O Funk e a decadência brasileira

Uma crônica sobre o estilo musical que tomou conta do país.

Alto Controle - por Handerson Pessoa

Como era de costume, pontualmente às sete da noite, o Dr. Sidney Macintosh, advogado e consultor jurídico, pediu sua pizza favorita, atum e aliche, tomou um rápido banho, saiu, vestiu roupas de ginástica embora não fosse fazer exercício algum, entrou em seu laboratório, que ele insistia em chamar de escritório e pegou o controle remoto na segunda gaveta da escrivaninha.A sala de controle era a maior parte do apartamento e agora possuía dez monitores de plasma cada um com trinta e duas polegadas, um monitor para cada apartamento do edifício Garden...

Pretérito Imperfeito - por Handerson Pessoa

Quando o Marcos falou que sua amiga Alessandra tinha terminado com o namorado, o Eliseu não perdeu tempo. Parou na primeira farmácia que viu na sua frente, comprou dez fichas telefônicas e foi tentar a sorte.Respirou fundo, gritou na sua mente: "Gerônimo", colocou o dedo indicador na roleta do telefone, discou o numero do telefone da Alessandra e esperou. Colocou cinco fichas cinzentas no aparelho depois do terceiro toque.- Alô - ela disse- Oi, posso falar com a Alessandra?- É ela.- Alessandra? Meu nome é Eliseu e sou amigo do Marcos.- Ah sim,...

Quando você chegar - um poema por Handerson Pessoa

Quando você chegar é que as estrelas irão brilhar tudo irá se iluminaras flores irão desabrochar os pássaros vão cantarmeu coração descansaráe minha saudade acabaráQuando você chegar eu quero pegar na sua mãoe te levar para onde a emoçãoirá encontrar o seu coração e quando acabar a sua solidãovocê não conseguirá me dizer nãoe me amará mais do que a um irmãoQuando você chegar transformará todo o simples em realeza acabará com a minha tristezatrazendo dentro de si toda a belezaque me fará te amar com toda a certezaQuando você chegareu te levarei...

Encontros e Desencontros - Vol. I - por Handerson Pessoa

As folhas verdes que balançavam do milharal e o céu coberto de nuvens cinza escuro anunciavam a chegada de mais um temporal. Os clarões dos relâmpagos e o ribombar dos trovoes faziam a velha casa da fazenda chacoalhar e de repente, numa forte rajada de vendo, uma das diversas janelas do casarão bateu, estilhaçando os vidros velhos e muito sujos, espalhando cacos por toda a sala.Grossas gotas de chuva açoitavam o telhado que por um milagre não tinha goteiras. Por onde quer que olhasse, nenhuma outra casa estava ao alcance da visão. Kevin e Mariana...

Encontros e Desencontros - Vol. II - por Handerson Pessoa

A mensagem pegou-a completamente desprevenida. Como ele havia conseguido seu e-mail? Por que aquele interesse para que os dois se reencontrassem depois de tanto tempo? Pensou e pensou antes de clicar em Reply e enviar uma mensagem de retorno. Escreveu diversas linhas e acabou apagando todas elas, até que concordou com a proposta oferecida.Quando os dois se viram novamente, agora muitos anos depois daquela viagem, souberam instintivamente que aquela historia vivida dez anos antes não tinha acabado, havia ficado pausada, hibernando, esperando quem...

Encontros e Desencontros - Vol. III - por Handerson Pessoa

Os dois viveram, sem que os outros sequer suspeitassem, todas as aventuras e desventuras que poderia sobrevir a dois corações interligados pelo destino. Transformaram cada dificuldade, cada estágio daquela doença em valiosos momentos de alegria. Mesmo quando Mariana perdeu os cabelos nas seções de quimioterapia, mesmo quando ele se separou da esposa e teve que reaprender a viver sozinho, mas longe dos filhos, mesmo quando Mariana perdeu os movimentos dos braços e pernas se mal conseguia falar. Foi num dos raros momentos de lucidez, que ela abriu...

A Relíquia - Vol. I - por Handerson Pessoa

Fazia nove dias que o grupo de alunos da faculdade de historia da PUC-SP estava no Cairo, Egito, trabalhando nas escavações de uma importante relíquia que era procurada desde o século dezesseis. Após alguns acordos entre as embaixadas egípcia e brasileira, os pesquisadores entraram em ação e agora estavam localizados nas ruínas de uma antiga civilização.Dalton era o líder, o único que falava francês, e estava acompanhado de Márcia, Dora e Ronaldo. Há horas não viam a luz do sol, estavam muito profundamente abaixo do solo sendo guiados pela coragem...

A Relíquia - por Handerson Pessoa - Vol. II

Uma hora se passou e a chuva não cessava. Outra hora se foi, e mais outra. E outra. De onde estavam escondidos era possível ver a saída da gruta, por onde a água entrava às enxurradas. Tudo era visto pela luz das lanternas.- Desliguem as lanternas – Dora falou – não sabemos ainda quanto tempo ficaremos aqui, por isso, pouparemos as baterias. Apenas uma lanterna fica acesa.A temperatura começou a cair muito rapidamente e o vento que entrava parecia querer congelar os pulmões.- Dalton, você que é mais experiente que nós, diga-nos: já se ouviu falar...

Trote - por Handerson Pessoa

Desde moleque o Lucas já tinha começado a aprontar. Na lista das suas traquinagens, a que ocupava o topo era tocar a campainha nos muros alheios e sair correndo. Em segundo lugar era roubar a correspondência de caixas de correio para ler o que não lhe era devido. Juntou pilhas de revistas dos vizinhos que chegavam pelo correio e teve que queimar tudo quando seu pai descobriu.Com o passar do tempo, as brincadeiras eram mais ousadas. Aos quinze anos, apanhava o jornal no trabalho do pai e se concentrava...

Longe demais dos finais - por Handerson Pessoa

Chegou o último dia, e com ele, os últimos momentos. Sou um homem velho, sozinho e odiado, doente, sofrido e cansado de viver. Estou pronto para o depois, seja lá o que for. Deve, sem dúvida, ser melhor do que isso.Sou o dono do apartamento neste bairro luxuoso na qual sacada estou sentado agora. Tenho quatro filhos, um com cada uma das esposas que tive. E agora não sei quem eram os piores. Os filhos ou as ex-esposas? Provavelmente eu.Houve um tempo em que eu tive todos os meus desejos realizados:...

O crime quase perfeito - Vol. 1 - por Handerson Pessoa

Já passava das cinco horas da manhã quando o gato miou, passando os pêlos nas pernas brancas e finas do agora famoso escritor Ralph Sinclair. O nome do gato era Al e o senhor Sinclair tinha por ele um amor quase que de pai para filho, uma vez que o gato era seu companheiro mais próximo. Havia também uma tartaruga e uma samambaia, mas sem dúvida, Al recebia a maior parte da atenção do seu dono.Al colocou as garras para fora e miou ameaçadoramente para um pequeno pássaro que pousou na janela, piando, no momento que aqueles primeiros raios de sol...

O crime quase perfeito - Vol. 2 - por Handerson Pessoa

Nas cartas recebidas pela editora e nos programas de televisão qu Ralph Sinclair participava, a pergunta era a mesma: "Quem ganhou o prêmio?". Nunca houve prêmio algum e agora o boato que circulava era que Ralph Sinclair não passava de uma farsa e ganhava enormes proporções.Geena não estava mais lá, o dinheiro havia acabado e a Ocean agora com um novo máquinario rodou durante semanas a nova obra de Sinclair chamada A incrível batalha dos cabaleiros templários pelas ilhas de Tishman.Para colocar sua obra à venda era preciso um pouco mais de esforço....

O crime quase perfeito - Vol. 3 - por Handerson Pessoa

O senhor Sinclair, quarenta e três anos, após um café forte e certo que Al, seu gato estava longe da suas revistas ouviu um barulho na porta e sabia que a revista Year's Book de novembro havia sido atirada contra a sua porta. Abriu novamente na página trinta e oito da mesma forma que havia feito algum tempo atrás e contemplou o seu nome na posição vinte e sete. Estivera antes na posição duzentos e agora dera um grande salto.A algum tempo atrás também vendera sua casa, sua decadente e inoperante gráfica e editora Ocean por novecentos mil dólares....

A super quarta-feira - por Handerson Pessoa

Edmundo tinha vinte e nove anos e desde os nove fumava intermitentemente, nunca tentando largar o vício mas cuidando para não ficar viciado. Gostava das marcas famosas e sempre preferia as tradicionais. Eram onze e meia da manhã e Edmundo estava preocupado. Haviam apenas outros dois cigarros, nenhum dinheiro no bolso, nem na carteira, nem no banco. Fuçou todos os lugares onde talvez pudesse encontrar algum dinheiro. Cinquenta centavos foi tudo o que achou depois de longos períodos de procura entre...

O pombo atirador de elite - por Handerson Pessoa

A dona Neusa chegava a ser irritante com a sua mania de limpeza. Qualquer cisquinho pelo chão da sua sala limpa e asseada e lá vinha ela com sua vassourinha na mão. Sujeira por menor que fosse no seu carpete? Lá vinha a dona Neusa com uma vassoura de pia sava nas mãos. Não tinha aspirador. Carro então nem se fala. Era impecável. Completamente limpo, nenhum pó. Lavado de três a quatro vezes por semana, aspirado e perfumado. A dona Neusa não podia com bagunça, nem tampouco com sujeira.Participava das reuniões organizada por um grupo de psiquiatras...

A carteira - por Handerson Pessoa

O Fernando estava na área de lazer do shopping, comprando créditos para o seu cartão para as máquinas de fliperama quando o restante dos seus amigos resolveu ir embora. Já estava ali desde as quatro horas da tarde, e cinco horas depois se cansaram dos mesmos jogos. Mas não o Fernando. Lá estava ele de novo naquela moto. Sempre chegava em primeiro, no mínimo um segundo lugar. A carteira incomodava no bolso de trás da sua calça jeans, então ele a colocou perto do painel da máquina, ali perto do lugar onde tinha que passar o cartão.Primeiro lugar...

Serviço de bordo - por Handerson Pessoa

Para o serviço de bordo do vôo BR1021 da BRA, a comissária serviu como de costume um sanduíche de peito de peru, um bolinho com gosto de velho e um copo plástico com refrigerante quente de guaraná que parecia ter sido aberto na tarde do dia anterior. Seu nome era Paula Marques e a sete meses havia entrado para o time das comissárias.Seu trabalho era relativamente fácil. Depois de mostrar como se usavam os equipamentos em caso de falha da aeronave ( o que ela detestava porque parecia uma marionete em um espetáculo onde poucos prestavam atenção),...

O Troco - por Handerson Pessoa

Todo dia de finados chove. Pode reparar. Desde os oito anos de idade eu percebi isso e nos dezenove anos seguintes tem sido assim. É só amanhecer o dia dois de novembro que já começa. Se não for pela manhã é no final da tarde que o pranto sagrado resolve dar o ar da graça.E foi durante uma daquelas intermináveis chuvinhas que minha campainha tocou. Era o Júnior. Pálido, tremento de medo e de frio, com os olhos esbugalhados. Preparei um chá quente enquanto meu amigo tomava um banho e vestia uma das...

A confusão pede carona - por Handerson Pessoa

O seu Gustavo Gomes é o taxista mais famoso do bairro. A dezoito anos se casou com a dona Simone, que é um poço de ciúmes do marido. Esses dias aconteceu uma coisa engraçada. O seu Gustavo tinha acabado de trocar as capas dos bancos do seu táxi. Tudo cinza claro e uma listra vermelha.Todos os dias pontualmente às sete e trinta da noite, o carro do seu Gustavo apontava na esquina. Era um ritual. Durante quinze anos era assim. E aconteceu que naquele fim de tarde, estava ele voltando para casa quando de repente uma moça acena. Quer fazer uma corrida....

Super Choque - por Handerson Pessoa

Já fazia quatro anos que o Tulio corria todos os dias pela manhã. Disposto no início a perder alguns quilinhos acabou gostando da idéia e pontualmente às seis e quinze da manhã lá ia-se ele a correr pelas ruazinhas de pedra do parque Guarapiranga. Numa dessas manhãs, depois de uma noite com uma das tradicionais tempestades paulistanas, Tulio não viu o fio que estava caído, resultado de uma árvore derrubada pelo vento. Quando viu já era tarde. Tentou se desviar mas acabou enfiando o pé numa poça d'água onde estava a ponta do fio. O choque alastrou-se...

Spanish Guitar - por Handerson Pessoa

Depois que todos os convidados se foram, e agora só há a sujeira dos restos de bolo, papéis e pedaços de salgadinhos da festa de trinta anos do Hugo, foi que a Lídia resolveu entregar o presente. Um envelope branco. Dentro há duas passagens para Auckland na Nova Zelândia. Ela sabe que o Hugo tem o desejo ainda não realizado de saltar de Bungee Jump de uma famosa ponte lá. O agradecimento? Um sorriso enorme, um beijo e uma abraço ao som de Tony Braxton cantando Spanish Guitar.Cinco de dezembro. Dez da manhã, horário local. Lídia vê lá de baixo com...

Porta Giratória - por Handerson Pessoa

Só faltavam cinco minutos para as quatro da tarde. E ainda faltavam dois quarteirões para chegar ao banco. Eu corria feito louco. Era véspera de final de semana e eu não podia deixar tudo para depois. Mais dois minutos, mais alguns poucos passos. Pronto. Agora é só passar pela porta giratória e: “Plim”. A maldita porta apitou. Dois seguranças policiais olharam para mim. Um negro enorme, corpulento com a mão direita no coldre. Do outro lado da porta, uma mulher. Era talvez a mulher mais bonita que eu já havia visto em toda a minha vida. Olhou para...

Paparazzi - por Handerson Pessoa

Jornal A Voz do Povo. Três e meia da tarde. Silvia Linhares acaba de entrar na redação com sua teleobjetiva presa por uma fita ao pescoço. Seu traje é tradicional. Jeans azul já bem puído, camiseta básica e o colete cáqui, que já está mais para marrom. Nos bolsos do colete os filmes com as fotos que levará para casa, trabalho extra, cerão. Mas que vai render a primeira página na edição de domingo. Coloca os pés sobre a mesa e relaxa tomando água gelada de uma garrafinha de plástico. Ela preferiria uma cerveja, mas sabe que não pode beber em horário...

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