrdias. A mãe quer provar a paternidade do filho e acaba desaparecida, com histórias que não se coincidem, e seu corpo até agora permanece uma incógnita. A advogada que virou notícia nacional depois de ter sido encontrada...

Verde e amarelo

O grande problema da seleção desde o início, foi lutar contra a desconfiança do torcedor. Todo mundo sabia que o Brasil não levaria a Copa, mas todo mundo fez de conta que acreditava. Pintou as ruas, gastou dinheiro com bandeirinhas e apetrechos para dar uma força para a seleção, mas não funcionou muito. O Brasil é sem dúvida o país com maior dificuldade em escolher os seus representantes no futebol, porque tem um plantel de jogadores bons demais. Daí colocam a culpa no coitado do Felipe Melo. A culpa não é dele, foi tudo um mero azar. Ou talvez...

Vestido curto...curtinho

Talvez nunca nos anais da história deste país, um vestidinho rosa foi tão falado, comentado, filmado, noticiado, popularizado (e acima de tudo ridicularizado). Foi o trampolim para a fama, sucesso e dinheiro, da estudante de turismo, que se queixa agora de ter sido achacada e de acordo com as palavras da própria: “violentada”. A verdade é que tanto faz como tanto fez o uso ou desuso do tal vestidinho. A questão foi a polêmica. Os alunos de um lado achando que aquela não era vestimenta para o lugar. Do outro, a estudante que “inocentemente” colocou...

Sem volta

A aula segue o fluxo que eu imaginava que seria, até que de repente somos surpreendidos por um barulho muito forte, constante e que aumenta cada vez mais. Olho para a porta de vidro e lá fora tem uma babel de pessoas. É impossível conter a curiosidade e vamos todos para a porta ver o que há lá fora que desperta tanta atenção das pessoas. Do alto vem um helicóptero, enorme, branco, preto e vermelho. Águia 4 da polícia militar. O que será que aconteceu? Fernandinho Beira-Mar escapou e veio pra São Paulo? Outra rebelião de presos que conseguiram escapar...

She

Já passa da meia noite e eu não consigo parar de olhar aquelas fotos. Também não me sai da cabeça todos os momentos. Tenho memória fotográfica que quase nunca falha e quando nas raras vezes que falha, o computador se encarrega de fazer funcionar. E enquanto eu ouço “We Just don’t care” em volume máximo (nos meus fones super potentes, para não acordar os vizinhos extremamente chatos) e as fotos rolam soltas pela tela, eu me lembro de tudo. Ela entrando pela sala com jeans e blusa preta, com mochila nas costas, o primeiro toque de mãos, o primeiro...

Previsão do Tempo

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